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A PM, a USP, e a Maconha

Por Wladimir Polizio Júnior* | 11/11/2011 07:05

Os recentes acontecimentos, fartamente noticiados pela imprensa, sobre a retomada do prédio da USP por policiais militares, como o aval da Justiça, após frustradas as tentativas de retirada pacífica dos poucos estudantes baderneiros que insistiam em manter-se no local, demandam uma análise mais aprofundada sobre a própria universidade pública. Acredito ser pouco limitar a discussão para o acerto da PM, ou mesmo para a tristeza que causa a revolta estudantil porque a polícia não permitiu que se fumasse maconha no campus universitário. De fato, existem tantas outras causas que deveriam causar maior comoção dos estudantes que a proibição da maconha na USP. Como exemplos, cito o relatório do TCU (Tribunal de Contas da União), divulgado em 09 de novembro, que aponta irregularidades em 26 obras públicas, com um risco de prejuízo de milhões ao erário; o aumento do número de vereadores em grande parte dos municípios brasileiros; ou então a discriminação oficial da saúde pública, porque a ANS (Agência Nacional de Saúde) baixou resolução estabelecendo prazo de até 21 dias úteis para que o paciente com plano de saúde seja atendido enquanto que quem depende do SUS fica dependendo da própria sorte. Entretanto, para esses estudantes da USP que invadiram a reitoria, poucos, é verdade, nada é mais importante que a proibição da polícia para que fumem maconha dentro da universidade. Houve um tempo em que os estudantes, sobretudo os universitários, representavam a vanguarda. De muito isso não mais é verdade.

Assim, não consigo compreender, nos dias atuais, a manutenção de faculdades gratuitas para pessoas que tem condições de pagar pelo estudo, sobretudo porque não há créditos oficiais para todos os estudantes que desejam cursar o 3º grau em escolas privadas. Explico. Se os recursos públicos não são suficientes para proporcionar a todos o acesso ao ensino superior gratuito, porque não disponibilizar esse acesso gratuito aos estudantes que comprovadamente não tem condições de arcar com os custos de uma universidade? Se a família do estudante tiver recursos, deveria ela arcar com o pagamento dos custos dessa formação, e assim o dinheiro público seria destinado àquele de família mais humilde. Em outros países, aliás, estudantes que não pagam a faculdade prestam serviço em instituições públicas depois de formados (hospitais, escolas etc), o que é bom para eles, pois exercitam na prática o aprendizado acadêmico, e é bom para a sociedade, que sente o resultado do dinheiro público investido com mão de obra qualificada (atualmente, qualquer um que se forme em faculdade mantida com o dinheiro dos nossos impostos não tem obrigação nenhuma de retribuir nada para a sociedade). Mas quem tem condições de pagar pelo aprendizado, e esse quase sempre é o estudante que veio de escola particular, deve pagar pela faculdade.

A PM agiu bem em cumprir a ordem judicial de retomada do prédio público. Ninguém está acima da lei, e esse recado foi bem dado, pois é preciso acabar com essa hipocrisia de que dentro das universidades, sobretudo das públicas, tudo é permitido. Esses vândalos devem responder pelos crimes cometidos da mesma forma que quaisquer pessoas, pois o fato de serem estudantes não lhes confere imunidade. A questão, agora, é discutir a situação das universidades mantidas com nossos impostos, para que sejam verdadeiramente públicas.

(*) Vladimir Polízio Júnior, 40 anos, é defensor público

(vladimirpolizio@gmail.com)

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