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O custo da energia na obtenção de água

Lucas Felipe Fink (*) | 23/10/2020 13:07

Há de se apreciar a praticidade com que atualmente recebemos a água. Apenas com o girar de uma torneira, somos capazes de obter água em quantidade e qualidade suficientes para qualquer uma de nossas tarefas rotineiras, sem nem ter de imaginar o esforço demandado para a movimentação desse volume de água da fonte original até nossas casas.

Os poços manuais, apesar de ainda serem utilizados para a captação de água em algumas regiões isoladas, são cada vez menos presentes nas comunidades, devido à cada vez maior disponibilidade de redes de energia elétrica e à vantagem econômica de realizar o trabalho de bombeamento da água por meio de conjuntos motobomba elétricos.

Os sistemas de bombeamento são equipamentos capazes de utilizar energia elétrica para adicionar pressão ao fluxo de água, assim permitindo que esse fluxo alcance os consumidores em locais mais distantes e níveis mais altos.

Dessa forma, o insumo mais demandado em sistemas de captação e distribuição de água costuma ser a própria energia elétrica fornecida ao conjunto de bombeamento.

De acordo com as informações do Diagnóstico do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2018, os custos da energia elétrica utilizada na captação e no bombeamento de água usualmente atingem metade dos custos totais demandados pelos serviços de água municipais, podendo atingir proporções equivalentes a 75% dos custos totais em sistemas menos aprimorados.

A menor eficiência na utilização de energia e o consequente maior custo per capita das faturas em comunidades menores se devem a uma série de fatores: atendimento a regiões menos populosas, havendo a necessidade de grande quantidade de energia para atingir consumidores isolados; gestão dos serviços municipais de água por agentes do próprio município, os quais raramente possuem os conhecimentos necessários à otimização técnico-econômica desses serviços; inviabilidade de implantação de sistemas de medição, impedindo o reconhecimento de valores excedentes aos padrões, dentre outros.

O próprio interesse pela economia de recursos despendidos costuma ser inferior ao por outras demandas sociais mais imediatas, especialmente se tendo em vista que os interesses sociais no setor de saneamento tendem a ser muito mais voltados ao atendimento das necessidades básicas, raramente sendo pressionada a eficiência na utilização dos recursos para este fim.

De um modo geral, o custo da energia demandada para o transporte da água é transferido diretamente para o consumidor na forma de tarifa pelos serviços municipais, o que acaba por aumentar os custos das faturas de água quando da utilização inquestionada dos sistemas de bombeamento municipais.

Os estudos na temática de eficiência energética em saneamento são cada vez mais extensos e aprofundados, apresentando, porém, maiores oportunidades para sistemas de abastecimento de maior porte em função de uma organização tecnológico-financeira mais minuciosa.

Atualmente, o maior problema para a avaliação de oportunidades de aprimoramento da eficiência energética em municípios de pequeno porte reside no baixo nível de instrumentação capaz de verificar o funcionamento atual das instalações.

Em um sistema de bombeamento em que é difícil se determinar sequer o volume de água efetivamente produzido, a tarefa de concluir se o sistema apresenta custos energéticos razoáveis se torna impossível, já que estes são diretamente proporcionais ao volume de água produzido.

Apesar da possibilidade de aquisição de medidores para o controle da oferta de água, ainda há de se enfrentar a ausência de profissional capaz de calibrar os medidores e interpretar os resultados obtidos.

Frente à tamanha dificuldade no diagnóstico da eficiência energética desses sistemas de bombeamento, é praticamente inviável a avaliação de ações de sua possível implantação. Isso ocorre porque o custo demandado pela implantação de ações deve ser inferior ao da economia nos gastos energéticos, de modo a gerar benefício econômico. A determinação da economia provinda da implantação de medidas de contenção de gastos, porém, também depende da quantidade de água produzida por unidade de energia, ou seja, não há como afirmar que a medida a ser implantada será economicamente vantajosa ou não.

Algumas poucas medidas podem ser implantadas, apesar da falta de macromedidores, dentre elas a implantação de geração alternativa e alteração de modalidade tarifária.

Ambas as medidas mencionadas necessitam apenas da medição do consumo de energia elétrica, o qual está sempre presente no medidor da concessionária de energia.

A geração alternativa é uma opção caso as tarifas de energia elétrica das redes concessionárias locais sejam muito elevadas, sendo possível o investimento em um sistema de geração fotovoltaica por meio de financiamento.

A alteração de modalidade tarifária visa reduzir a demanda do Sistema Interligado Nacional em horários de consumo elevado através da flexibilização das tarifas a valores mais baixos em determinados horários do dia.

Apesar da oportunidade de avaliação, há ainda que se verificar, caso a caso, a vantagem econômica da adoção de cada medida. Além disso, verifica-se que as ações citadas não alteram os níveis de desperdício de energia, apenas possibilitando uma redução nos custos das faturas energéticas.

Infelizmente, ainda são poucos os avanços na prática da otimização de pequenos sistemas de bombeamento de água, tendo como maior entrave a insuficiente gestão da informação dos serviços de água municipais em pequenas comunidades.

Espera-se que, em um futuro próximo, haja um maior engajamento das municipalidades na busca de soluções para esses problemas financeiros por meio de um maior reconhecimento da informação como ferramenta essencial no auxílio de decisões.


(*) Lucas Felipe Fink é mestrando do Programa de Pós-graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental da UFRGS

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