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Meio século de ação cidadã

Por Ruy Martins Altenfelder Silva (*) | 13/02/2014 09:49

Datados de 50 anos atrás, os registros das atividades nos primeiros meses do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) confirmam um raro exemplo de fidelidade à missão eleita pelos fundadores: introduzir e estimular no Brasil o instituto do estágio, uma modalidade de formação profissional que alia o ensino acadêmico e a prática no mundo real do trabalho. Com essa sábia visão, os fundadores – um grupo idealista de empresários, educadores e representantes da sociedade civil – pretendiam contribuir para solucionar um triplo problema que, aliás, persiste até hoje como um dos gargalos ao desenvolvimento sustentável.

Numa primeira vertente, eles se preocupavam com empregabilidade dos estudantes, cuja formação carecia do complemento da experiência prática para que pudessem atender às demandas de um mercado de trabalho que vinha se sofisticando desde a fase desenvolvimentista do governo Juscelino Kubitschek, com seu slogan “cinquenta anos em cinco”. Num segundo ângulo, o estágio surgia como um eficaz caminho para que as empresas recrutassem, treinassem e selecionassem novos talentos que dariam, a curto prazo, suporte para seus planos de expansão. Finalmente, com visão de futuro, miravam na qualificação permanente do capital humano do País, que nasceria da integração entre a escola e a empresa, como uma das condições indispensáveis para dar sustentabilidade a uma era duradoura de desenvolvimento socioeconômico.

A proposta encontrou, já de início, ressonância nos principais círculos envolvidos com a questão da formação profissional dos jovens. Documentos fotográficos mostram os primeiros encontros e conferências de trabalho, que reuniam representantes de estudantes, de empresas e de universidades, num expressivo recorte do papel aglutinador que o CIEE desempenharia ao longo dos anos vindouros. Os participantes cumpriram uma alentada agenda de atividades que consumiu quase um ano e meio de estudos e debates, sob a presidência do saudoso prof. Victório D. Palmieri, que viria a dirigir a nova entidade até o ano de 1996. Aparentemente árido, o tema “Estágios de aprendizagem – Habilitação de estudantes” lotou, por várias vezes, o auditório Roberto Simonsen, da Fiesp/Ciesp, uma das entidades que desde o primeiro momento apoiou a iniciativa. Ao completar meio século de atuação ininterrupta, o CIEE se orgulha dos números que colecionou: 13 milhões de jovens encaminhados para o mercado de trabalho, 28 mil instituições de ensino conveniadas e 250 mil empresas e órgãos públicos parceiros. Consciente de seu papel como referência entre as entidades de assistência social de filantropia, o CIEE continua atento às desigualdades que ainda persistem no País, apesar dos avanços ocorridos nessas cinco décadas. Sempre com foco na necessidade de assegurar a empregabilidade jovem, há dez anos decidiu incluir a aprendizagem entre as oportunidades que oferece para facilitar o acesso ao mercado de trabalho, em especial aos jovens menos favorecidos.

Esse olhar para o futuro, com os pés na realidade atual, levou o CIEE a manter uma rede nacional de 350 pontos de atendimento e de quase 1,5 mil salas de capacitação teórica para aprendizes. E também a dar continuidade a um programa de alfabetização de adultos que já beneficiou mais de 50 mil alunos; a oferecer cursinho gratuito para vestibular a 500 estudantes da periferia de São Paulo; a disponibilizar na internet um programa de cursos à distância, com mais de 2 milhões de matrículas em sete anos; a abrir oportunidades de estágio e aprendizagem num programa especial para jovens com deficiência; de entre outras iniciativas.

Nos próximos anos, o CIEE continuará honrando o compromisso de atuar como o grande parceiro dos futuros profissionais no desafio de ingressar num mercado de trabalho cada vez mais exigente e para o qual não foram adequadamente preparados pela escola e, em muitos casos, nem pela família. Por essas e muitas outras razões, o CIEE se orgulha de sua adesão cidadã à sábia disposição do artigo 203 da Constituição Federal que inclui entre os objetivos da assistência social – “que será prestada a quem dela necessitar” – a promoção da integração ao mercado de trabalho. Para tanto, sempre apostou e continuará apostando na força da educação e do trabalho como os melhores caminhos para um futuro próspero, igualitário e sustentável para mais e mais brasileiros.

(*) Ruy Martins Altenfelder Silva é presidente do Conselho de Administração do CIEE e da Academia Paulista de Letras Jurídicas (APLJ).

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