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Meio Ambiente

Seca baixa cota de rios, detém vazante, some com corixos e reduz produção de mel

A queda na produção de iscas, por exemplo, foi de até 300 unidades por dia para apenas 60

Lucia Morel | 24/07/2022 07:35
Corixos estão geralmente próximos às pontes e flora verde constrasta com fauna reduzida. (Foto: Lucimar Couto)
Corixos estão geralmente próximos às pontes e flora verde constrasta com fauna reduzida. (Foto: Lucimar Couto)

O nível dos rios que banham o Pantanal, principalmente o Paraguai, apresentam, pela primeira vez em sete anos, o nível mais baixo para um mês de julho. Dados do boletim diário da Sala de Situação do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) mostram que praticamente todos os trechos medidos dos rios Paraguai, Piquiri/Cuiabá, Aquidauana/Miranda e Taquari estão bem abaixo do esperado para o período, apesar de não apresentarem situação de emergência ou de alerta.

Para se ter uma ideia, a régua do Rio Paraguai em Porto Esperança está em 156 cm – até ontem – mas em 22 de julho de 2015 marcava 412 cm. Queda de 136 cm. Pelos números, a descida não representa emergência ou alerta, mas afeta, sim, a vida do pantaneiro e dos animais. Na altura de Porto Murtinho, a situação é ainda pior, com marcação 217 cm menor que há sete anos, quando a cota estava em 528 cm. Agora está em 311 cm.

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O baixo nível dos rios está comprometendo a pesca de iscas. Presidente da Associação das Mulheres Extrativistas do Porto do Manga, Elizete Garcia Costa Soares, de 58 anos, a queda na produção do produto caiu de até 300 unidades por dia para 60. Muitos dos que atuavam com isso se mudaram para Corumbá e outros tantos mudaram de área.

De cerca de 30 famílias que viviam da prática, apenas 10 se mantém, segundo Zezé, como é chamada Elizete. “Quem consegue catar seis dúzias de isca está no lucro”, reforça, sustentando que até mesmo os locais de coleta mudaram, tanto devido à seca quanto por conta das queimadas de 2020, que ainda repercutem no bioma.

As iscas – tuvira, cascudo, piramboia – se reproduzem com tranquilidade em áreas com fartura de água, mas somem quando há seca. "Estamos esperando a chuva. É só encher de novo que soluciona", diz. Agora, entretanto, os corixos onde se costumavam pescá-las – Buraco das Piranhas e Passo do Lontra – estão secos e foi preciso procurar outros locais para a coleta – rios Negro e Taquari.

Corixo com jacarés e metade já seco, em maio deste ano. (Foto: Lucimar Couto)
Corixo com jacarés e metade já seco, em maio deste ano. (Foto: Lucimar Couto)

Com isso, ela cita ainda uma situação peculiar que tem ocorrido por causa disso: a disputa das iscas com os jacarés. “Precisamos ir bem devagarzinho, batendo neles, para conseguir pegar algumas”, revela. O Campo Grande News já havia mostrado a busca ingrata desses animais por água aqui.

Como a pesca das iscas é feita preferencialmente à noite, Zezé conta que “a gente se aproxima, põe a lanterna e vê aquele bando de pontinhos vermelhos que parecem fogo, que são os olhos dos jacarés”.

Mel – até mesmo a produção de mel é prejudicada. De duas coletas ao ano, apenas uma deve ser feita este ano. A Organização Não-governamental Ecoa (Ecologia e Ação) mantém o Projeto Oásis, que produz mel. Mas os responsáveis já sentem que a produção vai ser menor porque há menos flores disponíveis para as abelhas.

Alcides Faria, diretor institucional da entidade explica que como consequência das queimadas e da seca, a florada diminuiu, principalmente as cambarás, que precisam muita água. “Todos os anos há duas coletas, mas haverá uma só este ano”, disse.

Ele explica que o Rio Paraguai, mesmo não estando em cota considerada de emergência ou de alerta – os dados do Imasul indicam que ele está em cota de permanência, ou seja, estável – ainda está abaixo do que era comum em anos anteriores, e por isso, a vazão não tem sido suficiente para alagar as áreas mais distantes, como os corixos. “Ele está mais alto que no ano passado, mas mesmo assim, não deu vazante suficiente”, reforça.

Corixo em tempos de fartura. (Foto: Ecoa)
Corixo em tempos de fartura. (Foto: Ecoa)

A seca tem sido geral, em todas as áreas do Pantanal. Teve mais água (choveu mais) no norte do Pantanal, e isso reflete ao longo do tempo nos demais níveis, mas mesmo assim, como não subiu o suficiente, não tem vazão o suficiente também. O verde faz parecer que está tudo bem, mas não está”, afirma.

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