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Reportagens Especiais

Indígena, alemão, coreano... idiomas na Capital mostram como somos diferentes

Vendedores do centro de Campo Grande dizem que cidade abriga tudo e mais um pouco

Natália Olliver | 25/08/2023 10:16
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
Mulheres indíenas em ritual realizado em Campo Grande. (Foto: Arquivo)
Mulheres indíenas em ritual realizado em Campo Grande. (Foto: Arquivo)

Berço de diversidades e de muitas culturas, Campo Grande esbanja quando o assunto são outros idiomas ouvidos pelas ruas da cidade - além, é claro, dos inúmeros sotaques. Não é preciso ir muito longe para encontrá-los. Para comprovar o cenário abundante, a reportagem foi às ruas perguntar aos pequenos comerciantes quais são os que mais aparecem no dia a dia, o que inclui o alemão, ainda falado por poucos da comunidade gaúcha que chegou por aqui.

No supermercado, de repente Gisela Josefine de Melo começava a falar alemão e atraia os olhares encantados. Aos 94 anos, ela partiu como consequência do Alzheimer. E foi a doença que trouxe de volta a criança alemã que veio com os pais para o Brasil e terminou a vida em Campo Grande.

"O mais interessante é que ela dizia que era filha do imperador", conta a neta, Cláudia Trimarco, que por muito tempo também acrescentou à cidade o inglês britânico, do ex-marido que morou por aqui.

Elisabete já ouviu diversos idiomas enquanto atendia clientes (Foto: Natália Olliver)
Elisabete já ouviu diversos idiomas enquanto atendia clientes (Foto: Natália Olliver)

Quem chega para trabalhar em busca de vida nova, e tem um sotaque diferente, logo se revela como haitiano, venezuelano e até gente quem veio do Kwait.

Nos quatro anos que Elisabete Pereira de Belém, de 67 anos, gerencia a barraca de caldo de cana, na Avenida Afonso Pena, inúmeros visitantes já passaram pelo local, como os alemães, mas nesse caso, turistas. Segundo ela, também já atendeu portugueses, espanhóis e venezuelanos.

A percepção de que os falantes não são brasileiros também foi ressaltada pela jovem Allanys da Silva Fonseca, de 19 anos. Ela trabalha em uma banca de capinhas para celulares, próxima à Rua 14 de Julho, e conta ao Campo Grande News que muitos europeus já solicitaram chips de operadoras. A vendedora não soube exemplificar de onde os clientes vieram.

“Já escutei venezuelano, europeus, coreanos também. Ainda mais pra fazer chip. Espanhol escuto demais. Mas vejo mais os venezuelanos.”

Maurício Marques Arais, de 40 anos, é ambulante e natural do Rio Grande do Sul. O gaúcho está há 20 anos na capital sul-mato-grossense. Como fica todos os dias nas ruas, vendendo água, escuta diversos idiomas e sotaques. Mas, principalmente, espanhol.

Maurício chegou à Capital e nunca mais voltou ao Rio Grande do Sul, cidade natal (Foto: Natália Olliver)
Maurício chegou à Capital e nunca mais voltou ao Rio Grande do Sul, cidade natal (Foto: Natália Olliver)

Maior riqueza cultural -  “Escuto muito pessoas de outros países, devido aqui ser uma fronteira já escutei boliviano, chileno, paraguaio, colombiano. Convivo com eles aqui no centro.”

Apesar dos ouvidos aguçados, Danilo Kennedy, de 29 anos, vende doces nas ruas e não escuta tantos outros idiomas, apenas outras pronúncias do português.

“Eu dificilmente vejo gente de outros países, vejo mais sotaques mesmo, muita gente de Corumbá e os próprios indígenas”, lembra sobre o que de mais rico existe por aqui, as línguas dos povos originários que fazem da Capital um misto de palavras em guarani, kaiowá, nhandeva terena, atikum, kadwéu, kinikinaw, ofaié e guató.

Maioria por aqui, para o povo guarani Campo Grande é Kokue Tuicháva. Os terena também são grande parte dentre as etnias que vivem na Capital, inclusive, ocuparam a primeira aldeia urbana estruturada da cidade, no bairro Tiradentes, e que podem ser recebidos logo cedo com um ûnati yuponiti (bom dia).

Mas de todas, a língua mais "poética" é a guató, com palavras que parecem criadas a partir de sons, como uma gota que cai na água e diz à natureza "guató".

Conhecida como a última das terras inundáveis do Estado e hoje falada por poucos na Ilha de Ínsua, no meio do Pantanal. Considerada comunidade extinta na década de 50, o filme 500 Almas, de Joel Pizzini, mostra que muitos resistiram até o reencontro, após anos de luta, com a retomada das terras dos "índios canoeiros".

Vendendo doces nas ruas há dois anos, Danilo não escuta muitos idiomas (Foto: Natália Olliver)
Vendendo doces nas ruas há dois anos, Danilo não escuta muitos idiomas (Foto: Natália Olliver)

Veio para ficar - Um retrato fiel da diversidade encontrada em Campo Grande é a professora Elizaveta Koskevich, de 26 anos. Há quatro anos, ela saiu da Rússia para aprender português no Brasil e escolheu a capital sul-mato-grossense como sua nova morada. Ao Campo Grande News ela ressalta que não pretende voltar ao país de origem e que gosta da receptividade brasileira. Inclusive, acha os campo-grandenses acolhedores.

“Tudo mundo me fala que aqui em CG as pessoas são frias, aí eu sempre falo 'vocês não conhecem russos'. Então para mim pessoas daqui são muito legais. Não pretendo voltar para lá porque estou fazendo doutorado aqui, crescendo e trabalhando. Minha vida é aqui, meus amigos. Eu meio que estou crescendo, diria que minha vida adulta de verdade é em Campo Grande.”

Sobre os outros idiomas que Elizaveta escuta pelas ruas, a professora destaca o espanhol e no meio acadêmico, o francês. “Escuto pelas ruas, eu diria espanhol e francês. Mas bem mais espanhol”.

Elizaveta se apaixonou por Campo Grande há quatros anos e não pretende voltar à Rússia (Foto: Arquivo pessoal)
Elizaveta se apaixonou por Campo Grande há quatros anos e não pretende voltar à Rússia (Foto: Arquivo pessoal)

A escolha da moradia na Capital se deu pelo espaço verde disponível na cidade. “Comecei a pesquisar os cursos de português no Brasil e exatamente em Campo Grande pois acho que é uma capital boa e segura, tem muita natureza em volta, parques e tal. Encontrei um curso para estrangeiros imigrantes no Brasil de português e decidi me desafiar e mudar 16.000 km da minha cidade na Rússia.”

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