Influencer nega pirâmide e diz que lucra com bets "porque aprendeu a jogar"
Citada pelo MP em esquema de pirâmide em bets, Kemelly Garcia minimiza papel na captação de apostadores
RESUMO
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Após ser citada em investigação do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) por participação em um esquema de pirâmide financeira envolvendo plataformas de apostas online, a influenciadora digital Kemelly Garcia, moradora de Naviraí, usou as redes sociais para tentar rebater as acusações e limpar a própria imagem. Com quase 700 mil seguidores no Instagram, a influencer afirmou que seu lucro principal não vem das perdas dos apostadores que ela indica, mas do fato de que “aprendeu a jogar”.
O discurso, porém, entra em contradição direta com o modelo financeiro de muitas plataformas que ela divulgava, sites que, segundo o MP, são estruturados justamente para se beneficiar das perdas dos usuários. Em publicações anteriores, a influenciadora promovia links de acesso com códigos de afiliação, o que garantiria a ela comissões diretamente proporcionais às quantias apostadas e perdidas pelos novos usuários.
“Hoje em dia, eu faço uma renda legal divulgando jogos, mas minha maior renda vem jogando. Por quê? Porque eu aprendi a jogar. Então, para mim, deu certo”.
Segundo ela, perder faz parte do processo, mas quem persiste pode alcançar ganhos. “Perdi muito para chegar num nível de tá fazendo apostas altas, tá ganhando, tá sabendo jogar”.
A fala direcionada aos seus seguidores revela não só a tentativa de se dissociar do esquema criminoso apontado pelo MP, mas também um desconhecimento ou descaso com a dinâmica de risco que leva milhares de pessoas à falência apostando online. A influenciadora também orienta que apenas maiores de idade devem jogar e alerta para perigos do vício, como apostar o dinheiro do aluguel ou fazer empréstimos. Entretanto, o discurso moralizador esconde o fato de que ela própria capitalizou em cima da ilusão de enriquecimento rápido promovida em suas redes.
Kemelly não menciona que foi alvo de uma atuação direta do Ministério Público e que já firmou termo de ajustamento de conduta com o órgão, assumindo a obrigação de publicar advertências explícitas sobre os riscos das apostas online, fazer retratações públicas e prestar serviços à comunidade, condições impostas para que ela não respondesse judicialmente por promover jogo ilegal e integrar cadeia de lucros com base em perdas de terceiros.
De acordo com o Polícia Federal, que deu iniciou às investigações, o modelo de negócios por trás das plataformas promovidas por Kemelly funciona como uma pirâmide clássica: o influenciador divulga a plataforma com um link personalizado, recebe comissão conforme as apostas feitas pelos usuários captados por ele, e é incentivado a atrair o maior número possível de novos jogadores, mesmo que isso signifique promover endividamento, ilusão e compulsão.
Esse sistema é estruturado para gerar receita com base em perdas: quanto mais o indicado perde, mais o influenciador ganha. Ou seja, o sucesso financeiro da influencer está diretamente ligado ao fracasso dos seguidores que acreditam em suas promessas.
Por isso, o Ministério Público tem atuado com firmeza contra a banalização dessas práticas e a maquiagem de riscos com discursos de sucesso isolado, como o que Kemelly apresenta.
Ainda em seu pronunciamento, a influencer diz que “ninguém está sendo obrigado a jogar” e pede que seus seguidores joguem com consciência, tentando transferir a responsabilidade para o público. “Se para você não tá dando certo, pare. Eu não quero que vocês percam para eu ganhar dinheiro”.
Por fim, a influenciadora reforça que através dos lucros obtidos através de jogos on-line conseguiu “mudar de vida”, sugerindo que as apostas em plataformas de jogos de azar é uma “oportunidade” para obter lucros.
“Isso foi uma oportunidade que apareceu para mim de estar mudando a qualidade de vida da minha família, de estar ajudando pessoas, enfim, de estar fazendo o bem para mim e para quem eu gosto. Os meus seguidores que sempre mandam depoimentos que tá dando certo para eles, mas eu não gosto de receber mensagens de pessoas perdendo dinheiro”, finalizou.