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Juca Ganso

Por Heitor Freire (*) | 10/07/2013 06:00

Juca Ganso, um dos maiores comunicadores do rádio em nosso estado, não está mais entre nós. Faleceu no dia 8 último. Tive o privilégio de entrevistá-lo para a edição do livro “Rádio – a voz da história sul-mato-grossense”, editado pelo Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, realizado em parceira com Vera Tylde de Castro Pinto, com patrocínio do Sesc.

Juca era um apaixonado pelo rádio, pela sua profissão, foi tema de um trabalho acadêmico de Jorge Witwytzky e Caio Nantes de Melo “Quem ouvir favor avisar - A hora do fazendeiro”, o que bem demonstra a sua influência que se estendeu por todos os meios de conhecimento. Fez escola, foi mestre de muitos comunicadores que hoje lamentam a sua ausência.

Era simples, de uma simplicidade comovente. Alegre, extrovertido fez do microfone a sua via de realização pessoal, profissional e espiritual. Certamente, juntou-se à voz de seu irmão Ramão Achucarro que o precedeu na vida eterna e que foi o seu grande amigo e companheiro. Eram muito unidos. Tanto que quando a vista começou a lhe faltar, o Ramão passava todas as quartas feiras para levá-lo à novena na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, sua grande devoção.

Sua influência foi tão grande que até virou prêmio, Troféu Juca Ganso, para premiar personalidades da comunicação em nosso estado. A sua capacidade de comunicação se estende no tempo e no espaço, seus ouvintes tem sempre em mente o seu famoso bordão “Quem ouvir favor avisar”.

Juca era paraguaio. Como eu, nasceu em Pedro Juan Caballero, vindo para Campo Grande com dez anos. E aqui ficou. Só se ausentou por um período em que acompanhou sua mãe para tratamento médico em São Paulo.

O seu trabalho teve todos os reconhecimentos: de público, dos ouvintes, das autoridades. Recebeu o título de cidadão campo-grandense foi também agraciado com a Medalha de Mérito Legislativo da Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso do Sul.

O seu relacionamento com os ouvintes era tão significativo que o tinham como o próprio símbolo da comunidade: prestador de serviços, confidente, cupido, compadre. Era comum receber de presente de seu fã-clube: galinhas, hortaliças, flores.

Na entrevista para o livro do rádio, lembrou alguns anúncios fantásticos, como “a porca da sua mãe, o burro do seu pai, para esperar na porteira”. Alguns já fazia como gozação “avisa o fulano que o negócio do cavalo está de pé, não é para mexer em nada,
que está tudo certo”.

O seu irmão Ramão Achucarro foi outro grande ícone do rádio em nossa capital. Por mais de cinqüenta anos consecutivos no ar, sempre na rádio Cultura. A morte do Ramão foi muito sentida. Deixou um vazio que agora, certamente no reencontro na dimensão maior será motivo de alegria e muita comemoração para ambos.

No livro, pinçamos um trecho de uma crônica de Silvio Amado, “A casa do fazendeiro” onde ele conta como surgiu o programa “A hora do fazendeiro” e como se desenvolveu. Nela Amado até faz uma comparação: “era para os fazendeiros como era o Repórter Esso da Rádio Nacional, para todo o Brasil: o programa de maior audiência, tanto nas fazendas como na cidade”.

A lembrança de Juca Ganso permanecerá na memória e no coração de todos os seus ouvintes. A história de rádio não poderia ser contada sem a participação dele. Como a primeira edição do livro encontra-se praticamente esgotada, estamos providenciando uma segunda edição, onde, naturalmente, o Juca Ganso continuará como personagem da maior expressão.

A sua voz não se calou, Juca, ela só mudou de freqüência.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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