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Meio Ambiente

Repórter de guerra escolhe documentar fogo no Pantanal e mostrar outra tragédia

Sandro Kakabadze retrata as devastadoras queimadas de 2024 com olhar na atuação de brigadista e ribeirinhos

Por Gabriela Couto | 29/11/2024 17:44
Imagem aérea de incêndio florestal consumindo pastagem no Pantanal (Foto: Gustavo Figuerôa/SOS Pantanal)
Imagem aérea de incêndio florestal consumindo pastagem no Pantanal (Foto: Gustavo Figuerôa/SOS Pantanal)

Em um cenário de catástrofe ambiental sem precedentes, o cineasta e documentarista Sandro Kakabadze estreia o documentário “Fogo Pantanal Fogo”, que será exibido no Cine Marquise, em São Paulo, no dia 9 de dezembro de 2024, com exibição gratuita.

RESUMO

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O documentário "Fogo Pantanal Fogo", de Sandro Kakabadze, retrata as devastadoras queimadas de 2024 no Pantanal, mostrando os danos à biodiversidade e o sofrimento das comunidades locais. Exibido gratuitamente em São Paulo e posteriormente no YouTube, o filme, resultado de um trabalho aprofundado com ribeirinhos e pantaneiros, explora as origens dos incêndios – de práticas criminosas ao uso tradicional do fogo – e suas consequências devastadoras para o ecossistema. A obra marca uma transição na carreira de Kakabadze, que de documentarista de guerra passou a focar na urgência da preservação ambiental, considerando os conflitos ambientais como batalhas cruciais do nosso tempo.

Depois do lançamento, o filme poderá ser visto gratuitamente no canal do YouTube do Documenta Pantanal, responsável pela produção do material em parceria com a Âmbar Filmes.

O filme retrata as devastadoras queimadas de 2024, que tomaram o bioma do Pantanal e evidenciam os danos irreversíveis à biodiversidade, ao ecossistema local e ao ecoturismo.

O documentário é o resultado de um mergulho profundo na realidade de ribeirinhos e pantaneiros, que, no dia a dia, enfrentam as consequências da seca mais severa já registrada na região e do avanço das queimadas.

Kakabadze, que há anos se dedica ao meio ambiente, traz em “Fogo Pantanal Fogo” um olhar sensível e contundente sobre a escalada dos incêndios no Pantanal, fenômeno que se intensificou após 2020, quando o bioma perdeu 26% de sua área devido a incêndios devastadores.

Do Front de Guerra para o Front Ambiental

A trajetória de Kakabadze como documentarista é marcada por uma virada impressionante: o cineasta começou sua carreira cobrindo pautas de guerra e conflitos sociopolíticos.

Nascido na Geórgia, ele foi repórter de TV durante a Guerra Russo-Georgiana de 2008, um conflito brutal que deixou mais de 800 mortos em apenas cinco dias de combate. Depois de cobrir a guerra em seu país, Kakabadze mudou-se para Londres, onde atuou como correspondente internacional e teve o primeiro contato com a linguagem cinematográfica.

Sua vivência no front de guerra o marcou profundamente, mas foi no Brasil, em 2013, que ele passou a direcionar sua câmera para as questões ambientais, começando a filmar as transformações do meio ambiente no país.

O documentarista se aproximou do MapBiomas, desenvolvendo uma série de filmes sobre a devastação dos biomas brasileiros, com foco em problemas como o desmatamento, a mineração e as queimadas.

Essa mudança de foco, do conflito armado para a luta ambiental, reflete uma nova consciência sobre a urgência de preservar o meio ambiente diante das ameaças da crise climática e da degradação acelerada.

Kakabadze afirma que o trabalho no Pantanal foi um ponto de inflexão em sua carreira, ao perceber que os conflitos ambientais são, talvez, as batalhas mais significativas de nosso tempo.

O documentário - Em Fogo Pantanal Fogo, Kakabadze faz um retrato imersivo da crise das queimadas que atingiu o Pantanal em 2024, com filmagens realizadas entre junho e outubro daquele ano, e que ilustram não apenas o sofrimento das comunidades locais, mas a destruição de um dos ecossistemas mais importantes do mundo.

O documentário é estruturado em três partes que exploram as diversas faces do fogo no Pantanal: desde a rotina dos brigadistas que combatem as chamas, passando pela origem das queimadas, até a devastação final deixada pelo fogo.

A primeira parte mergulha nos esforços heroicos dos brigadistas do Prevfogo, que atuam no combate ao fogo e na indução de mudanças culturais no uso do fogo na agricultura. A segunda parte do filme expõe as origens das queimadas, desde as práticas criminosas até o uso culturalmente aceitável do fogo em práticas como a coleta de mel silvestre, que podem gerar incêndios fora de controle.

Por fim, o documentário revela as consequências devastadoras para a flora e fauna do Pantanal, cujas paisagens verdes são substituídas por um cenário apocalíptico de cinza e negro, reflexo da destruição provocada pelas chamas.

Linha de fogo queimando o bioma durante incêndios deste ano (Foto: Gustavo Figueirôa/SOS Pantanal)
Linha de fogo queimando o bioma durante incêndios deste ano (Foto: Gustavo Figueirôa/SOS Pantanal)

Reflexão urgente - Kakabadze, que já tem uma carreira consolidada com mais de 50 filmes de curta, média e longa-metragem, tem se destacado por sua capacidade de captar as histórias mais profundas e urgentes do Brasil.

Ele destaca que, quando iniciou a produção de Fogo Pantanal Fogo, a ideia inicial era tratar do desmatamento no Pantanal. No entanto, ao se deparar com as queimadas iminentes, ficou claro que o foco deveria ser a urgência dessa nova onda de incêndios, que agravaram a seca histórica e ampliaram os danos ambientais.

O documentário é um grito de alerta para o futuro do Pantanal e de outros biomas brasileiros, e uma reflexão sobre as consequências da ação humana, do desmatamento ilegal e da emergência climática. Para Kakabadze, o filme é uma tentativa de entender e documentar as diversas faces do fogo, cujos efeitos vão além do imediato, afetando a biodiversidade, as comunidades locais e o ecoturismo, uma das principais fontes de renda da região.

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