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Cidades

Jogos de azar geram rombo anual de R$ 38,8 bilhões em perdas sociais no Brasil

Estudo aponta alto custo em saúde mental, suicídios, endividamento e impacto econômico

Por José Cruz e Bruno de Freitas Moura, da Agência Brasil | 02/12/2025 13:55
Jogos de azar geram rombo anual de R$ 38,8 bilhões em perdas sociais no Brasil
12,8 milhões de brasileiros estão em situação de risco para o desenvolvimento de transtornos relacionados ao jogo, segundo o estudo.

Jogos de azar e apostas online, popularizadas pelas chamadas bets, provocam perdas econômicas e sociais estimadas em R$ 38,8 bilhões por ano no Brasil. O cálculo é de um estudo inédito divulgado nesta terça-feira (2), que analisou os efeitos da expansão acelerada dessas plataformas no país.

RESUMO

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As apostas online no Brasil geram perdas econômicas e sociais estimadas em R$ 38,8 bilhões por ano, segundo estudo divulgado pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde. O montante inclui impactos como suicídios, depressão, desemprego, gastos médicos e endividamento.O país registrou 17,7 milhões de apostadores em seis meses, com 12,8 milhões em risco de desenvolver transtornos relacionados ao jogo. Apesar da arrecadação federal de R$ 8 bilhões até outubro de 2025, apenas 1% é destinado ao Ministério da Saúde, evidenciando um desequilíbrio entre receitas e custos sociais.

O dossiê A saúde dos brasileiros em jogo foi produzido pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps), pela organização Umane e pela Frente Parlamentar Mista para Promoção da Saúde Mental, composta por quase 200 parlamentares.

O montante estimado reúne danos como suicídios, depressão, desemprego, gastos com tratamentos médicos, endividamento, perda de moradia e encarceramento. Pelos cálculos dos especialistas, se aplicado em programas sociais, o valor corresponderia a 26% a mais no orçamento do Minha Casa, Minha Vida de 2024 ou a 23% de acréscimo no Bolsa Família deste ano.

17,7 milhões de apostadores

O Brasil registrou 17,7 milhões de apostadores em seis meses, segundo o estudo. Com base em levantamento da Unifesp, os pesquisadores estimam que 12,8 milhões de brasileiros estão em situação de risco para o desenvolvimento de transtornos relacionados ao jogo.

Inspirado em levantamento britânico, o estudo calculou o impacto financeiro direto e indireto das apostas:

  • R$ 17 bilhões: mortes adicionais por suicídio

  • R$ 10,4 bilhões: perda de qualidade de vida ligada à depressão

  • R$ 3 bilhões: tratamentos médicos

  • R$ 2,1 bilhões: seguro-desemprego

  • R$ 4,7 bilhões: encarceramento

  • R$ 1,3 bilhão: perda de moradia

Do total, 78,8% estão associados à área da saúde.

Endividamento, adoecimento e sofrimento mental

O relatório aponta que a rápida expansão das bets é alimentada por tecnologia, ausência de políticas públicas, ampla exposição midiática e frágil regulação. Segundo o documento, isso já se reflete no endividamento das famílias, no aumento de transtornos de jogo e no agravamento de quadros de ansiedade e depressão.

Arrecadação não cobre os custos

Legalizadas em 2018 e regulamentadas apenas em 2023, as bets começaram a recolher tributos mais altos em 2025. Ainda assim, o retorno à sociedade é considerado baixo.

Em 2024, os brasileiros destinaram cerca de R$ 240 bilhões às apostas. Beneficiários do Bolsa Família, sozinhos, movimentaram R$ 3 bilhões por Pix em agosto daquele ano.

Até outubro de 2025, a arrecadação federal somava R$ 8 bilhões, bem abaixo dos R$ 38,8 bilhões de prejuízo social estimados.

Atualmente, as empresas pagam 12% de imposto sobre a receita bruta, e o Congresso discute proposta que eleva a alíquota para até 24%. Apostadores também são taxados em 15% no Imposto de Renda sobre prêmios.

Apesar disso, apenas 1% de tudo arrecadado vai para o Ministério da Saúde, o que rendeu R$ 33 milhões até agosto, sem destinação específica para serviços de saúde mental do SUS.

“Sem regulação firme, risco aumenta”

Para a diretora de Relações Institucionais do Ieps, Rebeca Freitas, o cenário atual incentiva o crescimento do mercado sem garantias mínimas de proteção à população.

“As bets já fazem parte da vida de milhões de brasileiros. A questão central deveria ser garantir proteção. Mas o que vemos é o contrário, com lobby comercial poderoso às custas da saúde da população”, afirma.

Quase nenhum emprego

No plano econômico, o estudo classifica como “irrisória” a contribuição do setor para geração de emprego e renda. Dados do Ministério do Trabalho mostram que as apostas online somavam apenas 1.144 empregos formais em 2024.

Para cada R$ 291 faturados pelas empresas, apenas R$ 1 vira salário formal. Além disso, 84% dos trabalhadores do setor não contribuíram para a Previdência, índice muito superior à média nacional, de 36%.

Lições do Reino Unido

Entre as medidas adotadas pelos britânicos e citadas como referência estão:

  • autoexclusão por até 5 anos de todos os sites licenciados;

  • restrições severas à publicidade, especialmente para evitar apelo ao público jovem;

  • destinação de 50% da arrecadação do setor para tratamento de saúde.

Propostas para o Brasil

O estudo sugere cinco caminhos para reduzir danos:

  • aumentar a parte dos impostos destinada à saúde;

  • capacitar profissionais do SUS para acolhimento;

  • proibir propagandas e promover campanhas de conscientização;

  • restringir o acesso, principalmente de menores e pessoas vulneráveis;

  • impor regras mais rígidas às empresas.

Setor reage ao aumento de impostos

O Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), que reúne cerca de 75% das empresas do setor, afirma que elevar tributos pode fortalecer o mercado clandestino, que já representaria 51% das apostas online no país.

Segundo a entidade, uma “oferta legal limitada” pode empurrar operadoras para a ilegalidade e reduzir a arrecadação.