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Guia de turismo relembra convivência com piloto vítima de acidente aéreo em MS

Guia esteve na manhã do acidente com o piloto Marcelo Pereira de Barros e conheceu o professor Kongjian Yu

Por Guilherme Correia | 24/09/2025 19:00
Guia de turismo relembra convivência com piloto vítima de acidente aéreo em MS
Marcelo Pereira de Barros, morto aos 59 anos, era piloto de aeronaves na região do Pantanal. (Foto Arquivo pessoal)

O guia e intérprete Rangel Bejarano, de 27 anos, esteve na manhã do acidente com o piloto Marcelo Pereira de Barros seu colega de trabalho, vítima do incidente aéreo no Pantanal de Mato Grosso do Sul nesta terça-feira (23), aos 59 anos.

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O piloto Marcelo Pereira de Barros, de 59 anos, faleceu em um acidente aéreo no Pantanal de Mato Grosso do Sul. A tragédia ocorreu quando o monomotor Cessna Aircraft 175 caiu na região da fazenda Barra Mansa, em Aquidauana, vitimando também o renomado arquiteto chinês Kongjian Yu e dois cineastas. Yu estava no Brasil para gravar um documentário sobre o Pantanal como "esponja natural". O arquiteto era conhecido internacionalmente por desenvolver o conceito de "cidades-esponja", política pública adotada pelo governo chinês que prioriza infraestruturas naturais para melhor gestão das águas pluviais.

Ele também esteve com o arquiteto chinês Kongjian Yu, outro dos quatro passageiros da aeronave.

Marcelo morava na fazenda Barra Mansa, que foi set de filmagem da novela Pantanal. Rangel o conheceu em uma pousada na Serra do Amolar, quando o piloto acompanhava um fotógrafo do National Geographic. “Ele era um cara muito feliz com o que fazia, ele era muito disposto a sempre, não só pelo trabalho, mas para garantir que as pessoas que estavam em volta dele estavam bem.”

O guia de turismo relata que a vítima era conhecida por fazer uma “caipirinha fenomenal” e que os turistas adoravam a bebida típica brasileira. “Me ensinou, inclusive, a forma que ele fazia, então acredito que já era algo além do trabalho, era um afeto mais de amizade mesmo.”

Rangel comentou que Marcelo era muito conhecido na região e exercia um trabalho único de transporte e turismo. Além disso, ele ressaltou que é uma “perda muito grande” para a família, já que Marcelo era pai. “Na manhã do mesmo dia eu estava conversando com as pessoas que estavam presentes no avião, eu inclusive queria participar, ver como que estava, por fora, esse documentário. Absorver alguns conhecimentos, macetes.”

No momento do acidente, diz, ele estava em outro passeio turístico. “Eles foram sobrevoar várias baías do Pantanal, próximas aqui, para verificar por cima esse sistema. Ele fazia direto esse tipo de passeio, sempre fez. Eu já voei com ele, inclusive. Ele era um piloto muito bom, pousar aqui é muito difícil.”

“É complicado dizer como que afeta, porque a gente fez um passeio um dia anterior com ele, da maneira dele, sempre usando ditados populares antigos que eu gostava muito, sempre sendo caricato. Ele era um cara muito gentil, falava sempre alguma coisa engraçada sobre a situação, não de forma pejorativa. Mas é estranho, as coisas deles ainda estão no quarto que eu estou presente. É estranho pensar que ele nunca mais vai voltar para pegar, isso realmente é avassalador.”

Encontro com Yu — O guia também se recordou de ter conhecido o arquiteto chinês Kongjian Yu, que estava no avião. “Eu pude conhecer um dia antes o professor Yu. Todo mundo já deve saber, ele era um arquiteto muito famoso por fazer seus projetos, e pude ver o trabalho dele, conversei com ele, tomei caipirinha com ele, era um cara aparentemente fenomenal também, uma pessoa bem humilde.”

“Conversamos, Yu me perguntou sobre a minha atuação, o que eu fazia como estudante e como guia. Foi algo breve, esperava ter tido mais momentos para conhecê-los”.

O guia também elogiou a dedicação da equipe de produção envolvida, já que também teve algum contato com os cineastas Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz, do documentarista Rubens Crispim Jr.

“Eram bem amistosos também, eu pude perceber ali a perspicácia, a forma que eles faziam para gravar alguma imagem, a percepção deles também era muito boa. Eles deram a vida, literalmente, pelo propósito deles, então merecem todo o respeito. Infelizmente é algo que está sujeito a acontecer. O pessoal aqui está num clima um pouco pesado, pois os turistas já sabem também o que aconteceu.”

O acidente — Conforme apurado pelo Campo Grande News, o monomotor Cessna Aircraft 175, prefixo PT-BAN, caiu na região da fazenda Barra Mansa, no Pantanal, em Aquidauana (MS), na terça-feira (23).

A aeronave não tinha autorização para operar como táxi aéreo, segundo dados do RAG (Registro Aeronáutico Brasileiro) disponíveis no site da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), e era registrada em nome do piloto Marcelo Pereira de Barros.

Segundo informações, há suspeitas de que o piloto tenha tentado uma arremetida — manobra em que o pouso é interrompido para a aeronave ganhar altitude novamente. Pouco depois, o avião teria perdido sustentação e caído, provocando uma explosão imediata.

De acordo com o CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo), o arquiteto e os dois cineastas haviam chegado ao Pantanal no sábado (20) e retornariam a Campo Grande na terça-feira, dia do acidente.

Yu estava no Pantanal para gravar um documentário e estudar o bioma como uma “esponja natural”, capaz de reter e filtrar a água.

Ainda não está confirmado se os passageiros fariam pouso em alguma fazenda da região ou se o voo tinha apenas o objetivo de realizar sobrevoos para captar imagens para o documentário “Planeta Esponja”.

Em 2013, o arquiteto e Yu propôs uma política pública que seria adotada pelo governo da China: as chamadas cidades-esponja.

A iniciativa priorizava infraestruturas naturais de grande escala, como zonas úmidas, vias verdes e parques, transformando o tecido urbano em um sistema capaz de reter, limpar e infiltrar a água da chuva, em vez de simplesmente escoá-la por canais de concreto.

O objetivo do plano, que se tornou nacional, era reduzir enchentes e contribuir para a recarga de aquíferos. Desde 1997, quando retornou de Harvard para a China, Yu liderou mais de mil projetos em cerca de 250 cidades.

Elementos do conceito também foram aplicados em Xangai, Nova York, Berlim e Copenhague.