Cidades com mais gado lideram focos de incêndio, aponta estudo
Pesquisa da UFMG derruba ideia de que ter mais gado representa ter menor número de incêndios, a tese do "boi bombeiro"
Pesquisa da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) indica que municípios com mais cabeças de gado também são as que tiveram maior número de focos de incêndio em 2018. Um dos exemplos é Corumbá, com 54,8 mil focos e 1,8 milhão de reses naquele ano.
No Pantanal, a pesquisa também lista outras três cidades na relação gado/foco de incêndio: Cáceres (MT), Aquidauana e Porto Murtinho.
"Os dados não afirmam que os criadores de gado são os culpados, mas refutam a ideia de que ter mais gado representa ter menos incêndio", disse o professor Ubirajara Oliveira, do Centro de Sensoriamento Remoto do Instituto de Geociências da UFMG, em entrevista ao UOL.
O resultado da pesquisa da UFMG renega a tese do “boi bombeiro”, defendida pelos ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles e a de Agricultura, Tereza Cristina. O termo foi cunhado pelo pesquisador de Mato Grosso do Sul, Arlindo Pott, pesquisa feita na década de 1980, quando era da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
O estudo teve como base os dados de criação de gado no Brasil do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) e os focos de queimadas registrados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Os números são referentes a 2018 por ser o ano com dado mais recente divulgado pelo IBGE até a elaboração da pesquisa.
"Se de fato a presença de gado pudesse reduzir a quantidade de incêndios, a gente teria um resultado em que os municípios com maior quantidade de gado apresentariam menor ocorrência de incêndios. A gente observou exatamente o contrário: os que têm mais cabeças de gado coincidem com os que têm mais incêndios", diz Oliveira.
Segundo professor, em entrevista ao UOL, os números não implicam em causalidade de incêndios e gado. "Outros fatores podem estar juntos causando os incêndios, mas mostram, de forma consistente, que a ideia do ‘boi-bombeiro' não é verdadeira", afirma.
Na tese do “boi bombeiro”, a ideia defendida é de que o boi come uma parte da massa do capim seco que, quanto mais alto, mais ajuda a propagar focos de incêndio. Ou seja, com o capim mais baixo, o fogo se alastraria com menos facilidade.
Este ano, entre janeiro e setembro, os incêndios já destruíram uma área de 32,9 mil km² no Pantanal, o maior registro desde 2002, quando começaram as medições. Já na Amazônia um total de 62,3 mil km² foram destruídos, o maior para o mesmo período desde 2010.