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Homossexualidade: questões psicológicas e o preconceito

Por Renan Antônio da Silva (*) | 12/04/2017 10:10

Os primeiros autores que escreviam sobre homossexualidade geralmente entendiam que ela era intrinsecamente ligada ao próprio sexo do sujeito. Por exemplo, pensava-se que uma pessoa com um típico corpo feminino atraído por pessoas do mesmo sexo e corpo feminino, teriam atributos masculinos, e vice-versa.

Esse entendimento foi compartilhado pela maioria dos teóricos importantes da homossexualidade a partir de fins do século XIX até inícios do século XX, como Karl Heinrich Ulrichs, Richard von Krafft-Ebing, Magnus Hirschfeld, Havelock El- lis, Carl Jung e Sigmund Freud. No entanto, esse entendimento da homossexualidade como inversão sexual foi contestado no momento, e durante a segunda metade do século XX, a identidade sexual passou a ser cada vez mais visto como um fenômeno distinto de orientação sexual.

Indivíduos transgêneros e cisgêneros podem ser atraídos por homens, mulheres ou ambos, embora a prevalência de diferentes orientações sexuais seja bastante diferente nas duas populações (ver mulher transexual).

Um indivíduo homossexual, heterossexual ou bissexual pode ser masculino, feminino ou andrógino, e, além disso, muitos membros e simpatizantes das comunidades gays e lésbicas veem agora o “sexo-conformes heterossexual” e “gênero não conformes homossexual” como os estereótipos negativos.

No entanto, estudos realizados por J. Michael Baile e K.J. Zucker revelaram que a maioria dos relatórios gays e lésbicos em gênero reportam um “não gênero” durante seus anos de infância. Richard C. Friedman, em seu Homossexualidade Masculina publicado em 1990, escrito a partir de uma perspectiva psicanalítica, argumenta que o desejo sexual começa mais tarde do que os escritos de Sigmund Freud indica, não na infância, mas entre as idades de 5 e 10 anos e não é focado numa figura da mãe, mas dos pares. Como consequência, raciocina, os homossexuais não são anormais, uma vez que nunca foram sexualmente atraídos por suas mães.

Atualmente, as principais organizações internacionais de saúde (incluindo as de psicologia) afirmam que ser homossexual ou bissexual é uma característica compatível com uma saúde mental e um ajustamento social completamente normal; tais instituições médicas também não recomendam que as pessoas tentem alterar a sua condição sexual. Desde 1973 a homoafetividade não é mais classificada como um transtorno pela Associação Americana de Psicologia.

Em 1975, a Associação Americana de Psicologia adotou o mesmo procedimento ao deixar de considerar tal como uma doença. No Brasil, em 1984, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) posicionou-se contra a discriminação e considerou a homoafetividade algo que não prejudica a sociedade.

Em 1985, a ABP foi seguida pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), que deixou de considerar a homossexualidade um desvio sexual e, em 1999, estabeleceu regras para a atuação dos psicólogos em relação às questões de orientação sexual, declarando que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão” e que os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento ou “cura” da homossexualidade.

Aliás, quando se trata da visão homoafetiva, o uso do termo “cura” chega ser ofensivo, não às pessoas que mantêm esses relacionamentos, mas a ciência que sequer pode dar alguma explicação, o que, do meu ponto de vista não se faz necessário, que dirá propor cura. A mesma vergonha compartilhará os que persistem em tratar do assunto sob a ótica do preconceito, mostrando na verdade, que sofrem de alguma disforia os que se sentem demasiado incomodados com o modo de vida de outrem, às vezes, esquecendo-se das suas próprias.

Maior ignorância comete aquele que adere ao uso do termo ‘homossexualismo’, surgido século XIX, por volta da década de 1860 ou 1870, criado pelo discurso médico para identificar o sujeito homossexual. Uma vez que o sufixo “ismo” é utilizado para referenciar posições filosóficas, ideológicas e/ou científicas, diversos psicólogos e outros afirmam que sua utilização é errônea e usada no passado como forma de associá-la a distúrbio mental ou doença.

Em alguns léxicos, o ‘homossexualismo’ aparece definido por prática de atos homossexuais, enquanto o termo homossexualidade é aplicado à atração sentimental e sexual. Também por isso, muitas pessoas consideram que o termo ‘homossexualismo’ tem um significado pejorativo, e isto tem levado a que o termo seja hoje em dia mais utilizado por pessoas que têm uma visão negativa da homossexualidade.

(*) Renan Antônio da Silva é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Unesp (Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho") Araraquara; realizou estágio doutoral com bolsa CAPES/PDSE junto ao Centro em Investigação Social (CIS/ISCTE-IUL), em Lisboa/Portugal, na linha temática Gênero, Sexualidades e interseccionalidade (2015-2016)

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