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Consumo

Frutas e verduras “fora do padrão” são salvas por produtores e comerciantes

Doações, reaproveitamento e novas estratégias impedem que toneladas sigam para o lixo

Por Kamila Alcântara | 02/10/2025 08:50
Frutas e verduras “fora do padrão” são salvas por produtores e comerciantes
Porção de hortaliças prontas para ser temperada e consumida (Foto: Osmar Veiga)

Quanto o senso estético do que é “alimento saudável” contribui para o desperdício? Frutas, verduras e tubérculos são as principais “vítimas” dessa seleção humana nos expositores dos mercados. Para driblar esse julgamento, comerciantes e produtores apostam no reaproveitamento, o que beneficia instituições que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade.

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Produtores e comerciantes de Mato Grosso do Sul desenvolvem estratégias para combater o desperdício de alimentos considerados "fora do padrão" estético. As iniciativas incluem doações para instituições beneficentes e reaproveitamento criativo dos produtos, como processamento de polpas e preparação de porções pré-cortadas. O problema do desperdício é significativo no Brasil, onde cerca de 30% da produção de alimentos é perdida, totalizando 48 milhões de toneladas por ano. Especialistas apontam que menos de 15% desse volume seria suficiente para acabar com a fome no país, que afeta aproximadamente 300 mil pessoas apenas em Mato Grosso do Sul.

De acordo com o último levantamento da ONG (Organização Não Governamental) Pacto Contra a Fome, cerca de 300 mil pessoas enfrentam a fome em Mato Grosso do Sul. No Brasil, quase 30% da produção de alimentos é desperdiçada, o que corresponde a 48 milhões de toneladas por ano. Para acabar com a fome no país em 2022, por exemplo, seriam necessários entre 4,4 e 7,3 milhões de toneladas. Ou seja, menos de 15% do que se perde na cadeia produtiva seria suficiente para alimentar todos os brasileiros em situação de fome.

Acompanhado do vira-lata Juninho, Cézar Macedo, 60 anos, colhe com as mãos as tiriricas que crescem no meio da plantação de alfaces. Sem agrotóxicos ou produtos químicos para manutenção, a horta dele fica na Rua Nicomedes Vieira de Rezende, no bairro Vilas Boas, em Campo Grande. Ele vê exagero no desperdício e defende mais conscientização.

Frutas e verduras “fora do padrão” são salvas por produtores e comerciantes
Cézar Macedo trabalha em uma plantação de alfaces, sem uso de produtos químicos (Foto: Osmar Veiga)

“É realmente um exagero. A gente aprende a produzir apenas o que vai vender, mas, no fim, as pessoas ainda desperdiçam. Aqui, quando sobra, fazemos doação para as instituições de acolhimento da região, porque, juntas, elas conseguem aproveitar melhor”, afirma o produtor.

Do outro lado da rua, o trabalhador Carlos Henrique dos Santos, 44 anos, caminha entre as couves. Um trecho da plantação ainda está germinando, pois foi recentemente destinado à doação.

“Quando a gente vê que vai sobrar, meu patrão liga para o pessoal das ONGs, que vem aqui e colhe fresquinho do pé. Depois que eles levam, abre espaço para eu plantar de novo. É assim que trabalhamos há anos e nada é perdido”, garante Carlos.

Frutas e verduras “fora do padrão” são salvas por produtores e comerciantes
Trabalhador Carlos Henrique caminha entre a plantação de couve (Foto: Osmar Veiga)

Luiz Carlos Gonçalves, 50 anos, trabalha em uma das instituições que recebem doações de hortaliças. No abrigo para crianças, a valorização do alimento faz parte dos ensinamentos do dia a dia.

“Cozinhamos como qualquer casa familiar; a diferença é que multiplicamos por 24. Somos uma instituição sem fins lucrativos que depende de parceiros públicos e privados. Essas doações são importantes para a manutenção e também para os ensinamentos e valores passados às crianças aqui”, ressalta Luiz.

Estética e estratégia - Em frente à Ceasa/MS (Centrais de Abastecimento de Mato Grosso do Sul), na Rua Jamil Basmage, a família de Andréa Jaqueline Ribeiro trabalha com a venda de frutas e hortaliças há mais de 20 anos. Mesmo fazendo compras diárias, ela observa que essa estratégia não basta, porque o consumidor começa pela estética do produto, mesmo quando é orgânico.

Frutas e verduras “fora do padrão” são salvas por produtores e comerciantes
Expositor de verduras e legumes porcionados para consumo facilitado (Foto: Osmar Veiga)

“As pessoas compram com os olhos; se tem uma manchinha na casca, já não querem levar. Entendo que todos têm direito de comprar o que está em melhor qualidade, mas, às vezes, o próprio transporte já machuca a mercadoria antes de chegar aqui”, explica a empresária.

Para não perder, tomates são separados para restaurantes que fazem molho; frutas com avarias na casca são cortadas e congeladas para sucos; legumes são separados em porções para sopas ou cozidos. Descascar, cortar e embalar porções para comercialização facilitada foi a estratégia encontrada.

“O maracujá é um bom exemplo: os de casca mais feia são os melhores, com mais polpa. Parei de perder quando separei as polpas para vender. Hoje é o que mais sai congelado”, completa Andréa. Por lá, ainda que sobre, os próprios funcionários levam para casa ou uma instituição que trabalha com dependentes químicos recebe os alimentos.

Frutas e verduras “fora do padrão” são salvas por produtores e comerciantes
Andréa Jaqueline mostra a geladeiras com as frutas cortadas e congeladas para sucos (Foto: Osmar Veiga)

Segundo especialistas do Pacto Contra a Fome, o problema não é falta de produção, mas desigualdade, má gestão, falhas de logística e ausência de políticas públicas eficientes. O desperdício aprofunda a fome porque concentra recursos em quem já tem acesso, enquanto os mais vulneráveis ficam sem meios para alcançar os alimentos.

Em Campo Grande, quem deseja doar alimentos pode procurar o FAC (Fundo de Apoio à Comunidade), que orienta sobre a melhor destinação. O telefone é (67) 2020-1361. O atendimento presencial, em horário comercial, ocorre na Avenida Fábio Zahran, 600.

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