ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MAIO, SEXTA  03    CAMPO GRANDE 22º

Cidades

“Com provas”, pai lutou antes de filha ser assassinada

Pai da criança morta por padrasto percorreu verdadeira via crucis para pedir guarda

Maristela Brunetto | 31/01/2023 13:50
Pais bateram em muitas portas em busca de proteção para a criança. (Foto: Marcos Maluf)
Pais bateram em muitas portas em busca de proteção para a criança. (Foto: Marcos Maluf)

Até se deparar com a morte da filha aos 2 anos e 7 meses de idade, na noite de quinta-feira, após ela sofrer lesões decorrentes de “força contundente”, que perfuraram os pulmões e causaram lesão na coluna cervical, Jean Carlos Ocampos percorreu uma verdadeira via crucis ao longo de 2022 para proteger a filha, obter a guarda.

Logo no começo do ano passado, ele registrou o primeiro boletim de ocorrências. A criança apresentava hematomas e o caso foi registrado como maus-tratos. Stephanie de Jesus da Silva e a mãe foram ouvidas na DEPCA (Delegacia Especializada na Proteção da Criança e do Adolescente), o inquérito foi concluído e enviado à Justiça. Por ser enquadrada como uma conduta considerada menos grave, não houve instrução na Justiça. Ele compareceu perante juiz e promotor e o caso foi arquivado.

Ocampos também procurou o Conselho Tutelar, mais de uma vez. Pediu que fossem à casa em que a pequena vivia com a mãe, o padrasto e outras duas crianças e fizessem um estudo social. Foi, ainda, em maio, à Defensoria Pública buscar ajuda para ingressar com um pedido de guarda. Ele tinha elementos de sobra para temer que a criança sofresse violência.

Além dos hematomas, quando era informada que seria levada de volta para casa, a pequena chorava, seu sono era agitado. Depois da morte, soube-se que a criança tinha um longo histórico de idas ao posto de saúde. Em relação a isso, Ocampos questiona o papel do serviço social da rede de saúde e também dos agentes de saúde, que têm obrigação de visitar as casas, verificar vacinação, prevenção de doenças, como a dengue.

Ele contou que procurou vizinhos da família, conhecidos, esperava reunir testemunhas que pudessem corroborar seu relato e ingressar com a ação através da Defensoria. Sequer conseguiu um laudo de constatação ou estudo social para amparar a pretensão.

Ocampos foi casado com Stpehanie por dois anos, depois de um namoro de anos desde a adolescência. Depois da separação, passou a viver um relacionamento com Igor Fernandes, que o acompanhava em toda a peregrinação. Eles acreditam que encontraram não só burocracia pelo caminho, mas também má vontade por serem um casal homoafetivo.

“A gente com provas, gritando por socorro”, diz o companheiro, que conta que em várias situações era impedido de entrar junto com o pai biológico. Ambos revelam a frustração, apontando como lutaram.

Nas duas idas à delegacia, escrivães atenderam os casos e registraram ambos como maus-tratos. Na segunda ida, em 22 de novembro, a filha tinha hematomas e a perna engessada, com fratura na tíbia. Ocampos conta que pediu que o trauma fosse incluído como suspeita de agressão. Nessa época, ele achava que conseguiria uma medida protetiva para a filha.

Jean Ocampos chegou a achar que conseguiria medida protetiva para a filha de 2 anos. (Foto: Marcos Maluf)
Jean Ocampos chegou a achar que conseguiria medida protetiva para a filha de 2 anos. (Foto: Marcos Maluf)

Assistência de acusação - Nesse episódio, a advogada Janice Andrade acompanhava uma mãe na delegacia e acabou vendo os pais e a criança, conversou com eles e perguntou sobre a fratura na perna. Na sexta-feira passada, ao saber da morte de uma criança, ela foi se informar e reconheceu a criança.

Agora, a advogada vai assessorar o casal. Ela já se habilitou para atuar no processo que foi instaurado com a prisão de Stephanie e do marido, Christian Campoçano Leitheim, e atuará como assistente de acusação quando houver a denúncia ao Tribunal do Júri.

Janice considera que o crime precisa ser um marco para o sistema de proteção das crianças. Tanto que já acionou a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e o Instituto Brasileiro de Enfrentamento à Violência Familiar contra Criança e Adolescente para que atuem no caso.

Para ela, a sequência dos fatos demonstra que as explicações sempre que a menina aparecia com hematomas “colaram” e isso levou à escalada da violência. Para saber exatamente o que houve à criança, a advogada vai pedir a reconstituição dos fatos.

Os pais, vencidos, vão precisar aprender a conviver com a perda depois de tanto esforço. “Dói, é o que martela na nossa cabeça”, diz Fernandes.

Nos siga no Google Notícias