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Introvertidos e oprimidos

Por Ronaldo Mota (*) | 07/02/2015 09:30

O modelo educacional vigente e a sociedade atual moldamas instituições e os procedimentostendo como referência o comportamento presumidoe idealizado de cada um de nós. Há um mito educacional de que as crianças e os jovens são,ou deveriam ser, todosextrovertidos. Assim, partindo de tal pressuposto, findamos, muitas vezes,indevidamente entendendo como estranhosaqueles que se comportam diferentemente do previsto.

Entre osalunos, os líderessão, em geral, os mais falantes e que tomam as iniciativas e, por consequência, desfrutam da popularidade resultante. Resta aos introvertidos, quase sempre, lidar com suas supostas anomalias e constrangida timidez.Em suma, há uma tendência educacional e empresarial de reforçar como positivas, principalmente, as manifestações mais expansivas, em detrimento de atitudes aparentemente mais tímidas. Susan Cain discorre sobre o tema, sob o título "Poder dos Quietos", em um interessante TED disponível gratuitamente (http://m.youtube.com/watch?v=-nTp2e4bCMc/).

Algumas metodologias educacionaisenxergamneste padrão expansivo uma indicação de garantia de sucesso futuro, e assim, implicitamente, reforçam o desconforto dos naturalmente menos expansivos. As tradicionais salas de aula em fileiras, cada vez mais, dão lugar a círculos, ou assemelhados, onde afloram mais facilmente os talentosos desinibidos.

Tal distribuição espacial se reproduztambém no mundo dos escritórios,na forma de ambientes abertos de trabalho,sem paredes, pouco importando a não atendida predileção dos mais tímidos pelos, em extinção,cubículos privados.

Muitos educadores, incluindo o que escreve, têm apregoado a importância de atividades em equipe, seja na educação ou nos negócios. Corre-se o risco de passar afalsa visão de que criatividade, capacidade de iniciativa ou empreendedorismo decorram da extroversão. Ledo engano, não é assim que funciona. Não hácorrelação direta comprovada entre extroversão e criatividade, oumesmo associação clara comcompetência ou espírito empreendedor.

Os talentos podem estar, e estão, em todo o espectro, dos mais agitados aos mais quietinhos, ounos múltiplos intervalos entre as pontas.

Não se trata, obviamente, de reprimir os extrovertidos, mas sim de diminuir a excessiva opressãoaos que assim não se comportam. Sem o que, eles, os introvertidos, podem se transformar em cada vez mais tímidos, e depois em excluídos. E a sociedade, mesmo que inconscientemente, mais uma vez,desperdiçar talentos. Ou seja, a atmosfera de opressão trazprejuízos individuais e, sobretudo, coletivos.

As aparências enganam e cada um de nós,na sua singular complexidade, sabe disso a partir de si mesmo. Por exemplo, mesmo após umaextrovertida e brincalhona palestra, eu não consigo esconder um quê de antissocial, desconforto no grupo ou na multidão e, por vezes, dificuldades no trato pessoa a pessoa. Todos nós somos um pouco assim, uns mais e outros menos, e é bom que continuemos a sê-lo, com naturalidade e sem opressão.
Um 2015 repleto de inovação e educação a todos!

(*) Ronaldo Mota é reitor da Universidade Estácio de Sá e professor titular aposentado da Universidade Federal de Santa Maria

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