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Sabor

Há 25 anos no mesmo ponto, Dogão da Mato Grosso viu trem e faculdade passar

Naiane Mesquita | 02/09/2016 08:25
Elcio trabalha sempre assim, sorrindo (Foto: Alcides Neto)
Elcio trabalha sempre assim, sorrindo (Foto: Alcides Neto)

Elcio ainda tem orgulho de ter sido o primeiro carrinho de cachorro-quente a incluir batata frita no lanche. E não eram essas de saquinho, vendidas em supermercado não. “Eu tinha que fritar a batata e ficava igual a essa, fininha”, diz.

A história do Dogão da Avenida Mato Grosso, em frente ao Colégio Dom Bosco, começa há 25 anos, quando o empreendedor se viu obrigado a deixar o trabalho em um grande banco da Capital para ganhar a vida com um trailer nas ruas da cidade.

Hoje, a concorrência se estabelece ao lado, mas fila mesmo, só no ponto de Elcio.

A fila nunca diminui no Dogão (Foto: Alcides Neto)
A fila nunca diminui no Dogão (Foto: Alcides Neto)

O carrinho, para ser sincero, nem tem nome. Dogão, Tio do Dogão, Cachorro-Quente da Mato Grosso, pode escolher à vontade. Esse é o jeito de Elcio Gonçalves Domingues, 54 anos, tocar o negócio. “Eu estava justamente aqui comentando com um cliente que sempre preferi algo mais simples”, explica.

O carro-chefe é o Dogão, um cachorro-quente grande, com pão de hambúrguer, duas salsichas, milho, batata frita e molho por R$ 6,00. Com adicional de catupiry, o valor sobe R$ 0,50. “Foi com esse lanche que eu comecei. Eu sou de Araçatuba, nasci lá. Em 1985 me mudei para Campo Grande. Trabalhei no banco Bradesco até 1990, quando na era Collor (ex-presidente do País) eu fui mandado embora. Eu era subcontador da agência, subchefe do expediente”, relembra.

Desempregado, casado e com dois filhos pequenos, Elcio voltou para a cidade natal, onde aprendeu com o irmão o ofício de vender cachorro-quente. “Nunca imaginava que ia ser vendedor de cachorro-quente, mas desempregado, era essa a opção”, confessa.

Um cachorro-quente no capricho saindo (Foto: Alcides Neto)
Um cachorro-quente no capricho saindo (Foto: Alcides Neto)

Quando aprendeu todo o esquema, que hoje provavelmente faz de olhos fechados tamanha rapidez e jeito, Elcio retornou para Campo Grande. Ele nem ao menos sabe explicar o porquê, talvez uma paixão arrebatadora pela cidade ou destino escrito por Deus. “Aqui, neste ponto comecei em abril de 1991. Na época, a Fucmat (Federação das Universidades Católicas de Mato Grosso) era nesse prédio. Depois saiu, virou UCDB e eu continuei em frente ao Colégio Dom Bosco. Em 2000 me mudei para o canteiro”, conta.

Elcio é um verdadeiro pioneiro do cachorro-quente. Além da batata palha, tem o catupiry que ele jura que trouxe de inovação também. “Em São Paulo o pessoal já usava, mas em Campo Grande foi uma verdadeira novidade. Eu sempre tento inovar de alguma forma, criei os outros sabores porque nem sempre as pessoas têm R$ 6,00 para comprar um dogão, principalmente os estudantes”, diz.

Para diferenciar os sabores, ele colocou os nomes em japonês. “Não tem nenhum motivo específico. Tem gente que homenageia os americanos, alemães, eu quis os japoneses e não só na época do sobá. Eles foram importantes para a cidade, quis agradar os clientes japoneses”, afirma.

Carro-chefe é feito com pão de hambúrguer e duas salsichas (Foto: Alcides Neto)
Carro-chefe é feito com pão de hambúrguer e duas salsichas (Foto: Alcides Neto)
Um dos charmes do lugar é o nome dos lanches em japonês (Foto: Alcides Neto)
Um dos charmes do lugar é o nome dos lanches em japonês (Foto: Alcides Neto)

Na frente do Dom Bosco, o empresário viu de tudo. A estrada de ferro Noroeste do Brasil, os hóspedes do Hotel Gaspar e mais de uma geração de clientes. “Vendi muito cachorro-quente para viajantes, passageiros do trem, antes de abrir a padaria Espanhola ali. Vários hóspedes do Hotel Gaspar, de outras cidades, sempre vinham comer aqui. Já servi o Gabriel Sater, filho do Almir Sater quando era criança, o Michel Teló e os meninos do Munhoz e Mariano”, cita, orgulhoso.

A fila do cachorro-quente do Elcio nunca acaba mesmo. Mesmo com os concorrentes ao lado, todo mundo acaba escolhendo ele. O jeito de atender é rápido, eficiente e ele sempre pede desculpas pela demora, que no fundo, nem existe.

Os clientes já estão na segunda e terceira geração (Foto: Alcides Neto)
Os clientes já estão na segunda e terceira geração (Foto: Alcides Neto)

A professora Silvia Bandeira, 47 anos, é uma das clientes fieis. “Sou cliente faz muito tempo. Ele sabe fidelizar, é o melhor cachorro-quente da região. Eu sempre venho, moro aqui perto, e quando não sou eu, são meus filhos que dão um pulo aqui. O dogão é o meu favorito”, ri.

Quem chega logo elogia seu Elcio, que às vezes, já dividiu o trabalho com os dois filhos também. “Todo mundo trabalhou aqui também. Hoje nem tanto, porque eles têm outros trabalhos”, explica.

Apesar de ter aprendido a gostar do ofício, Elcio já pensa na aposentadoria. “O braço não dá conta mais, sinto muitas dores. São 25 anos aqui, quase 26, né? Não tem jeito. Uma hora o corpo cansa. Quem sabe eu vou passar pra frente, ainda não sei”, desconversa.

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