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Quando é melhor ficar quieto

Por Cristiane Lang (*) | 17/08/2025 08:30

Vivemos em um tempo em que a velocidade da comunicação ultrapassa a velocidade do pensamento. As redes sociais, as conversas instantâneas e a necessidade quase compulsiva de dar opinião sobre tudo criaram uma cultura onde o silêncio é visto, muitas vezes, como ausência ou fraqueza. Mas a verdade é que o silêncio, quando bem escolhido, é uma das formas mais poderosas de sabedoria e respeito.

A frase “saiba quando ficar em silêncio” parece simples, mas carrega um peso imenso de maturidade. Ficar calado não significa não ter nada a dizer — significa entender que nem tudo precisa ser dito. É um ato de autocontrole, de empatia e, muitas vezes, de amor próprio e amor ao próximo.

O impacto das palavras

Palavras têm força. Elas podem construir pontes ou erguer muros, curar feridas ou criá-las. Uma frase mal colocada, um comentário negativo ou uma crítica desnecessária pode gerar efeitos duradouros, mesmo que dita no calor do momento. É por isso que a sabedoria está em reconhecer: se não for para contribuir, edificar ou acrescentar algo positivo, o silêncio é a melhor resposta.

Isso não significa evitar conversas difíceis ou fingir que tudo está bem. Há momentos em que precisamos ser firmes, colocar limites e até confrontar situações. Mas existe uma enorme diferença entre uma fala construtiva e um comentário que apenas reforça a negatividade.

Silêncio como maturidade emocional

Saber ficar em silêncio diante de certas provocações ou situações não é sinal de passividade, e sim de domínio próprio. Significa que você entendeu que nem toda opinião precisa ser expressa, que nem toda provocação merece resposta e que nem toda verdade precisa ser dita naquele momento. O silêncio, nesse sentido, é como um filtro: ele impede que sentimentos momentâneos tomem a forma de palavras que você pode se arrepender depois. É a pausa que permite que a razão retome o controle sobre a emoção.

O silêncio que preserva

Muitas relações — de amizade, familiares ou amorosas — são destruídas mais por palavras impensadas do que por grandes atos. Uma frase dita de forma áspera, mesmo que verdadeira, pode minar a confiança e criar distâncias irreversíveis. Por outro lado, o silêncio oportuno pode preservar vínculos, evitar desgastes e, muitas vezes, abrir espaço para uma conversa mais produtiva no futuro.

Lembre-se: não é sua obrigação corrigir tudo o tempo todo, nem apontar cada falha que você vê. Às vezes, a melhor forma de cuidar de um vínculo é guardando certas percepções para si, ao menos até que seja o momento certo para falar.

O peso de não falar

Claro, o silêncio também pode ser usado de forma negativa — como punição, omissão ou fuga de responsabilidade. Mas aqui falamos do silêncio intencional, aquele que vem acompanhado de consciência e propósito. Ele não é covardia, mas sim um gesto calculado para evitar danos, para manter a paz ou simplesmente para não alimentar o que não vale a pena.

O silêncio escolhido é diferente do silêncio imposto. Ele é liberdade: você não se vê obrigado a reagir, não se deixa arrastar pelo impulso e não entrega ao outro o poder de ditar o seu estado emocional.

O que fazer no lugar de falar?

  • Quando perceber que não tem nada positivo para dizer, você pode:
  • Respirar fundo e avaliar se suas palavras trarão algum benefício real;
  • Trocar a reação pela reflexão;
  • Ouvir mais e falar menos, aprendendo com o ponto de vista do outro;
  • Esperar o momento certo para expressar o que pensa, de forma construtiva.

Saber ficar em silêncio é uma arte. É entender que, muitas vezes, a paz vale mais do que ter razão. É reconhecer que o mundo não precisa da nossa opinião sobre tudo, mas sim de mais empatia, escuta e sensibilidade.

Da próxima vez que sentir vontade de dizer algo negativo ou inútil, lembre-se: o silêncio nunca é vazio. Ele está cheio de respeito, autocontrole e inteligência emocional.

(*) Cristiane Lang, psicóloga clínica especializada em oncologia

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.