Crise arriscou sonho de morar na praia e expôs lavagem de dinheiro do tráfico
Apartamento de 1 milhão em SC e movimentação de R$ 5 milhões em 4 anos estão entre evidências da dissimulação

A crise que atingiu os “negócios” de Kleyton de Souza Silva, o “Tom”, principal alvo da Operação Blindagem, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado), expôs um dos “métodos” usados pelo detento, que comandava esquema de tráfico e agiotagem de dentro da cadeia, para lavar o dinheiro ilegal. A compra de bens duráveis e de alto valor, incluindo um apartamento de R$ 1 milhão em Santa Catarina, era uma das maneiras de mascarar a origem ilícita dos recursos arrecadados com o crime.
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De acordo com a apuração do Gaeco, em duas ocasiões, Kleyton admitiu ser dono de imóvel próximo à praia de Bombinhas. Em uma das conversas interceptadas, ele lamenta para uma tia a necessidade de penhorar o apartamento. “Menino, a crise está geral”, afirma a mulher, como se não falasse de patrimônio adquirido com lucro do tráfico, e o presidiário de 37 anos segue com as lamúrias, dizendo que tinha planos de morar perto do mar quando deixasse a cadeia.
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Outros exemplos de bens adquiridos ilegalmente, conforme o Gaeco, são veículos: um caminhão Volvo, de R$ 148.085,00, que é usado nas rotas de distribuição de entorpecentes; um Jeep Compass, de R$ 130.009,00; e um GM Corsa.
Nesse prisma, uma vez que os integrantes da organização criminosa não possuem ocupação lícita e formal, é certo que a aquisição desses bens se deu a partir de recursos ilícitos, advindos do tráfico de entorpecentes e do recebimento do pagamento de juros exorbitantes obtidos através da usura [agiotagem]. Como os bens são duráveis e de alto valor, que, posteriormente, podem ser vendidos ou utilizados como forma de justificar acréscimos patrimoniais, é evidente que foi uma das artimanhas utilizadas pela organização criminosa para a dissimulação da origem ilícita do dinheiro, que acabou por conferir ao patrimônio deles, composto de bens móveis e imóveis, uma aparência legítima, o dissociando das atividades criminosas que lhe deram origem”, defende o Gaeco ao pedir para prender 35 pessoas investigadas por fazerem parte do esquema.
Extratos da movimentação milionária na conta bancária da mulher de Kleyton, Lana da Silva Gonçalves, 26, também são evidências da dissimulação dos valores conquistados com o tráfico, anexadas pelos promotores Antenor Ferreira de Rezende Neto, Moisés Casarotto, Gerson Eduardo de Araujo e Tiago Di Giulio Freire a relatório que foi enviado à Justiça. Entre 2021 e 2024, por exemplo, a jovem movimentou cerca de R$ 5 milhões “sem fonte de renda”, conforme o documento.
Contas de terceiros também eram usadas para receber e transferir recursos de forma a dispensar transações e evitar suspeitas. Mas nas interceptações Kleyton aparece, por exemplo, orientando movimentações vultuosas, como a de R$ 122.600,00 em um só dia.
A abertura de empresa de fachada para dar ar de legalidade a parte do dinheiro é o terceiro método detalhado pela acusação.

A operação – O Gaeco, com apoio do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e do Batalhão de Choque, foi às ruas no dia 7 de novembro para cumprir 76 mandados de prisão e de busca e apreensão, com o objetivo de desmantelar a organização criminosa armada dedicada ao tráfico de entorpecentes e armas. São investigados ainda crimes de agiotagem (usura) e lavagem de dinheiro.
Os “negócios” comandados por “Tom”, de dentro do sistema prisional, eram mantidos em Mato Grosso do Sul e em pelo menos outros oito estados: São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Acre, Maranhão e Goiás.
Ainda conforme as apurações do Gaeco, a quadrilha enviava drogas para cidades do interior do Estado e para outras unidades da federação, utilizando métodos variados: caminhões com fundo falso que transportavam alimentos lícitos para camuflar o transporte de entorpecentes, remessas pelo Sedex via Correios e uso de veículos comuns e vans com passageiros.
O nome da operação faz referência à “blindagem” que os criminosos recebiam graças à corrupção de servidores.
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