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Cidades

Liminar contra uso de dados fiscais parou 23 inquéritos do MPF em MS

Levantamento do Ministério Público Federal aponta que, no país, são 700 apurações paralisadas por liminar

Humberto Marques | 26/10/2019 21:26
Liminar contra uso de dados fiscais parou 23 inquéritos do MPF em MS
Sede da Procuradoria-Geral da República, em Brasília; MPF aponta 700 investigações paradas no país com decisão de Toffoli. (Foto: José Américo/Subcom/PGR)

A decisão liminar expedida pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli de paralisar todas as investigações que envolvam dados fiscais e bancários repassados ao Ministério Público por órgãos de fiscalização e controle sem autorização judicial atingiu 23 inquéritos conduzidos em Mato Grosso do Sul pelo MPF (Ministério Público Federal). A informação partiu da assessoria do próprio órgão, e coloca o Estado como o nono do país em número de apurações travadas dentro da decisão.

No total, a manifestação de Toffoli, que se deu em pedido apresentado pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), atingiu 700 investigações do MPF em todo o Brasil. O parlamentar carioca havia solicitado a paralisação de investigação sobre movimentações financeiras entre ele e o seu ex-assessor da Assembleia do Rio, Flávio Queiroz, que envolveu, por exemplo, os 48 depósitos de R$ 2 mil feitos entre junho e julho de 2017.

O debate proposto pela defesa do senador envolve o chamado “Tema 990 de Repercussão Geral”, que trata justamente do compartilhamento automático dos dados bancários e fiscais da Receita com órgãos de investigação para instruir ações penais. O assunto já é discutido no STF.

O MPF realizou os estudos envolvendo apenas crimes federais –isto é, os dados não incluem informações dos Ministérios Públicos Estaduais. A decisão de Toffoli alcança todas as investigações abertas sem autorização judicial para compartilhamento de dados de órgãos como a UIF (Unidade de Inteligência Financeira, o atual Coaf, Conselho de Controle de Atividades Financeiras), Banco Central ou Receita Federal –inquéritos cíveis e penais que tenham aval judicial não foram alcançados.

Prejuízo – A Câmara Criminal do MPF ressalta que o volume de inquéritos parados pode ser ainda maior, pois os procuradores ainda apontam quais foram impactados. A última atualização é de 24 de outubro. Dentre esses 700 inquéritos travados, a maioria envolve questões de Direito Penal: são 307 apurações por crimes contra a ordem tributária; 117 por lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores; 71 contra o Sistema Financeiro Nacional; e 27 por sonegação de contribuição previdenciária.

Outras 23 apurações travadas são de atos de improbidade administrativa, que incluem direito administrativo e público. Também foram paralisadas investigações que apuram contrabando e descaminho, corrupção ativa e passiva e peculato, entre outras, conforme o MPF.

O maior número de casos parados está concentrado em São Paulo: 178. Depois aparecem Espírito Santo (95), Santa Catarina (53), Bahia (52), Minas Gerais e Rio de Janeiro (47 cada), Paraná (45), Pernambuco (24) e Mato Grosso do Sul.

“O impacto da decisão é imenso. Afeta, de forma diversificada, milhares de investigações, desde aquelas relacionadas a tráfico de drogas até as que apuram corrupção e lavagem de dinheiro nos grandes casos em curso no país”, sintetizou a coordenadora da Câmara Criminal do MPF, a subprocuradora-geral da República Luiza Cristina Frischeisen.

Segundo ela, um dos impactos da decisão ocorre com a ausência de dados financeiros, como o Relatório de Inteligência Financeira –que partia do Coaf e, junto com relatório da Receita, ajudava nas apurações sobre lavagem de dinheiro. “Sem eles, não há sequer elementos para pedir a quebra do sigilo bancário, matando a investigação na raiz”, ponderou, ao avaliar que a decisão de Toffoli “criou um cenário de tremenda insegurança jurídica no país”.

Ela destacou que apurações sobre organizações ligadas a facções criminosas, as quais dependem de “total acesso às informações bancárias”, também estão comprometidas. “Nesse ponto, a decisão fragilizou o combate ao crime organizado, favorecendo o fortalecimento dessas facções, uma vez que sem os dados financeiros não há elementos para o pedido judicial de quebra dos sigilos”.

Ela ainda atacou a burocratização da Justiça, que passa a receber mais pedidos de autorização para uso dos dados, e diretrizes da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e do Gafi (Grupo de Ação Financeira Internacional) –que recomendam aos seus integrantes, como o Brasil, que dados de controle sejam proativamente compartilhados com o Ministério Público e outros órgãos de investigação. Ela cobrou urgência do STF no julgamento de recurso extraordinário sobre o tema, com aplicação de repercussão geral (o que permitiria a retomada das apurações).

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