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Solidão inspira advogado a criar rede social para observadores de animais

Sem ter com quem compartilhar paixão pela biodiversidade, Leonardo criou o Biofaces, com mais de 3100 usuários espalhados pelo mundo.

Willian Leite | 18/07/2018 08:59
Foto nos campos alagados do Pantanal, com onça pintada ao fundo. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto nos campos alagados do Pantanal, com onça pintada ao fundo. (Foto: Arquivo Pessoal)

Ao deixar o paletó e a gravata, Leonardo Avelino Duarte vira um observador da natureza. Advogado e mestre em Direito Público, nos finais de semana ele troca os ares sofisticados do escritório no bairro São Bento pelo Cerrado pantaneiro, onde satisfaz o que ele define como hobby: a observação de animais silvestres. 

"Sou o maior detentor do arquivo nacional de registros de anfíbios, mamíferos, invertebrados e repteis. Por isso criei uma rede social para observadores da natureza", explica o advogado de 42 anos, que resolveu convocar pessoas pelo mundo a compartilhar imagens, depois de se ver sozinho nesta experiência em Mato Grosso do Sul. Hoje, são mais de 3.100 usuários no Biofaces.

Tudo começou quando Leonardo ainda era presidente do OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil), entre 2010 e 2012, em um rancho no Pantanal, durante conversa informal com um amigo. "Sempre tive isso como hobby, mas nos últimos anos isso foi ficando sério e tudo que fazia em minhas aventuras pelo Pantanal eu registrava. Logo me veio a ideia de criar uma ferramenta que eu pudesse compartilhar essa paixão e que as pessoas tivessem espaço para fazer o mesmo", justifica.

No dia a dia a vida no escritório de advocacia é corrida. (Foto: Willian Leite)
No dia a dia a vida no escritório de advocacia é corrida. (Foto: Willian Leite)

Apesar de tantas responsabilidades com o Direito, ele diz que sempre conseguiu conciliar as duas paixões inseparáveis. Na família, a vontade de explorar a natureza já contaminou as crianças. "Meus filhos de 2 e 9 anos já estão seguindo o mesmo caminho e sempre que estão comigo já me perguntam, papai hoje não vamos focar. Termo que nós utilizamos quando usamos a lanterna no escuro para procurar animais para observar e fotografar".

É tanta dedicação aos assunto que ele é coautor de livro que mapeia a diversidade da fauna selvagem de nossa região, com o título "Mamíferos não voadores do Pantanal e Entorno". A obra fala sobre a importância do turismo de contemplação. Sua participação já começa na apresentação do material. "A contemplação da natureza é um excelente hábito de vida e um bom remédio contra os males da modernidade", diz Leonardo em um trecho do livro.

Da cadeira de doutor para o Cerrado, sem nenhum conforto, ele afirma que o hobby não é apenas uma brincadeira, se tornou um refúgio e aventura. Leonardo conta que já fez loucuras por uma foto. "Uma das vezes que estive no Pantanal, estava nos nos campos alagados e vi um pássaro chamado caboclinho do brejo, estava dirigindo, peguei a câmera para fotografar e quando percebi, perdi a direção e capotei o carro. Isso não me desanimou, voltei ao hotel fazenda pedi um carro, fui novamente pra lá e ainda consegui fazer foto de um Jaguatirica", comemora.

Encontrar espécies raras é o grande barato das expedições solitárias. "Quando vi um gato pampas raro fiquei tão empolgado que me esqueci até de registrar, outra vez que marcou bastante foi quando vi uma jaguatirica, pescando entre muitos jacarés no Pantanal. A jaguatirica não parecia se importar com todos os jacarés competindo com ela para capturar peixes. Foi um momento mágico", relembra.

Um de seus encontros na obervação noturna no Pantanal. (Foto: Arquivo Pessoal)
Um de seus encontros na obervação noturna no Pantanal. (Foto: Arquivo Pessoal)

Rede mundial - Para Leonardo, viver o mundo animal vai além de apenas ver e registrar. Por isso, criou a rede social onde qualquer pessoa do mundo pode se cadastrar e compartilhar fotos das observações. "Para mim, é uma necessidade real estar em contato constante com a biodiversidade e testemunhar a vida que compartilha nosso mundo. Por isso comecei a ler e a estudar. Fiquei realmente chocado ao descobrir quão pouco sabemos sobre a vida selvagem. Não sabemos quase nada sobre várias espécies".

Apesar de ter que estudar os calhamaços de livros para defender suas causas, ele mantém não só esse tipo de literatura, em casa montou uma biblioteca só de livros que falam das espécies que já observou. "O amor pelas coisas selvagens começou na infância e foi, em parte, impulsionado pelo pouco que se sabia sobre a maioria das coisas e animais do mundo".

O criador do Biofaces defende o incentivo ao compartilhamento de imagens como maneira de salvar a biodiversidade. "Quanto mais pessoas praticarem este passatempo, mais pessoas teremos convertido para a causa da conservação. Nós protegemos e defendemos o que amamos”, avalia.

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