Fretes agrícolas em MS registram queda com mudança na dinâmica de exportações
Exportações de milho em alta e retração da soja alteraram a dinâmica e pressionaram os preços para baixo
O mercado de fretes rodoviários agrícolas em Mato Grosso do Sul registrou queda em agosto, conforme aponta a edição de setembro do Boletim Logístico da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). O movimento, observado também em outros estados produtores de grãos como Mato Grosso, Goiás e Paraná, é explicado pela combinação entre a produção recorde de milho segunda safra 2024/25 e a expressiva retração nos embarques de soja pelo estado.
RESUMO
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O mercado de fretes rodoviários agrícolas em Mato Grosso do Sul registrou queda em agosto, segundo o Boletim Logístico da Conab. A redução é resultado da combinação entre a produção recorde de milho segunda safra 2024/25 e a expressiva retração nas exportações de soja pelo estado. As exportações de soja caíram 55%, de 818,7 mil para 345,3 mil toneladas entre julho e agosto, enquanto os embarques de milho aumentaram 100%, alcançando 443,5 mil toneladas. Apesar da queda nos preços dos fretes, a Conab avalia que os valores devem se manter em patamares superiores aos da safra anterior devido à forte oferta de grãos e demanda logística aquecida.
Embora a colheita de milho tenha intensificado a demanda por caminhões para transporte interno, sobretudo no abastecimento de armazéns e indústrias locais, a queda significativa das exportações de soja liberou parte da frota para as rotas de longa distância, reduzindo os preços cobrados para destinos portuários.
Segundo a Conab, a safra recorde de milho aumentou a necessidade de escoamento rápido da produção, elevando a procura por serviços de transporte especialmente no mês de julho, quando os preços de frete atingiram seu pico.
Entretanto, em agosto, o mercado entrou em novo equilíbrio. O superintendente de Logística Operacional da Conab, Thomé Guth, explicou que, apesar da queda recente nos preços, o patamar ainda é superior ao do mesmo período da safra passada, refletindo um cenário de forte oferta de grãos e de demanda logística aquecida. Guth ponderou ainda que a tendência é de manutenção de preços relativamente firmes nos próximos meses, impulsionados tanto pelo mercado interno (alimentação animal e bioenergia) quanto pelo externo.
“De modo geral, ainda que os preços tenham caído em boa parte das rotas estaduais em agosto, o patamar de preços de frete é superior ao registrado no mesmo momento na safra passada, em uma conjuntura de aquecimento logístico. E a tendência é de persistência de um certo suporte aos preços para os próximos meses, como decorrência deste cenário de oferta elevada e demanda dinâmica e mais cadenciada ao longo dos meses, com a atuação de players tanto externos quanto internos, na área de alimentação animal e bioenergia”, ponderou o superintendente.
Dados da plataforma Comex Stat demonstram a mudança na pauta exportadora sul-mato-grossense. As exportações de soja caíram de 818,7 mil toneladas em julho para 345,3 mil toneladas em agosto, retração de mais de 55%.
Em contrapartida, o milho ganhou protagonismo. Os embarques passaram de 217,4 mil toneladas em julho para 443,5 mil toneladas em agosto, alta superior a 100%. Com isso, a participação de Mato Grosso do Sul nas exportações nacionais em agosto foi de 6,4% para o milho e 3,6% para a soja.
Essa inversão teve impacto direto sobre o mercado de fretes. A queda da soja reduziu a pressão sobre o transporte de longa distância, mesmo com o milho ocupando grande parte da frota para escoamento interno.
A pesquisa da Conab detalha que os preços de frete caíram em várias rotas estratégicas que ligam Mato Grosso do Sul a portos de exportação:
- Dourados–Paranaguá (PR): queda de 279 R$/t em julho para 238 R$/t em agosto (-15%).
- Maracaju–Paranaguá (PR): recuo de 291 R$/t para 260 R$/t (-11%).
- Chapadão do Sul–Guarujá (SP): redução de 362 R$/t para 310 R$/t (-14%).
- São Gabriel do Oeste–Paranaguá (PR): leve recuo de 279 R$/t para 278 R$/t (-0,3%).
- Ponta Porã–Maringá (PR): queda de 330 R$/t para 300 R$/t (-9%).
Mesmo em trajetos curtos, a tendência foi de retração, embora em menor intensidade. Na rota Maracaju–Maringá (PR), por exemplo, o preço passou de 203 R$/t para 198 R$/t (-2%).
Já os preços para destinos mais longos como Ponta Porã–Santos (SP), caíram de 290 R$/t em julho para 280 R$/t em agosto (-3%).
De modo geral, as quedas variaram entre -2% e -15%, com destaque para as rotas direcionadas ao porto de Paranaguá, principal corredor logístico de Mato Grosso do Sul.
Em agosto, os principais destinos para os embarques de grãos do estado foram os portos de Paranaguá (PR), São Francisco do Sul (SC), Rio Grande (RS) e Santos (SP). Paranaguá segue como o eixo central do escoamento, dada a sua proximidade relativa e maior capacidade de recepção de grãos da região Centro-Sul.
Apesar da retração observada, a Conab avalia que os preços não devem voltar aos níveis mais baixos da safra passada. Isso porque a combinação de oferta recorde de milho, demanda interna aquecida e necessidade de manter ritmo de exportações sustentará um patamar mais elevado para os fretes.
A expectativa é de que, nos próximos meses, os valores se mantenham estáveis ou apresentem pequenas variações, acompanhando a cadência de embarques de milho e a retomada da soja em períodos de maior procura internacional.