Urbanista defende adensamento planejado e critica vazios urbanos em Campo Grande
Para Ângelo Arruda, falta regulamentação sobre densidade e diálogo entre poder público e mercado
RESUMO
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O arquiteto e urbanista Ângelo Arruda defende que o adensamento populacional próximo ao Parque dos Poderes, em Campo Grande, não representa risco desde que siga critérios técnicos. A discussão surgiu após o Ministério Público questionar os limites de densidade demográfica na região, que atualmente possui cerca de 20 habitantes por hectare, bem abaixo dos 240 previstos. O especialista também critica os vazios urbanos da cidade, que ocupam 32% da área urbana, resultando em tarifas públicas mais elevadas. Arruda sugere a criação de uma zona de amortecimento ao redor do Parque do Prosa e defende um diálogo amplo entre órgãos públicos e setor privado para solucionar as questões urbanísticas.
O arquiteto e urbanista Ângelo Arruda defendeu que o adensamento no entorno do Parque dos Poderes, em Campo Grande, não representa risco iminente para a cidade, desde que siga parâmetros técnicos e planejamento integrado. O tema foi debatido em episódio do podcast "Na Íntegra", do Campo Grande News, com foco nas recentes polêmicas sobre a verticalização da região.
A preocupação surgiu após o Ministério Público Estadual questionar, por meio de inquérito, os limites de densidade demográfica em bairros próximos ao parque. O conceito técnico diz respeito à quantidade de habitantes por hectare, parâmetro que orienta serviços públicos como abastecimento de água, energia e transporte.
Densidade é parâmetro, não regra - Atualmente, Campo Grande tem cerca de 902 mil habitantes distribuídos por 36 mil hectares, o que resulta em uma média de 25 habitantes por hectare. “É um parâmetro urbanístico, não uma regra impositiva”, esclareceu Ângelo. Ele explicou que, mesmo em casos de adensamento localizado, como os prédios erguidos na região do Jardim Veraneio, os índices estão bem abaixo do limite estabelecido pelo Plano Diretor.
“O Jardim Veraneio tem hoje cerca de 20 habitantes por hectare, muito abaixo dos 240 previstos para a área”, disse. Segundo o especialista, há um erro na interpretação dos riscos: “Quando falam em superadensamento, esquecem que a quadra do lado pode estar vazia. A cidade é um conjunto, não uma coleção de casos isolados”.
Um dos pontos críticos, conforme o urbanista, é a falta de regulamentação de trechos do Plano Diretor, como o artigo que estabelece parâmetros para empreendimentos que ultrapassarem limites de densidade. “O poder público precisa regulamentar esse artigo para exigir contrapartidas e prever medidas de mitigação”, alertou.
Ângelo também destacou a existência de um estudo elaborado a pedido do Secovi (Sindicato da Habitação), que analisa a ocupação da região, as pressões do mercado imobiliário e os riscos ambientais. “O mercado está preocupado, mas não existe base legal ou científica para suspender licenças como foi recomendado”, afirmou.
Vazios urbanos e custo social - Durante o debate, o arquiteto reforçou que Campo Grande é marcada por grandes vazios urbanos, que resultam em impactos econômicos para todos. “Se a cidade fosse mais compacta, teríamos tarifas públicas menores: água, luz, transporte. A culpa dos preços altos é do vazio urbano, não dos prédios”, sustentou.
Ele citou estudo realizado pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) em 2015, que identificou que mais de 37% da área urbana estava desocupada. “Hoje são cerca de 32%, mas o problema persiste”, afirmou.
Impactos ambientais e necessidade de diálogo - Um dos pontos mais sensíveis da discussão é a preservação ambiental, especialmente a rota migratória de aves e o risco de assoreamento de córregos. Ângelo reconheceu que a região é geomorfologicamente frágil e defendeu medidas para aumentar a infiltração de água, além de melhorias no sistema de drenagem.
“O solo do Prosa é o mais sensível da cidade. Se não cuidarmos, vai haver assoreamento e impacto no abastecimento de água”, alertou.
O urbanista criticou a fragmentação do debate e sugeriu que todas as partes sentem-se à mesa: “Imasul, Planurb, Ministério Público, Câmara de Vereadores, empresários. Não é hora de culpar ninguém, mas de dialogar”.
Outro ponto abordado foi o impacto do adensamento na mobilidade urbana. Para Ângelo, o problema maior está na dependência do automóvel. “Temos 1,4 veículo por habitante. Não são os prédios que causam congestionamento, mas o excesso de carros”, afirmou.
Segundo ele, a verticalização pode ser, inclusive, parte da solução. “Hoje, apenas 11% das moradias em Campo Grande são apartamentos. O restante são casas, muitas com vários veículos”.
Soluções e esperança - Ao final, Ângelo defendeu a criação de uma “zona de amortecimento” ao redor do Parque do Prosa, para evitar impactos negativos na paisagem e na biodiversidade. Ele informou que o Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano (CMDU) e o Conselho Municipal de Meio Ambiente aprovaram a criação de uma comissão mista técnica para aprofundar os estudos.
“O mercado imobiliário não é o vilão. Ninguém é vilão. É preciso parar de demonizar e começar a planejar juntos”, concluiu.
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