Por que estou saindo do PMDB?
Em Mato Grosso do Sul, o livre exercício da política no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PDMB) está insustentável.
A forma de condução do partido exercida por André Puccinelli oprime, comprime, reprime e deprime. Seu poder se agigantou potencializado pelo nanismo moral dos bajuladores que o cercam, chegando a temê-lo até mesmo fisicamente, gerando há tempos um clima de sufocamento do debate interno.
Com exceção de uma rara minoria, qualquer tema a ser discutido pelos membros do partido, começa pela seguinte indagação que dará o norte do debate: antes de tudo, o que o André deseja que se faça?
Ora, isso não é partido, mas arremedo de uma facção travestida de feudo pessoal.
Moldado à imagem de André, reconhecidamente um competente administrador, a cúpula do PMDB/MS revela total incapacidade de suportar opiniões divergentes que são fundamentais à oxigenação do partido. Pior ainda: usa o desprezo público e a manipulação odiosa para se ‘vingar’ dos que ousam discordar da inspiração poderosa de André.
Nesse cenário desolador, lideranças emergentes que procuram apenas exercer o direito de expor suas próprias convicções no partido são vistos como "estranhos no ninho" e passam a sofrer represálias e perseguições implacáveis.
Sem falsa modéstia, a dedicada eficiência com que honrei a responsabilidade de Deputado Federal, inclusive projetando nosso Estado em instâncias de grande relevância do Congresso Nacional, mereceria do partido o empenho pela renovação de um mandato reconhecidamente produtivo e limpo.
Isso se o partido não fosse o “PMDB de um só ”, que preferiu me ver como ameaça à unanimidade subserviente que se está tentando construir com obsessiva determinação, inclusive protagonizando efetivamente a coordenação da campanha de uma que foi candidata a deputada federal de outro partido que não o seu próprio, além de favorecer de forma deslavada e abusiva a candidatura a deputado federal de outro correligionário em prejuízo dos demais que são do mesmo partido.
Diante do constrangedor cerco imposto pela truculenta forma de lidar com quem não o obedece, de forma incondicional - sim, porque o primeiro passo para o cadafalso no partido é recusar-lhe fanática adoração - não me resta alternativa para contribuir com o debate público no país e em MS a não ser procurar um partido que me dê a liberdade de pensar e agir sem receio de ser caçado como desafeto ou inimigo.
Sem o mínimo espaço no partido que sempre busquei dignificar, e ao qual honrei com votação individual superior a de três candidatos eleitos, buscarei abrigo em agremiação partidária que estimule lideranças emergentes, que apóie boas práticas de fazer e que não sejam boicotados por não pertencerem à "panelinha do chefe".
Estou convicto de que muitos membros do partido endossam as razões que me levam dolorosamente a desfiliar-me do "Partido Pessoal de André Puccinelli" - pois a isto se reduziu o MDB de Ulysses e Simon em MS.
E compreendo perfeitamente, embora deplore, o silêncio de alguns que, mesmo desejando se levantar, preferem, de forma invertebrada, rastejar por medo da reação de alguns adjuvantes do poder especialistas em assassinar vocações e reputações.
Tenho em mãos documentos oficiais que comprovam a forma como fui prejudicado nesta última eleição pelo PMDB que procurei honrar. E eles serão revelados, se necessário for.
Enfim, não posso e não devo continuar em um partido que, de antemão, decide, pela vontade de um só, quem deve ou não deve ser eleito de acordo com critérios alheios à competência e ao trabalho.
Sem mágoas pessoais, porque a briga ainda está no terreno da política, mas indignado com a forma torpe e incompreensivelmente injusta como fui alijado deste processo eleitoral por ordem e desejo pessoal do grupo de André, estou me desfiliando do PMDB para ter o direito de praticar a política em um partido que cultive ideias e não adule um personagem.
Em consequência da desfiliação, renuncio ao cargo de secretário-geral do partido e de outras funções partidárias e administrativas no âmbito interno do partido, ressalvado obviamente o mandato legitimamente conquistado no pleito em 2010.
(*) Fábio Trad é advogado e suplente de Deputado Federal.