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Zelo pelo Senhor Deus dos exércitos

Por padre David Francisquini (*) | 30/08/2015 10:08

Ao chegar às cercanias de Ars, no vale do Saône, na França, o peregrino descortina um panorama grandioso e fascinante, evocativo de muita paz e muita bondade, que coexiste harmoniosamente com o heroísmo decorrente de grandes feitos de seu glorioso passado. Apenas mais um cenário francês? – Não! Ali viveu e santificou-se um homem que foi proclamado padroeiro de todos os párocos do mundo, São João Maria Vianney, o Cura d’Ars.

Impossível não imaginar que naqueles belos campos cultivados, onde prepondera o trigo, camponeses não contemplassem a figura do Pe. Vianney caminhando por ali e desfiando as contas de seu rosário em conversa com Deus, com sua Mãe Santíssima, os Anjos e os santos, louvando e pedindo pelo bem das almas a ele confiadas.

Numa circunstância dessas, uma jovem passa por ele na estrada. Com perfil ascético, esquelético mesmo, olhar profundo, observador sutil, capaz de penetrar os corações e as consciências dos interlocutores, ele se dirigiu a ela e admoestou-a de modo peremptório, dizendo-lhe que se não mudasse de vida certamente se condenaria. Ao que ela respondeu: – Mas eu não quero ir para o inferno. Vou me confessar.

O santo retrucou: – Não adianta se confessar se você não fugir das ocasiões próximas de pecado. Confessando-se, você vai voltar para a sua região e continuará levando a mesma vida pecaminosa. Assustada, ela lhe perguntou: – Então, para mim não há mais jeito? O padre Vianney aconselhou-a a vender o que possuía e se mudasse para Ars, pois só naquelas condições ele a atenderia em confissão. Assim ela fez, e seguramente encontrou o caminho da salvação.

Em outra ocasião, um camponês violador do preceito do descanso dominical, ao perceber que o Cura d’Ars vinha pelos campos na sua direção, procurou quase instintivamente esconder-se atrás de sua carroça cheia de feno, na tentativa vã de defender-se do olhar contrafeito do santo, pois tinha consciência de que violava a Lei de Deus não guardando o dia do Senhor.

Com bondade paternal, o virtuoso padre chamou sua atenção, dizendo-lhe que aquela carroça simbolizava o transporte de sua alma para se queimar nas regiões eternas... E prosseguiu silencioso seu caminho por aquelas paragens, sempre rezando, meditando na bondade de um Pai que tudo criou para o bem dos filhos, e destes que se esquecem dessa infinita bondade.

Enquanto isso, na sua pequena igreja, com os poucos fiéis que a frequentavam, ele podia avaliar a decadência religiosa advinda de outros tempos, de maus pastores que por ali passaram, de padres pouco zelosos e sem interesse de povoar o céu, de instruir as almas dos jovens, de formar as consciências para mais bem cumprir os desígnios de Deus e da santa religião.

Segundo seus biógrafos, sua grande luta foi contra a indiferença e a ignorância religiosa reinantes em sua paróquia. Às noites de sábado para domingo os jovens se aglomeravam numa taberna para beber, se divertir num salão de baile.

Para o Cura d’Ars não havia mandamento que o baile não violasse, pois assim como um muro cerca o jardim, assim os demônios estão em torno do baile. Para ele há tantos demônios quantos são os dançadores.

À época, poucos padres combatiam tão pernicioso divertimento. No dia a dia, o trabalho, sem descanso e intermitente, duro e exigente, preenchia a vida daquela gente, tão acomodada aos bens da terra. Quanto às coisas do alto, estavam longe de suas cogitações. O sino do campanário tocava em vão para aqueles ouvidos insensíveis e a igrejinha de Ars continuava vazia, ou quase tanto. O que poderia fazer um vigário que pregasse e desse o exemplo ilibado de vida sacerdotal?

Os habitantes de Ars tinham uma fala vagarosa que revelava uma vontade entorpecida, ávidos de bem estar, inflamados pelo prazer. Tudo era pretexto para se reunirem em torno de um violão ou uma sanfona e ali passarem horas em bebedeiras, cantigas, gargalhadas e danças. Padre Vianney não se conformava e fez propósito de não descansar enquanto não extirpasse as ocasiões de pecado de sua paróquia.

O zelo pastoral do Cura d’Ars fez com que em Ars o respeito humano fosse invertido: tinha-se vergonha de não fazer o bem e de não praticar a Religião. O que é um auge de vitória de seu apostolado! Ars tornou-se também um centro de piedade e religiosidade.

Por isso, os peregrinos admiravam nas ruas da cidade a serenidade de certos semblantes, reflexo da paz perfeita de almas que vivem constantemente unidas a Deus. A cidade de Ars continua pequena, com cerca de 1.200 habitantes. Mas sua fama é demasiadamente grande mundo a fora, pois mais de 400.000 peregrinos a vistam anualmente. Com efeito, a verdadeira glória é a dos heróis e dos santos.

(*) Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria- Cardoso Moreira-RJ e colaborador da ABIM.

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