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A coragem de um homem

Andrea Brunetto* | 29/01/2012 12:16

O soldado Emerson Leandro da Silva tinha 19 anos e não sabia nadar. Estava com a namorada e amigos em um pesqueiro à beira do Rio Aquidauna. Sua namorada, que também não sabia nadar, escorregou em uma pedra e caiu dentro do rio. Imediatamente, seu namorado Emerson pulou no rio - esquecendo que não sabia nadar - a empurrou para perto da margem. Os amigos a puxaram e ele foi puxado pela correnteza. Isso aconteceu no final de semana, mas seu corpo foi encontrado somente ontem.

É isso o que a psicanálise define como um ato. Um ato não é algo pensado, decidido em ruminações e ruminações. Aliás, a ruminação impede o ato. Mas, ainda assim, um ato é uma escolha. Ainda que inconsciente.

A grandiosidade do ato de Emerson é maior quando nos lembramos do que Freud escreveu no O mal-estar na civilização. Freud retomou a frase de Plauto, "o homem é o lobo do homem", para sustentar que um ser humano se coloca sempre em primeiro lugar. É sua primeva, narcísica, atitude. Depois, com muita sublimação, e construção simbólica, consegue fazer laço social com seus próximos. Mas lá, em seu imaginário, ele está em primeiro lugar. Então, se um navio vai afundar, se agir pelo seu narcisisimo, ele corre antes, "que afunde os outros, eu escapo". Vocês já perceberam que contraponho a coragem de Emerson à covardia do comandante Schettini?

Emerson sabia que ia morrer? Provavelmente não pensou isso na hora, correu o risco de salvar quem amava, agiu e isso, claro, teve consequências. Sua família deve estar sofrendo muito. Mas sua coragem, esse ato que surgiu em um segundo e tomou sua vida, salvou a vida de uma pessoa.

Só escrevo para sua coragem não ficar anônima, afinal tanto se fala da covardia nesse momento.

Não esqueçam: Emerson Leandro da Silva. Quando alguém vir até vocês com teorias fatalistas de que as pessoas estão cada vez mais egoistas, autistas, ensimesmadas, que o mundo não é mais o mesmo, pensem que existem Emersons por ai. Não muitos, claro. O lugar-comum pode ser o comandante italiano, mas os homens que fazem a diferença no mundo são os Emersons.

*Andréa Brunetto é psicanalista e diretora do Ágora Instituto Lacaniano.

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