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Devemos falar sobre suicídio?

Por Cristiane Lang (*) | 07/06/2025 13:30

Sim. Mil vezes sim. Devemos falar sobre suicídio com seriedade, com sensibilidade, com responsabilidade — e, acima de tudo, com urgência. Não se trata de um tema fácil. Há dor, há silêncio, há medo. Mas o que mais existe, infelizmente, é solidão. E essa solidão é a maior aliada de uma tragédia que, na grande maioria das vezes, poderia ter sido evitada.

O suicídio não acontece de repente, como um raio em céu azul. Ele se anuncia, ainda que de forma sutil. É um acúmulo de silêncios, de pedidos de socorro disfarçados, de gestos que muitos não percebem. E, principalmente, é um sintoma extremo de uma dor mental que a pessoa já não sabe mais como administrar.

Por isso, falar sobre suicídio não é incentivar. É prevenir. É permitir que aqueles que sofrem encontrem uma fresta de luz no meio do túnel escuro. É dar nome ao que machuca. É desmistificar o tabu. Porque quem fala sobre suicídio com responsabilidade está, na verdade, falando sobre vida.

A dor invisível dos quadros depressivos

A depressão é, muitas vezes, silenciosa. Não grita. Não sangra. Não se mostra em exames laboratoriais. Mas ela corrói por dentro, esgota, paralisa. A pessoa que sofre com depressão frequentemente sente que está vivendo com um peso constante sobre o peito. E, o mais cruel, é que esse peso não se vê. E por não ser visível, o sofrimento é muitas vezes deslegitimado.

Frases como “isso é frescura”, “todo mundo tem dias ruins”, ou “você não tem motivo para estar assim” não ajudam — ao contrário, empurram a pessoa ainda mais para o isolamento. A depressão, quando ignorada ou mal compreendida, pode evoluir para um ponto crítico. E é nesse ponto que o pensamento suicida muitas vezes se apresenta como uma saída. Não por vontade de morrer, mas por cansaço de viver daquele jeito.

E é justamente aqui que entra a urgência da ajuda profissional.

Buscar ajuda é um ato de coragem

Existe uma ideia equivocada de que pedir ajuda é sinal de fraqueza. Mas é exatamente o oposto: reconhecer que não está bem e procurar apoio é um dos gestos mais corajosos que alguém pode ter. A depressão é uma doença, e como qualquer doença, precisa ser tratada.

Psicólogos, psiquiatras, grupos de apoio, redes de acolhimento: todos têm papel fundamental no processo de recuperação. Medicamentos, quando indicados, são ferramentas importantes. Mas tão importante quanto o tratamento é a presença de escuta e de empatia — tanto por parte dos profissionais quanto das pessoas próximas.

Se você está lendo este texto e está passando por um momento difícil, saiba: você não está sozinho. Mesmo que pareça. Mesmo que ninguém tenha notado o que está acontecendo. Mesmo que tudo pareça sem sentido agora. Existe ajuda. Existe tratamento. Existe caminho. E sim, existe esperança.

O papel de quem está por perto

Se você conhece alguém que parece estar sofrendo, não ignore. Não ache que é drama. Não pense que “quem quer se matar não avisa”. Essa é uma das maiores mentiras que já se disseminaram. Muitas vezes, a pessoa dá sinais — mas de forma velada. Comentários como “não aguento mais”, “seria melhor se eu não estivesse aqui”, ou até mudanças bruscas de comportamento devem ser levados a sério.

Não tenha medo de perguntar diretamente: “você está pensando em tirar a própria vida?” — essa pergunta não coloca a ideia na cabeça de ninguém, mas pode salvar uma vida ao abrir uma porta para o diálogo.

Ofereça apoio, escuta, acolhimento. Incentive a busca por ajuda profissional. E, acima de tudo, não minimize a dor alheia.

Falar é sempre o começo

Falar sobre saúde mental, sobre depressão, sobre suicídio, deve ser um compromisso contínuo da sociedade. Porque enquanto existir alguém sofrendo em silêncio, o nosso trabalho de conscientização ainda não acabou.

A prevenção ao suicídio começa na escuta, passa pelo acolhimento e se fortalece com o tratamento. Não podemos fingir que não vemos. Não podemos silenciar diante do sofrimento do outro. E, principalmente, não podemos deixar de dizer, sempre que possível: “você importa. Sua vida importa. E tem jeito, sim.”

Se você precisa de ajuda, não hesite

Centro de Valorização da Vida (CVV)

Ligue 188 – atendimento gratuito, anônimo e disponível 24 horas por dia.

Ou acesse www.cvv.org.br

Falar sobre suicídio é falar sobre vida. E toda vida merece ser cuidada, preservada, acolhida. Vamos continuar essa conversa — por você, por mim, por todos nós.

(*) Cristiane Lang, psicóloga clínica especializada em Oncologia

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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