ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  26    CAMPO GRANDE 28º

Artigos

Serviços ambientais nas fazendas

Por Maurício Antônio Lopes (*) | 23/03/2020 09:06


Além de alimento, água e matéria-prima, a natureza  provê  múltiplos benefícios, como regulação do clima, polinização, reciclagem de resíduos, fixação de carbono, controle de doenças e pragas, filtragem da água, controle de erosão e enchentes, recreação, entre  outros.  Esse conjunto de benefícios, que direta ou indiretamente ajuda a sustentar a vida no planeta, é conhecido como serviços ambientais e ecossistêmicos.

No final dos anos 1990, pesquisadores estimaram em US$ 33 trilhões o custo de  produzir esses serviços, caso nós, humanos, fôssemos capazes de fazê-lo.  Quando essa estimativa foi feita, o produto interno bruto (PIB) de todos os países do mundo era pouco mais da metade disso: US $ 18 trilhões.  Esse tipo de estudo ajudou a demonstrar que os recursos que a natureza nos provê de graça são ainda, em grande medida,  desconhecidos, subvalorizados ou até mesmo ignorados.

A busca pela sustentabilidade deu grande visibilidade aos serviços ambientais e ecossistêmicos, além da possibilidade de  retribuir àqueles que contribuem para a sua manutenção e fortalecimento.  À primeira vista, atribuir valor econômico e pagamento por tais serviços pode levar a distorções nas relações dos sistemas econômicos com a natureza. Mas essa parece ser a única forma de incluí-los de forma permanente nos processos de tomada de decisão da sociedade, evitando sua degradação e perda, com impactos desastrosos para todos.

Esse é um tema crítico quando pensamos sobre o futuro das nossas propriedades rurais, pois ainda prevalece em muitas partes do mundo a visão de que a nossa agricultura é predatória e insustentável, a despeito dos enormes avanços  já alcançados.  Além do Código Florestal, uma ousada política de preservação de vegetação nativa e proteção dos cursos d´água nas propriedades rurais, é crescente a disseminação de práticas provedoras de serviços ambientais nas nossas fazendas, como o plantio direto; a integração de lavouras, pecuária e floresta; a fixação biológica do nitrogênio, dentre muitas outras.

De fato, os biomas brasileiros são poderosos provedores de serviços ambientais e ecossistêmicos, mas que ainda precisam ser qualificados e valorados.  A Amazônia é o caso mais clássico:  além de alimento, água e matéria-prima, ela provê regulação do clima e dos ciclos hidrológicos, fixação de carbono na vegetação e no solo, reciclagem de resíduos e nutrientes, e outros serviços.  Usar a melhor ciência para descrever e valorar tais ativos é essencial para uma mudança de percepções e melhor gestão dos recursos naturais da Amazônia.

É, portanto, imprescindível que o Brasil organize uma ampla coalizão, com universidades, institutos de pesquisa, agências públicas, setor privado, agentes financiadores e parceiros internacionais de modo a produzir avanços concretos na descrição, qualificação e valoração dos serviços ambientais gerados no nosso território.   Assim,  nossos biomas e  nossas fazendas agregarão uma marca positiva e diferenciada à imagem dos nossos setores mais estratégicos – agricultura e meio ambiente.

Por fim, se formos capazes de viabilizar o pagamento por serviços ambientais, a utilidade e o valor dos recursos naturais deixarão de ser ignorados ou subvalorizados, e os esforços daqueles que contribuem para a sua manutenção e fortalecimento – produtores rurais, comunidades tradicionais, povos indígenas, etc. – poderão ser reconhecidos pela sociedade.

(*)  Maurício Antônio Lopes é pesquisador da Embrapa.

Nos siga no Google Notícias