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Diversão

Uma festa de 94 anos dividida entre a missa e o terço, o pagode e o sertanejo

Mariana Lopes | 19/05/2013 07:12
Dona Adair, bisneta de Tia Eva, traz nas veias o sangue de mulher guerreira e agradece a interceção de São Benedito pela graça de ter criado sozinha os 13 filhos (Foto: Marcos Ermínio)
Dona Adair, bisneta de Tia Eva, traz nas veias o sangue de mulher guerreira e agradece a interceção de São Benedito pela graça de ter criado sozinha os 13 filhos (Foto: Marcos Ermínio)

Lá se vão 94 anos desde que Tia Eva ofereceu uma festa a São Benedito em agradecimento pelo milagre de ter sido curada de uma doença na qual nem os médicos acreditavam mais que tinha tratamento. E já que a graça veio pela intercessão do santo, a promessa da ex-escrava foi cumprida, atravessou gerações e perdura até, mas claro que nos moldes do século 21.

Tradição e devoção. É isso que os antescedentes de Tia Eva levam como legado. A missa e o terço nunca podem faltar, pois representam a fé de um povo que traz no peito e no sangue a marca de uma mulher que era escrava, conseguiu fugir, que veio de longe com três filhos debaixo da saia, e venceu a vida e a enfermidade.

"Vejo minha história na história dela (Tia EVa), pois eu também venci muita coisa na minha vida, fiquei viúva muito cedo, com 25 anos, criei sozinha meus 13 filhos, e essa foi a maior graça que São Benedito me ajudou a conquistar, por isso tenho uma fé viva", relata, com simplicidade, dona Adair Jerônima da Silva, de 78 anos, bisneta de Tia Eva.

Uma das maiores e melhores contadoras das aventuras da figura mais famosa da comunidade quilombola, dona Adair é ainda uma das mulheres que organiza, todos os anos, os terços durante a festa de São Benedito, junto com a Legião de Maria.

Vania (Foto: Marcos Ermínio)
Vania (Foto: Marcos Ermínio)

Em uma geração mais à da bisneta de Tia Eva, Vania Lucia Batista Duarte, de 37 anos, assume a linha de frente da comunidade, como vice-presidente da Associação dos Descendentes de Tia Eva. No sorriso ao falar da família quilombola, ela deixa transparecer todo o orgulho que tem de suas raízes. "Eu não tenho uma história qualquer, é uma história riquíssima, e não trocaria por nenhuma outra neste mundo", enfatiza Vania.

Os laços talvez tenham se perdido um pouco com o passar dos anos e a chegada das novas gerações. Jhonatan Romero, de 11 anos, por exemplo, não faz ideia do que a figura de Tia Eva representa dentro da comunidade quilombola. "Eu sei que todo mundo fala dela, mas não sei o que ela fez", comenta o garoto, na maior inocência de quem não se vê obrigada em saber.

Mas assim como para todo artista o que importa é a arte, Tia Eva pode descansar em paz, pois deixou um sementinha plantada no coração do menino. "Ah, fé eu tenho sim e vou até à missa com meu pai", diz Jhonatan, mas confessando logo em seguida que o que ele gosta mesmo é da festa. "É a única época que temos movimento aqui, no resto do ano é chato", reclama o garoto.

Hoje em dia, a tradicional Festa de São Benedito, que já faz parte do calendário oficial do Estado e da Prefeitura, tem de pagode a sertanejo, e os shows animam aqueles que conseguem ficar acordados até mais tarde e tem pique para dançar madrugada adentro.

Para os velhos, o que resta é a missa e o terço, que são realizados em um horário consederado cedo para quem costuma acordar com o canto do galo. Mas também tem alguma comida típica, que sempre tem depois das orações nas barraquinhas montadas em frente à igrejinha da comunidade.

Por falar em barraca, o comerciante Gilson Sousa, de 47 anos, resolveu montar uma de bebidas e comidas depois de participar da festa, há 8 anos. Ele gostou tanto da festa e foi tão bem recebido pelo povo da comunidade, que hoje se sente membro da família quilombola. "Tia Eva foi uma mulher muito guerreira e a simplicidade define esse povo aqui, não tem como não se sentir em casa", resume Gilson.

Assim como o comerciante, que um dia saiu do bairro Santo Amaro para aproveitar a Festa de São Benedito, a comunidade Tia Eva abre os braços para receber toda a população campo-grandense e relembrar a história dessa figura que para a comunidade quilombola é um exemplo de mulher, de fé e de luta.

Gilson não nasceu na comunidade quilombola, mas se sente parte da família de Tia Eva (Foto: Marcos Ermínio)
Gilson não nasceu na comunidade quilombola, mas se sente parte da família de Tia Eva (Foto: Marcos Ermínio)

Programação - No sábado começou o Tornei de Futebol Tia Eva, mas a bola ainda rola no campo neste domingo, no segundo dia de competição. Mas o final de semana também será de festa.

Hoje a programação começa cedo, às 8h30, comesporte. À noite também tem terço, às 19h, e às 20h30, show com os grupos Axé Muage e Aconchego.

Durante a semana, os terços começam sempre às 19h. A partir da próxima quinta (23), a programação volta a ser mais festiva, com show do grupo Eco do Pantanal. Na sexta-feira (24), quem sobe ao palco são os grupos Mistura de Raça e Samba de Prima.

O próximo final de semana as comemorações continuam na Comunidade Tia Eva. No sábado (25), a partir das 13h30, começa a semifinal do Torneio de Futebol. À noite, às 19h, é a vez do Terço de São Benedito, e às 23h, começa o baile com Gregório e Grupo Fronteira.

Para encerrar as festividades de São Benedito, no domingo (26), às 8h30, tem a grande final do Torneio de Futebol, e no mesmo horário também tem procissão e missa.

Em seguida, a partir das 11h, será realizado um almoço com baile, ao som das Pratas da Casa. E para fechar com chave ouro toda a programação da festa de São Benedito, às 20h30 tem show com Marlon Maciel.

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