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Diversão

Dona do Bar da Madah desiste de brigar por causa de som e anuncia fechamento

Elverson Cardozo | 27/06/2014 06:24
Bar fica lotado aos sábados. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Bar fica lotado aos sábados. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Um dos locais mais conhecidos e tradicionais de Campo Grande, o bar da Madah, na Vila Carvalho, deve fechar as portas em breve. Sem data prevista para encerrar as atividades de vez, a primeira certeza é o fim da feijoada aos sábados, sabor que deu fama ao lugar. A decisão foi tomada pela dona, Renata Christóforo. “Nós cansamos. Eu perdi o fôlego. Vou levar multa em cima de multa”?, questiona.

Desde 2013, ela trava uma batalha contra a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) e o Ministério Público de Mato Grosso do Sul, que investiga denúncia de poluição sonora.

Elogiado pela feijoada, o bar também ficou conhecido pela música ao vivo, o samba do lado de fora, nos saraus de sábado. A antiga dona, Madalena Epifânia, nunca teve problemas, mas com Renata, que assumiu a direção há mais de 5 anos, não foi a mesma coisa.

Depois da “reclamação” de um morador, a Prefeitura, por meio da Semadur, começou a “pegar no pé”, conta. Proibiu as apresentações – que sempre aconteceram uma vez por semana, das 12h às 18h – e exigiu adequações para emissão da licença.

Renata entrou na justiça, conseguiu continuar com o som por força de liminar, mas a decisão foi derrubada e, agora, ela não quer mais tentar. A empresária acusa o município de não cumprir a alterações da Lei do Silêncio, sancionada este ano.

O texto estabelece, entre outras coisas, que “música, arte e cultura não serão consideradas ruído.” Teoricamente, isso garantiria as apresentações musicais no bar. O problema é que a conquista, segundo ela, ficou só no papel.

“Eles falam que essa alteração, esse adendo, é muito discutível. Não houve um reconhecimento. Querem que eu faça um tratamento acústico, mas aqui fora? Existe isso? Aqui é um bairro comercial. Não é residencial”, reclama.

Renata está indignada com a situação, mas não tem mais forças para lutar. (Foto: Marcelo Victor)
Renata está indignada com a situação, mas não tem mais forças para lutar. (Foto: Marcelo Victor)

Despedida - A única saída foi desistir. A situação revolta a proprietária, que desabafa: “Só comigo esse ponto de cultura tem 5 anos e meio e agora eu me pergunto: o que vou fazer aos sábados? Aonde as pessoas vão comer uma boa feijoada? Aonde os músicos vão achar um sarau desse nível? E os meus funcionários que vão ficar desempregados? Eu tenho quatro funcionários que são fixos, registrados, e os freelancer? É um desabafo sim. É um desabafo porque não é justo. Você não consegue empreender nesse país. Se você for pequeno, não consegue oferecer emprego, empreender. Uma pessoa que faz música uma vez por semana, do meio dia às 18h, ela não pode fazer isso? Não pode oferecer emprego? Não pode trabalhar? Eu estou, a partir de alguns dias, desempregada”.

A maior tristeza, afirma, é acabar com um espaço que virou tradição na cidade. “Músico oficial” do bar, Raimundo Galvão se mostra igualmente indignado e relembra do tempo em que o local era um ambiente, nas palavras dele, marginalizado.

“A gente veio e colocou música, chorinho, Chico Buarque, coisas boa, de qualidade. Demos vida. A música tornou esse lugar miserável em um lugar bom e agora estamos devolvendo para voltar à sua marginalidade de antes. O Estado, ao invés de de dar uma cadeira, eles tiram. Eles não tem bom senso. Mudaram a lei mas não estão cumprindo”, acusa.

Músico, Galvão, reclama da fiscalização da Semadur.
Músico, Galvão, reclama da fiscalização da Semadur.

Galvão se refere ao tipo de fiscalização que, segundo ele, continua o mesmo. Os ficais, ao invés de fazerem a aferição de som do ponto do reclamante, como determina a nova lei, continuam a posicionar o decibelímetro perto das caixas de som. “Eles não reconhecem. É um absurdo. A lei diz que música não é barulho. Eles tem que medir barulho e não música, protesta.

“Nós cansamos”, completa Renata, que se viu na obrigação de dar uma justificativa para os frequentadores do lugar. “Não gosto de aparecer, mas me sinto responsável e quero declarar satisfação aos meus clientes, amigos e músicos”.

Raimundo vai continuar lutando, mas como diretor do Sindicato dos Músicos. “Quero que eles cumpram a lei. Porque não estão reconhecendo? Se não cumprem, que cassem”.

A assessoria de imprensa da Prefeitura de Campo Grande informou que a Lei do Silêncio ainda não foi regulamentada. "Mas já está valendo. Se não organizaram é porque foram irresponsáveis. Isso é um truque deles. A regulamentação é só uma normatização. Falei com um advogado sobre isso", diz Galvão.

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