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Meio Ambiente

Após maus-tratos, bichos "moram" no CRAS por falta de lugar adequado

Luciana Brazil | 14/10/2014 08:06
O animal mais antigo do CRAS não tem para onde ir porque não pode voltar para natureza. (Foto: Marcelo Calazans)
O animal mais antigo do CRAS não tem para onde ir porque não pode voltar para natureza. (Foto: Marcelo Calazans)

Nem todos os animais que são encaminhados para o CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) diariamente conseguem ser soltos na natureza após passarem por reabilitação. Vítimas de atropelamento, de incêndios, maus tratos ou de cativeiros ilegais, muitos deles ficam com sequelas, o que os impossibilita de procurar alimento ou de se defender de seus predadores. Se soltos novamente, podem morrer. Feridos, eles veem o destino se limitar a zoológicos ou, em uma opção mais agradável, áreas verdes restritas que são monitoradas e fiscalizadas por órgãos ambientais.

A função do Centro de Reabilitação segundo a bióloga da Gerência de Pesca e Fauna do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), Maria Izabel Rossi, é tratar e depois devolver  esses animais para natureza. No entanto, como muitos não conseguem ser reinseridos no habitat natural, acabam "morando" no CRAS.

"Tudo que nós queremos é que eles retornem para natureza. Somos apenas um hospital. Mas em alguns casos, como os que não poderão mais ser devolvidos à natureza, o zoológico seria a melhor opção, onde os recintos são bem maiores do que os nossos", alerta.

Na Capital, se um zoológico fosse aberto, ele seria "povoado" aos poucos, já que o ideal seria manter apenas bichos que não podem ser soltos na natureza, defendeu Maria Izabel.

Mas o assunto emperra quando se fala em investimento. Uma iniciativa privada, oz zoológicos requerem um recurso alto, e esse custo é o que atrapalha a criação desses locais, como acredita o comandante da PMA (Polícia Militar Ambiental), coronel Carlos Matoso. “O custo de manutenção de um zoológico é alto e faz parte da iniciativa privada. Por isso, um empresário analisa tudo antes de abrir um zoológico e muitas vezes não compensa".

Há oito anos no CRAS, uma onça parda é o animal mais antigo do local. Ela esperava ser recebida em um zoológico, mas conforme Maria Izabel, a “oferta” desses animais é muito grande o que dificulta seu encaminhamento. Em um recinto pequeno, ela caminha de um lado para o outro.

“Existem muitos onças pardas, por isso é mais difícil. Ela chegou recém-nascida e o Brasil inteiro já recebeu telefonema nosso oferecendo a onça, mas como a oferta é grande, ninguém quer. Se soltarmos, o perigo que ele corre de morrer é grande. Se sentir fome, ela vai procurar humanos e pode morrer”, disse a bióloga.

Bióloga não defende zoológico, mas no caso de animais que não podem ser soltos, "seria uma boa opção". (Foto: Marcelo Calazans)
Bióloga não defende zoológico, mas no caso de animais que não podem ser soltos, "seria uma boa opção". (Foto: Marcelo Calazans)
Macacos fazem parte dos animais que serão soltos em breve. (Foto: Marcelo Calazans)
Macacos fazem parte dos animais que serão soltos em breve. (Foto: Marcelo Calazans)

Sem um zoológico em Mato Grosso do Sul, já que o de Ivinhema, a 282 quilômetros de Campo Grande, foi desativado em 2006, a única alternativa, nestes casos, é enviá-los a outros estados. Outra opção são os criadores conservacionistas (donos de terras) ou proprietários rurais que são depositários (parceiros) do CRAS, conforme explicou a bióloga.

Do próprio bolso, eles bancam a alimentação desses animais que não podem ser soltos na natureza. Em uma área verde cercada e monitorada, eles oferecem alimentação e tratamento médico, caso haja necessidade. A diferença entre eles, é que o conservacionista pode também criar animais além dos que são oriundos do CRAS.

No entanto, quando o assunto são os felinos, nada é muito fácil. A estrutura para abrigar o bicho e o manejo complexo têm alto custo, se tornando um fator interditivo. “Não é que eles não queiram receber os felinos, mas é preciso produzir a habitabilidade do animal e a estrutura é muito complexa. Tudo isso tem um custo alto. E justamento por isso que não é um estabelecimento do governo”, explicou o coronel Matoso. Para aves, por exemplo, o manejo é mais fácil, porém, o local deve ser telado.

Hoje, no CRAS de Campo Grande, pelo menos 10 animais não serão mais soltos na natureza, entre eles duas onças pardas, dois tucanos e uma anta com câncer de pele. Um destes, é a onça parda de Fátima do Sul, que no ano passado teve a pata amputada depois de ficar presa em uma armadilha.

Segundo a bióloga Maria Izabel, até o momento nenhum dos conservacionistas ou dos proprietários rurais demonstraram interesse em “adotar” o felino.

Filhote de onça fica sem mãe e só poderá ser solta quando estiver maior. (Foto: Marcelo Calazans)
Filhote de onça fica sem mãe e só poderá ser solta quando estiver maior. (Foto: Marcelo Calazans)
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