PT busca aval de Lula para lançar Fábio Trad e Simone contra Riedel e Reinaldo
Candidato ao Senado, Vander Loubet conduz a aliança para resgatar protagonismo e colocar o PT nas majoritárias
RESUMO
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O PT de Mato Grosso do Sul articula uma aliança política para as próximas eleições, com o ex-deputado Fábio Trad como candidato a governador, Gilda como vice e a ministra Simone Tebet ao Senado. A estratégia, liderada pelo presidente estadual do partido, Vander Loubet, busca aprovação do presidente Lula em reunião prevista para dezembro. O movimento marca o rompimento do PT com o atual governo de Eduardo Riedel e visa retomar o protagonismo do partido no estado. Vander Loubet, que não disputará reeleição como deputado federal, considera disputar o Senado ou aceitar a suplência de Simone Tebet, caso esta permaneça com domicílio eleitoral em Mato Grosso do Sul.
Em franco avanço na busca da retomada do protagonismo do PT em Mato Grosso do Sul, o deputado Vander Loubet, presidente do diretório estadual, surge como articulador central da frente democrática. Ele conduz, com discrição e estratégia, a construção de uma aliança ousada: o ex-deputado Fábio Trad como candidato a governador, Gilda, mulher do ex-governador e deputado estadual Zeca do PT, como vice, e a ministra do Planejamento Simone Tebet ao Senado.
O desenho da chapa ganhará corpo em dezembro, em Brasília, com a participação decisiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, numa reunião organizada pelo presidente nacional do PT, Edinho Silva. Vander diz contar com uma base ampla à sua candidatura ao Senado, com o apoio inclusive de prefeitos que não são do PT, e só abriria mão de disputar se Lula orientar concentração de esforços na eleição de Simone. Caso isso se confirme, ele permaneceria como presidente do PT estadual ou aceitaria ser o primeiro suplente de Simone, mantendo seu compromisso estratégico com o projeto coletivo.
Aos 61 anos, seis mandatos consecutivos como deputado federal e conciliando intensa atividade política de reorganização do partido com o tratamento de um câncer, Vander já havia tomado uma decisão clara: “Não serei mais deputado, em hipótese nenhuma. Cumpri minha missão. Agora quero contribuir de outra forma, talvez no Senado, ou apenas como presidente do PT. Se for para construir um projeto forte pro Lula, topo até ser suplente de Simone”, disse ele em entrevista ao Campo Grande News em seu apartamento, em Brasília. Ele abre mão de uma reeleição para deputado federal praticamente garantida.
Para Vander, a construção da frente democrática não é improvisada: “O compromisso é claro: o Fábio vai decidir o que quer ser. A última palavra é dele. Mas o PT está fazendo todo o movimento para convencê-lo a ser o candidato a governador.” Ele ressalta o papel de Gilda: “Ela traz a história do PT, reforça o papel do Zeca e dá unidade à chapa.”
Estratégia para o segundo turno
O cálculo é político e realista: um segundo turno torna-se provável com uma eventual onda a favor do lulismo ou a manutenção da guerra no vespeiro extremista, suscetível aos cantos de sereia de Eduardo Bolsonaro e Marcos Pollon (PL). “Eles estão se movimentando para ter uma candidatura própria, talvez até com o Eduardo Bolsonaro por perto. Mas o que mata na política é a soberba. Achavam que tinham maioria no Congresso e podiam tudo. Mas erraram no IOF, na PEC da blindagem, insistiram na anistia."
Vander avalia que, se no ano que vem Fábio sair pelo PT, com Riedel e outro candidato da extrema direita, como em 2022, pode ter segundo turno, fragilizando o grupo dominante, que tem todas as fichas apostadas na reeleição do governador no primeiro turno: “Eu acho — e aí é uma opinião pessoal,que o Riedel e o Reinaldo cometeram um erro político grave ao migrar do PSDB para a direita e extrema direita. Se fosse há quatro anos, até se justificava. Hoje é um erro, porque o Lula se recuperou e o Reinaldo não tem perfil de extremista.”
PT e o papel de Trad
Vander afirma que o movimento do PT se explica pelo rompimento com o governo Riedel: “Ele fez um gesto claro, optando por uma aliança com aqueles que ainda não derrotamos. Não havia mais condição de seguirmos juntos.” O desafio é explicar como o PT ficou dois anos e meio no governo e agora se apresenta como oposição viável.
Para Vander, Fábio Trad é a peça-chave: “O Fábio tem caráter e perfil para um debate de alto nível conceitual com o Riedel. Ele já conhece e está empolgado com o chão do PT, com a militância e a mística do partido, e pode se posicionar com independência, sem que o PT precise se explicar por ter participado do governo.”
Ao Campo Grande News, Fábio Trad pondera: “Se for confronto direto com o governo, não soará bem. Mas se for como proposta alternativa, programática, é possível — e até salutar.” Ele prefere disputar uma vaga na Câmara, mas mantém a questão aberta e discorda que eventual candidatura a governador possa prejudicar o irmão, senador Nelsinho Trad (PSD): “Acho que o Nelson tem condições de mostrar que uma coisa é ele e outra sou eu. Isso não vai me demover.”
Simone Tebet, a incógnita
Outro ponto crítico é Simone Tebet. Vander reconhece sua importância na eleição de Lula e avalia como bom seu trabalho no Planejamento. Mas a decisão depende de ela transferir o título para São Paulo, onde também é cortejada pela esquerda, ou permanecer em Mato Grosso do Sul: “A Simone precisa sinalizar se quer fazer política conosco. Riedel, Reinaldo e o MDB não vão dar legenda para ela. Na minha opinião, o caminho dela é o PSB, o fortalecimento do palanque do Fábio e a construção da frente com o Lula.”
Longe de discursos inflamados, mas flexível na arte da política, Vander é um articulador dos bastidores: “Todos sabem que sou PT, de esquerda, mas tenho trânsito nos outros partidos. Tenho respeito dos prefeitos, do PL ao União Brasil. Meu estilo é estar presente nos municípios, com ações concretas.” Ele destaca a força do PT fora do governo: cerca de 350 a 400 mil votos, 20% do eleitorado estadual, e acredita no projeto nacional: “Lula chegará forte em 2026. Só perde reeleição quem erra, e estamos entregando, município por município, o que o governo federal tem feito.”
Avanços e agro
Vander valoriza os avanços do governo: “Pleno emprego, reserva de quase 300 bilhões, combustível baixando, políticas sociais chegando na ponta. O PIB, que diziam ser 1%, já está perto de 3%.” Ele elogia Lula na política externa e critica a direita que, afirma, está prestando “um desserviço ao setor empresarial” com a peregrinação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos defendendo tarifaço e sanção de autoridades brasileiras. “A população, inclusive em Mato Grosso do Sul, sabe quem é quem. A conta do equívoco ainda chegará para a direita.”
Sobre a transição geracional do partido, Vander diz: “Tenho conversado muito com o Zeca sobre unir experiência e novas lideranças.” Cita jovens eleitos e o resgate de quadros históricos – como os ex-deputados Antônio Carlos Biffi e João Grandão –
além da modernização da militância digital, terreno dominado pela direita: “O militante precisa estar na rede. É comunicação direta, defesa e engajamento.”
Para a campanha, o PT quer resgatar feitos dos governos de Zeca (1999–2007) e combinar desenvolvimento econômico com demandas sociais, priorizando a solução de conflitos entre indígenas e fazendeiros, compra de áreas de boa-fé e reforma agrária efetiva. Também destaca políticas estruturantes para o agro: “Precisamos consolidar o corredor do Mercosul e a saída para o Pacífico, levar assistência técnica, tecnologia, e estruturar irrigação e estufas.”
O lado humano do deputado se revela em sua condição de saúde. Na próxima terça-feira Vander enfrentará cirurgia em São Paulo para retirada da próstata, atento ao conselho que ouviu do ex-ministro José Dirceu: metade da cura está na cabeça. “Estou vivendo um dia após o outro, não dá pra se precipitar. É fé em Deus e na ciência. Vou operar o mais rápido possível e retomo as atividades normalmente”, diz, com otimismo e disciplina.