ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
JUNHO, QUARTA  18    CAMPO GRANDE 19º

Artigos

Ninguém escapa das tangentes da vida

Por Cristiane Lang (*) | 20/11/2024 08:30

Na matemática, uma tangente é uma linha que toca uma curva em apenas um ponto, sem cruzá-la. No entanto, no cotidiano, “sair pela tangente” é uma expressão que remete à ideia de fugir do caminho original, desviar de um plano ou escapar de uma trajetória direta. E é exatamente isso que a vida nos proporciona: tangentes inevitáveis que desafiam nossos planos e certezas.

Mas o que significa lidar com essas tangentes e como elas impactam nossa jornada?

1. A ilusão do controle: o mito do caminho reto

Vivemos em uma cultura que valoriza o controle e o planejamento. Desde cedo, somos incentivados a traçar metas claras, com passos bem definidos para alcançar o sucesso. A expectativa é seguir uma linha reta, evitando desvios e obstáculos. No entanto, a vida real raramente se conforma a essa linha imaginária. Relacionamentos acabam, carreiras mudam, planos falham. As tangentes surgem quando menos esperamos, forçando-nos a reavaliar, adaptar e, muitas vezes, mudar completamente de rumo.

O desafio reside em aceitar que não temos controle total sobre nossa trajetória. Podemos traçar planos e direções, mas é preciso reconhecer que desvios e mudanças fazem parte de um caminho mais complexo e dinâmico.

2. Tangentes como oportunidades: o valor dos desvios inesperados

Enquanto muitas vezes encaramos as tangentes como desvios indesejados, elas podem ser, na verdade, portas para experiências transformadoras. Às vezes, o melhor que nos acontece não é o que planejamos, mas aquilo que nos é imposto ou revelado por circunstâncias inesperadas. Um emprego perdido pode levar a uma nova paixão profissional; um relacionamento encerrado pode abrir espaço para uma nova conexão mais autêntica.

As tangentes revelam novos horizontes que, em nossa tentativa de seguir uma linha reta, poderiam passar despercebidos. Quando abraçamos a mudança com abertura e curiosidade, nos permitimos aprender com os desvios e ampliar nossa visão.

3. O medo do desvio: por que resistimos às tangentes?

Há uma razão psicológica pela qual resistimos às tangentes da vida: o medo do desconhecido. Desvios representam o abandono do familiar, de nossos planos e de nossa zona de conforto. Isso desperta inseguranças, especialmente quando as tangentes surgem abruptamente, sem aviso. Queremos acreditar que nossas escolhas nos levarão diretamente a um destino previsível e satisfatório, mas isso raramente é realista.

Essa resistência ao inesperado pode nos levar à paralisia ou à negação, o que, por sua vez, nos impede de crescer e explorar novas possibilidades. Aprender a lidar com o medo do desconhecido é, portanto, um passo essencial para aceitar as tangentes como parte da jornada.

4. Encontrando propósito nas tangentes: transformando o inesperado em possibilidade

O segredo para lidar com as tangentes da vida não é apenas aceitá-las, mas encontrar um propósito dentro delas. Para isso, é necessário desenvolver a habilidade de enxergar além da frustração inicial e reconhecer o valor de novas experiências. Isso exige uma mentalidade de aprendizado e resiliência.

Exercício prático: Em momentos de desvio, faça perguntas a si mesmo como: “O que posso aprender com essa situação?” ou “Quais novas oportunidades podem surgir a partir daqui?”. Essas perguntas ajudam a redirecionar o foco da perda para o crescimento.

5. O papel das tangentes na redefinição do eu

As tangentes muitas vezes forçam uma reflexão sobre quem somos e sobre o que realmente importa. Ao sair da linha planejada, entramos em um território onde o antigo “eu” pode já não servir mais. Esses momentos são convites para reconsiderar nossas crenças, redefinir prioridades e expandir nossa visão do mundo e de nós mesmos.

Sair da rota original não é apenas uma questão de mudança de direção, mas uma oportunidade de transformação. As tangentes nos desafiam a reimaginar a vida e, muitas vezes, nos revelam aspectos ocultos de nosso potencial.

A beleza das tangentes e a aceitação da vida imperfeita

Ninguém escapa das tangentes da vida porque elas são a própria essência de viver. Ao invés de resistir, precisamos aprender a dançar com elas, reconhecendo que desvios fazem parte do percurso. A linha reta pode parecer segura, mas é limitada. As tangentes, por outro lado, expandem nossa visão, nos conectam com novas possibilidades e nos ensinam que o verdadeiro caminho não é o planejado, mas o vivido.

Aceitar as tangentes é aceitar que a vida é imperfeita, dinâmica e cheia de surpresas. E, ao final de nossa jornada, são essas surpresas, desvios e reencontros que nos dão as histórias mais ricas e os aprendizados mais profundos. Afinal, a beleza de uma trajetória não está em sua linearidade, mas em sua capacidade de nos transformar ao longo do caminho.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

Nos siga no Google Notícias