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O sorriso matado

Por Egon Heck (*) | 19/11/2011 12:00

Balas assassinas mataram Nisio Gomes. Seu jeito meigo e sorridente, era sua característica principal, inconfundível. Sua fala baixa, se tornava por vezes quase incompreensível.

Ele estava em quase todas as mobilizações de luta do povo Kaiowá Guarani pelos seus direitos, especialmente à terra. Nos últimos dez anos já voltara quatro vezes a seu tekohá Guaiviry. Era um lutador resistente, persistente.

Não desistia nem por nada a seu sagrado chão. Guduli, nhandesi, sua companheira, morrera há três anos, sem a alegria de viver em sua terra Guaiviry.

Ela era entusiasta e contagiava com sua disposição. Era profunda conhecedora a vida e religiosidade de seu povo. Era de uma energia inquebrantável. Com sua morte o grupo ressentiu bastante, mas não desistiu de sua luta, a volta ao tekohá.

Nisio sorriso tombou, nesta manhã. Friamente executado diante do seu .grupo por pistoleiros contratados pelos interesses contrariados da região. Mataram um lutador sorridente, mas não conseguiram matar a luta.

Dois dias antes de ser assassinado 45 Kiaowá Guarani, que participaram da Jeroky Guasu em Laranjeira Nhanderu, foram levar apoio, solidariedade e alguns alimentos aos seus parentes acampados em Guaiviry.

O grupo pressionado e cercado há 20 dias ficou muito feliz e alegre com a visita dos parentes. Numa das fotos Nisio, diante de seu barraco, está sorridente.

Assim um dos membros da delegação descreveu a visita “O grupo está na mata, estão bem. Decidiram que vão ficar ali, porque a terra lá é deles mesmo, eles não querem sair de lá. Já é a quarta vez que eles retornam para aquela terra.

O Kaiowá é assim, quando decide uma coisa, ninguém segura. Nós chegamos e fomos ver os barracos deles, o pessoal foi dançar com eles. Eles já fizeram um yvyra'i (altar) lá.” (Kuarahy)

Decisão

Infelizmente vemos mais sangue sendo derramado neste chão da nação Guarani Kaiowá. É um absurdo vermos tanto impunidade estimulando novas matanças dos nativos da terra, sem que sua terra lhes seja garantida.

Porém nada os demove os Kaiowá Guarani de terem de volta seus pedaços de chão, para viverem em paz. “Ninguém vai fazer por nós, somos nós mesmos que temos que fazer.

Como nós vemos lá, o Guaiviry, o pessoal está resistindo, estão dizendo que vão permanecer lá, apesar do perigo, da dificuldade, da falta de atendimento.

Essa é a decisão deles, e a decisão de cada um que está numa retomada hoje: Ypo'i, Kurusu, Amba, Pyelito. Isso é o que de fora as pessoas têm que ver. “ ( Kuarahy).

Após duas horas de conversa e rituais, conversa amena e preocupante assim foi relatada a situação “Por enquanto, lá no Guaiviry, ainda não houve nenhum ataque.

Uma pessoa nos contou que quase encontrou com um pistoleiro enquanto estava andando pela mata. Esse é o perigo que eles estão passando. No momento, não estão sendo atacados, mas nunca se sabe...”

Não demorou quarenta horas e o ataque e massacre aconteceu. Quanto sangue ainda precisará ser derramado para que se cumpra a Constituição e legislação internacional garantindo aos povos nativos, no caso os Kaiowá Guarani, suas terras e o sorriso volte aos rostos abatidos pela violência?

(*) Egon Heck é integrante do Cimi (Conselho Indigenista Missionário).

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