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O fenomenal Bernal I

Célio Evangelista Ferreira (*) | 01/08/2013 08:28

A democracia brasileira começou a nascer no momento em que o mundo iniciava um revolvimento profundo e extenso em seus suportes formulatórios, doutrinários, ideológicos e estruturais, tentando instalar uma nova ordem planetária uniformizada pela autodeterminação dos povos, regida pela soberania de consciência, competição e concorrência, que também sofria modificações conceituais trazidas pela Ciência, que derrubava as fronteiras das nações e as congregava em humanidade reunida pelas avenidas, salas e praças virtuais de relacionamentos, negócios e trocas de informações, quase instantâneas e sem obstáculos.

É natural então, que a Constituição da República apenas projetasse a democracia que a vocação de liberdade do povo brasileiro inspirava. E basta ler-se os princípios fundamentais e os direitos e garantias fundamentais da Carta para se notar isto.

Por isso, temos 24 anos de dinâmica exercitação política sem termos produzido lideranças partidárias, porque, sequer partidos políticos programáticos se formaram. E tanto isto é real que a própria classe política clama contra o partidarismo insubsistente, que tornaram o governo inviável em sua formação de sufrágio, e o obriga às composições pela “governabilidade,” na qual inicia a corrupção.

Daí, sequer dá para reconhecer-se, em âmbito de Ciência Política, um canteiro de obras do Estado Democrático de Direito, instalado. Pois, sequer a nação havia se apercebido de que a democracia brasileira inverte a espiral do poder do cidadão para o Estado, por duas operacionalidades do mesmo: a indireta mandatária, e a direta de cidadania. Até uma confusão jurídica feia existe na definição de pessoa civil e pessoa cidadã.

Dai, como tivemos o fenômeno eleitoral Fernando Collor na Presidência da República e personalidades públicas exóticas por toda a federação, surgiu, também, em Campo Grande-MS, o fenômeno eleitoral Alcides Bernal. Produto da insubmissão da nação ao dogma do pluralismo político e renovação do poder. Porquanto, a 20 anos o PMDB se manteve ininterruptamente no governo municipal. Esse fato, além de negar a essência dogmática da democracia e gerar uma dinastia partidária oligárquica no poder, gerou a estafa política do povo pelas mesmas figuras em sua vida pública, como se uma população de mais de 750 mil membros tivesse atrofiado a sua genética e estivesse, por isso, fadada a ter famílias imperiais como elementos únicos remanescentes de antepassados extintos. Ao que se ajuntavam as queixas de desmandos, que são óbvias em tal situação.

Nessa conjuntura, o dr. Alcides Bernal, parlamentar, radialista, carismático, de boa retórica, faturou o pleito eleitoral pela soma da conjuntura política com os seus predicados de palco. Ninguém lembrou que o seu partido PP tem Paulo Maluf de Presidente. Uma pessoa que está confinada no Brasil, porque tem mandado de prisão contra si no mundo todo, por corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas; e, internamente, sofre desqualificação moral por processos em todo o seu percurso de vida pública. Claro que não se desclassifiqua o partido político, porém, é muito antiga a lição de observação que adverte: “Diga-me com que andas e te direi quem és;” “os semelhantes se atraem;” “os iguais se classificam pela índole comum que os assemelha.”

E já não era boa ao tempo do concurso eleitoral, a conduta profissional de advogado do candidato, para as lides governamentais com o dinheiro público, vez que, não teve ele, escrúpulo de se apropriar de indenização recebida para uma sua cliente, anciã e deficiente física, ou de ter se resguardado de forma legal de sua eventual lisura profissional. Impondo-se invocar outra lição de advertência insuperável: “Honestidade é estado de consciência; não existe por metade;” “o caráter se revela na atitude e não no conceito;” “a idoneidade para o trato da coisa pública é atestado pela sensibilidade da pessoa para com o estado de carência do seu semelhante.”

Lições que resultaram aplicáveis quando ele, de início, transferiu vultosa soma de recursos públicos de um banco para outro, sem nenhum fato que o determinasse. E, ato contínuo, adquiriu um imóvel de valor incompatível com as suas rendas. E, ao clamor do povo, estornou o trespasse bancário e desfez o negócio do imóvel. Logo, ficou desnecessária prova de incontinência diante de dinheiro; levando a admitir-se que ele é imputável pela falta de escrúpulos com o dinheiro de arrimo de sobrevivência da sua cliente deficiente física.

Com essa bagagem, ou sobre esse suporte, o mesmo assumiu o governo municipal, percebendo que tinha de ser a novidade das urnas para o povo, mas não podia mudar o status quo ante da Administração, no que se referia ao escrúpulo com a coisa pública, porque parece que não lhe convinha proceder diferente nesse campo. E então, comunicador esperto, armou o seu palco, tendo a Câmara Municipal como elenco de descarga da vigilância pública, no papel de demolidora, e ele, como galã do show, contracenando com a plateia ao mesmo tempo em que dirige o espetáculo pelo elenco de descarga.

Nesse enredo, no qual ele é produtor, ator e diretor, foi criada uma “CPI do Calote,” institucionalmente esdrúxula; porém, acresce ao trespasse bancário, suspensão de considerável volume de pagamentos para credores da municipalidade, sem fundação explicável para o rompimento ex-abrupto das adimplências contratuais. E a isso soma-se acusação de retenção pelo mesmo regime discricionário e sem causa, de dinheiro de entidade dos funcionários municipais; de nomeação de procurador jurídico da municipalidade maculado de grave censura ética. E os rumores de mídia se avolumam não sobre a administração do mesmo, e sim, sobre a sua dificuldade de convivência com a coisa pública. (continua na parte II)

(*) Célio Evangelista Ferreira é escritor

e-mail: cexvanaverba@hotmail.com

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