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Política

Para cientistas políticos, alternância no poder deveria ser regra e não exceção

Aline dos Santos | 28/10/2012 19:57
Comemoração da vitória de Bernal. (Foto: Minamar Junior)
Comemoração da vitória de Bernal. (Foto: Minamar Junior)

O resultado das urnas neste domingo muda um cenário político de quase duas décadas em Campo Grande. Há 19 anos, a capital de Mato Grosso do Sul é comandada pelo PMDB. Para os cientistas políticos, a alternância no poder nem deveria soar como novidade, porque se trata do esperado em um regime democrático.

“A alternância de poder é um eficiente remédio para a saúde da administração pública. Eternizar-se no poder combina mais com as ditaduras. Além disso, de reflexão àqueles que permanecem tanto tempo no poder. É salutar deixarem os gabinetes e viverem como um cidadãos comuns”, salienta o analista político Eron Brum.

Especialista em Geografia Política, Tito Carlos Machado de Oliveira identifica que chegou ao Estado uma onda de renovação que já passou por outras regiões do Brasil, como o Nordeste e São Paulo. “O que existe no Mato Grosso do Sul, visivelmente, é a população com vontade muito grande de mudar”, afirma.

O desejo de mudança, puro e simplesmente, fica expresso no fato de os outros prefeitos do PMDB – no caso André Puccinelli e Nelsinho Trad – terem tido bons índices de aprovação em seus mandatos. “Os índices de aceitação da administração do PMDB têm sido realmente bons. Não transparece na pesquisa, a população dizendo que não está satisfeita. O problema é que a população está cansada do mesmo grupo político”, avalia.

Para Tito Machado, se olharmos para a história política de Campo Grande, o resultado das eleições 2012 só encontra comparativo há 61 anos. “O prefeito Fernando Côrrea da Costa sacou do bolso o nome de Wilson Barbosa Martins para ser o candidato. E surgiu Ary Coelho, completamente diferente dos fazendeiros”, afirma. O mandato de Ary durou apenas um ano. Ele foi assassinado em Cuiabá (MT).

Segundo o especialista em Geografia Política, a robustez da máquina administrativa em Campo Grande - que começou a ser moldada e modernizada na década de 1970, na gestão de Antônio Mendes Canale – dá ao eleitor a impressão de que a cidade caminha sozinha, tornando-o mais propenso a não temer mudanças no comando.

Tito Machado avalia que o resultado da eleição foi a combinação do momento político e uma campanha bem arquitetada, onde Alcides Bernal trouxe para si a imagem do novo.  “No primeiro turno, tinha os personagens antigos e o novo. O [Edson] Giroto, que apesar de ser um elemento novo na política, aparece como o ‘velho’, assim como o Vander [Loubet]. O novo era o [Reinaldo] Azambuja e o Bernal”, afirma.

Briga de irmãos – Um olhar mais racional, no entanto, revela que a mudança não é tão profunda como apresentada ao eleitor. Em disputa ferrenha pela prefeitura de Campo Grande, PP e PMDB se irmanam na administração nacional, participando da base de sustentação do governo da presidente Dilma Rousseff (PT).

“Eis outra distorção do nosso sistema político: amigos no país e inimigos no município. Tem alguma lógica essa embrulhada? E depois eles ainda exigem coerência do eleitor. Está mais do que na hora de o brasileiro exigir mudanças que ajudaram a construir a democracia em diversos países”, enfatiza o analista político Eron Brum. Pare ele, a democracia precisa avançar em aspectos como: fidelidade partidária, fim das siglas de aluguel e transparência nos financiamentos das campanhas.

Maturidade – Sufocada no período da ditadura e praticada há menos de 30 anos, a eleição livre passa por amadurecimento. A análise é do professor de Ciência Política na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), Neimar Machado de Sousa. “Mudar uma série de mandatos faz parte do processo democrático, a sociedade está amadurecendo. Isso é positivo”, salienta.

Em contrapartida lembra a importância de que o político eleito administre com responsabilidade, para que a democracia seja um regime benéfico à sociedade. “Os maus políticos ameaçam a democracia”, alerta.

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