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Meio Ambiente

Estudo de fóssil achado em pedreira de MS revela pioneiros da vida terrestre

Organismos são apontados como alguns dos responsáveis pela estruturação dos ecossistemas terrestres

Por Silvia Frias | 01/12/2025 10:01
Estudo de fóssil achado em pedreira de MS revela pioneiros da vida terrestre
À direita, pesquisador segura amostra de rocha onde fóssil foi encontrado; à esquerda, o fóssil no formato que habitou na Terra (Foto/Acervo pessoal)

Fóssil encontrado em uma pedreira em Rio Verde de Mato Grosso, em 2021, foi a peça-chave para que grupo de pesquisadores identificasse, com alto grau de detalhe, a identidade dos primeiros líquens que habitaram a Terra, o Spongiophyton, há cerca de 410 milhões de anos.

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Um fóssil descoberto em Rio Verde de Mato Grosso, em 2021, permitiu a identificação detalhada dos primeiros líquens que habitaram a Terra há cerca de 410 milhões de anos. O estudo, publicado na revista Science Advances, envolveu cientistas de 19 instituições, incluindo a USP e o CNPEM, e contou com apoio da Fapesp. A pesquisa revelou que o Spongiophyton, uma simbiose entre fungos e algas, desempenhou um papel crucial na formação dos primeiros solos e na transição da vida aquática para a terrestre. Utilizando técnicas avançadas, como a fonte de luz síncrotron do Sirius, os pesquisadores identificaram estruturas celulares e biomarcadores moleculares que confirmaram a natureza do organismo como líquen. A descoberta de cálcio, compostos nitrogenados e lipídios descartou a possibilidade de ser uma planta. O estudo sugere que esses líquens foram pioneiros na transformação da superfície terrestre, influenciando o surgimento de ecossistemas complexos.

Simbiose entre fungos e algas, bastante comuns em troncos de árvores e telhados, os líquens são apontados como alguns dos responsáveis pela estruturação dos ecossistemas terrestres, uma vez que dissolvem rochas e possivelmente ajudaram a formar os primeiros solos.

O estudo, publicado como capa da revista Science Advances, envolveu cientistas de 19 instituições e contou com participação da USP (Universidade de São Paulo), do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais) e apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

O fóssil foi descoberto durante pesquisa de campo feita pelo pesquisador, à época, fazendo mestrado na USP. Com ele, estava o pai, Gilmar Kerber, entusiasta da paleontologia, hoje aposentado do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e doutorando em biologia animal da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

“Pedreiras são grandes fontes de material para os paleontólogos. Meu pai martelou uma pedra e, quando ela se abriu, percebi que havia algo inédito para aquela região,” conta Becker-Kerber, atualmente realizando pós-doutorado na Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

Estudo de fóssil achado em pedreira de MS revela pioneiros da vida terrestre
Arte apresenta provável aparência do Spongiophyton (Foto/Reprodução/Julio Lacerda)

O pesquisador embalou o material em papel alumínio esterilizado, a fim de reduzir as chances de contaminação com materiais e micro-organismos do ambiente. Esse procedimento possibilita que os pesquisadores façam análises sensíveis, como a identificação de biomarcadores moleculares.

Gilmar Kerber se entusiasmou com a descoberta. “Cada fóssil é uma janela para o passado. Este, em especial, mostrou uma nova visão sobre como a vida conquistou o ambiente terrestre”, disse.

Análise - “Esse organismo é bastante presente no registro fóssil e sempre houve controvérsia se seria um fungo, uma planta ou um líquen. Graças a algumas linhas de luz do Sirius [fonte de luz síncrotron de última geração do CNPEM], aliadas a outras técnicas, pudemos visualizar estruturas que permitem afirmar, com bastante segurança, que se trata do primeiro líquen conhecido a habitar a Terra”, conta Becker-Kerber.

A pesquisa alcançou resolução de 170 nanômetros, permitindo a observação de células de algas e estruturas que corroboram a classificação do organismo como líquen.

Análises detalhadas revelaram a presença de cálcio, compostos nitrogenados e lipídios, descartando a possibilidade de o Spongiophyton ser uma planta. Becker-Kerber explica que, enquanto as plantas não vasculares contêm celulose, os líquens são compostos de quitina, material resistente e rico em nitrogênio.

A equipe encontrou sinal robusto de nitrogênio no espécime, algo inédito na pesquisa paleontológica. “Raramente se tem uma evidência tão robusta quanto essa”, comentou Jochen Brocks, coautor do estudo e professor da Universidade Nacional da Austrália, em comunicado à imprensa.

Além disso, foram identificadas micropartículas de cálcio, características de minerais que, atualmente, são produzidos por líquens como forma de proteção solar. De acordo com informações da Agência Fapesp, esta é uma descoberta sem precedentes em fósseis tão antigos.

O estudo sugere que os primeiros líquens não eram organismos marginais, mas sim pioneiros na transformação da superfície terrestre durante a colonização. Eles desempenharam um papel crucial na transição da vida aquática para a terrestre, influenciando a formação de ecossistemas complexos.

“Os líquens alteram substratos rochosos e produzem biomassa utilizada por plantas e animais. Esse papel foi ainda mais significativo no passado, permitindo o surgimento de florestas e campos”, conclui Becker-Kerber. (Informações produzidas por André Julião, da Agência Fapesp).

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