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Meio Ambiente

Como a água deixou de ser cristalina na capital do ecoturismo

Obras nas estradas e manejo do solo contribuem para o problema

Izabela Cavalcanti | 10/02/2023 12:27
Turbidez do rio Formoso, em Bonito (Foto: Divulgação)
Turbidez do rio Formoso, em Bonito (Foto: Divulgação)

O contraste das águas cristalinas dos rios de Bonito com a lama tem ameaçado o ecossistema da região. No entanto, o problema vai muito além de questões climáticas, mas inclui também a falta de diálogo e projetos para solucionar a causa. É o que acredita o coronel Ângelo Rabelo, presidente do IHP (Instituto Homem Pantaneiro).

“Eu não tenho dúvida de que o que está acontecendo, na verdade, é a falta de diálogo nos diferentes setores para pensar em uma estratégia. A gente tem um sucesso no Rio da Prata, só conseguimos sucesso quando envolvemos todos os autores para que a gente pudesse ter resultado, de compartilhar a responsabilidade de cada um. Temos problemas sérios na manutenção das estradas, manejo do solo, sistema de drenagem. É uma questão de estratégia socioeconômica ambiental”, exemplifica.

Coronel Ângelo Rabelo ainda ressalta que é necessário que todos se envolvam nesta causa. “Não pode o setor hoteleiro e os restaurantes ficarem assistindo e procurando o culpado. Precisa de um trabalho permanente de vigilância e é necessário que isso aconteça ontem, porque amanhã a batalha vai estar perdida”, destaca.

A organização atua com um projeto no Rio da Prata, com ações para identificar proprietários da área; cercamento da área para evitar acesso da população; construção de terraços para minimizar a força da água; construção de bacias de contenção para barrar a entrada da água no rio; e plantio de mudas e sementes para acelerar a regeneração das APPs (Áreas de Preservação Permanente), quando necessário.

A secretária de Meio Ambiente, Ana Trevelin, explica que a situação também é resultado de um acumulado de chuva superior a 200 milímetros em menos de três dias.

“Cabe ressaltar que o mês de janeiro não recebia esse índice pluviométrico desde 2019 e naturalmente houve um impacto profundo na qualidade das águas, mas isso não quer dizer que não estão sendo desenvolvidas ações para evitar esse tipo dano”, detalha.

Antes e depois do rio Formoso, em Bonito (Foto: Divulgação/Direto das Ruas)
Antes e depois do rio Formoso, em Bonito (Foto: Divulgação/Direto das Ruas)

Conforme o presidente do IASB (Instituto das Águas da Serra da Bodoquena), Eduardo Coelho, o problema atual é a ocupação humana, além das obras que estão sendo feitas na cidade. “Os rios turvarem é uma coisa natural, mas ele não pode ficar ‘barrentão’, também quando turva tem que limpar rápido. Antes da ocupação humana, os rios turvavam menos e limpavam mais rápido. Estamos com muitas obras para melhoria da cidade, que no momento está causando a turbidez. Toda vez que a chuva pega um solo mexido desce para o rio. Outro problema é que estamos tendo conversão de passagem da lavoura, no momento da conversão é um momento crítico”, explica.

O Instituto tem um projeto que se chama Águas de Bonito, que faz trabalho de recuperação de mata ciliar, cercamento de nascente, conservação de solo, trabalho para readequação de estradas. O projeto conta com parceria do Imasul, promotoria de Bonito, Agraer, Prefeitura de Bonito e Sindicato Rural de Bonito.

“Estamos num momento crítico, mas vem tempos melhores pela frente. É todo mundo junto para resolver. Temos que unir os esforços, identificar os problemas e dar a solução”, enfatiza Coelho.

Ainda de acordo com o presidente do instituto, antes, o Rio da Prata, por exemplo, demorava apenas um dia para ficar cristalino. Há 3 anos passou a demorar 15 dias. Agora, demora de 3 a 4 dias para ficar cristalino.

Coelho também é proprietário da Estância Mimosa, onde passa o Rio Mimoso, que deságua no Formoso. “A turbidez não atrapalha a Estância Mimosa, isso não quer dizer que não tenho interesse em cuidar do Formoso, porque é o rio mais importante na geração de renda da região”, esclarece.

Plano – Na manhã desta sexta-feira (10), o prefeito de Bonito, Josmail Rodrigues, disse que o município vai investir na elaboração de um “Plano Master de Drenagem”, para garantir a qualidade das águas fluviais do município.

A previsão é que o projeto técnico seja licitado no próximo mês, em parceria com o governo do Estado. Os recursos serão de fontes de financiamento internacional, voltados para conservação ambiental em territórios que possuem certificação em Carbono Neutro.

“Nesta semana estive em Campo Grande, onde conversei com o secretário Hélio Peluffo, da Seilog (Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística), acompanhado sempre do deputado Paulo Correa, que tem sido um apoiador desse projeto, e discutimos sobre a criação desse plano master de drenagem”, disse.

Josmail lembra que nos últimos 2 anos, as estradas vicinais do MNGLA (Monumento Natural da Gruta do Lago Azul), da Nascente do Rio Sucuri e da Estância Mimosa, receberam investimentos superiores a R$ 2 milhões para conservação de solo e água.

O plano deve ter duração de 30 anos e tem como objetivo principal acabar com o turvamento dos rios de Bonito.

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