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Nos últimos 13 anos, Campo Grande implantou só 24 quilômetros de ciclovias

Com plano só no papel, ciclistas encaram trechos desconectados, sem sinalização, que somem no meio do caminho

Por Raíssa Rojas | 20/06/2025 08:00
Nos últimos 13 anos, Campo Grande implantou só 24 quilômetros de ciclovias
Fim da ciclovia no cruzamento da Avenida Manoel da Costa Lima com a Avenida Eduardo Elias Zahran (Fotos: Osmar Veiga)

Trechos que começam e terminam sem aviso, ciclovias que "morrem" no meio do caminho e a ausência de sinalização há anos colocam em risco quem depende da bicicleta para circular por Campo Grande. Em diferentes pontos da cidade, ciclistas relatam insegurança e descaso com a mobilidade ativa, agravados por uma malha cicloviária desconectada.

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Ciclistas de Campo Grande enfrentam insegurança e descaso com a mobilidade ativa devido à falta de planejamento e manutenção das ciclovias. Trechos interrompidos, ausência de sinalização e a necessidade de dividir espaço com carros e pedestres em avenidas movimentadas, como a Zahran e a Duque de Caxias, são alguns dos problemas relatados. A falta de conexão entre as ciclovias obriga ciclistas a trafegar em vias perigosas, expondo-os ao risco de acidentes. A arquiteta e urbanista Olivia Bento destaca que a descontinuidade das ciclovias desestimula o uso da bicicleta como meio de transporte, além de tornar os trajetos mais longos e perigosos. Ela defende a participação da população no planejamento urbano, visando a criação de uma infraestrutura cicloviária segura e integrada. O Plano Diretor de Mobilidade Urbana prevê melhorias, mas a realidade vivenciada pelos ciclistas demonstra a falta de ações efetivas por parte da Agetran, que não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre projetos de expansão e interligação das ciclovias.

Campo Grande vem trabalhando na implantação há quase duas décadas. Em 2005, a malha cicloviária da cidade contava com apenas 24 km, número que saltou para 86 km até 2012 e chegou aos 110 km em 2024, conforme dados oficiais da prefeitura.

A última obra entregue foi conclusão de 1,2 km de malha cicloviária na Avenida Gury Marques, que liga a Avenida dos Cafezais com a Rua Buenópolis, um dos acessos ao Bairro Moreninhas, Santa Felicidade, Nova Jerusalém e Cidade Morena.

Nos últimos 13 anos, Campo Grande implantou só 24 quilômetros de ciclovias
Djalma de Campos Vieira tendo que seguir seu caminho no meio dos carros (Fotos: Osmar Veiga)

Djalma de Campos Vieira, de 71 anos, é aposentado há mais de 12 anos e desde então tem a bicicleta como principal companhia pelas ruas da cidade. Quase não usa o carro, reservando-o apenas para idas ao mercado. “Qualquer lugar eu vou de bicicleta, não tem distância para mim. Mas não me sinto seguro em andar de bicicleta em Campo Grande”, afirma.

Morador da Avenida Progresso, ele considera os trajetos sem ciclovia extremamente perigosos. “Tenho que andar na calçada. Se for pela pista, está pedindo para morrer”, relata.

Durante as últimas eleições, Djalma chegou a enviar mensagens a vários candidatos pedindo a extensão da ciclovia da Avenida Duque de Caxias, mas não teve resposta. “A ciclovia da Duque de Caxias só vai até o aeroporto, ali ela morre. No mínimo, tinha que ir até o Indubrasil. Muita gente vem de bicicleta de lá para trabalhar e precisa ir pela pista. É um absurdo. E até agora, nada”, desabafa.

A equipe de reportagem encontrou Djalma justamente no fim inesperado da ciclovia.

Nos últimos 13 anos, Campo Grande implantou só 24 quilômetros de ciclovias
João Vitor Santos Ferrer relata insegurança ao andar de bicicleta pela cidade (Foto: Osmar Veiga)

E não é só o trabalhador que precisa da estrutura. Em meio a tanta discussão sobre reduzir emissão de poluentes, muitos estudantes fazem a lição de casa, andando de bike. A bicicleta é o principal meio de transporte de João Vitor Santos Ferrer, de 20 anos, estudante de Administração. Ele estava no mesmo trecho onde a ciclovia termina e para acabar o percurso vai desviando de pedestre e de veículos até chegar em casa, no Jardim América. “ É complicado. Não dá para andar perto das pessoas, é perigoso”, comenta.

Outro ciclista que segue mesmo sem ciclovia no cruzamento da Avenida Zahran com a Rua 26 de Agosto é Daires Peixoto, de 69 anos, vendedor. Ele percorre esse trajeto todos os dias até a Rua Barão do Rio Branco. “Tem que seguir com cuidado, beirando o meio-fio para evitar acidente. Mas mesmo assim a gente leva cada susto. Não é seguro, mas é o que temos. Precisamos andar”, afirma.

Daires mora no Jardim Jockey Clube e há 10 anos pedala até a frente da loja Americanas, onde trabalha. Ele reconhece o perigo dos trechos sem ciclovia, mas diz que toma alguns cuidados, como mantém pneus calibrados e freios em dia para evitar riscos.

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Daires Peixoto faz o mesmo trajeto de bicicleta há 10 anos (Fotos: Osmar Veiga)

Ciclista não tem vez -  Everton Patrick dos Santos, de 22 anos, estudante de Letras, também usa a bicicleta como principal meio de transporte para ir à faculdade. Foi encontrado na ciclovia no cruzamento da Avenida Manoel da Costa Lima com a Zahran, ponto em que ela desaparece para quem segue em direção ao Centro. “Quando tem que atravessar, já não tem mais ciclovia”, relata.

Ele conta que quase sofreu um acidente no mesmo local. Quando a ciclovia termina, avalia o risco conforme o movimento do trânsito. “Às vezes, tem que empurrar a bicicleta pela calçada. Ou se arrisca a ir pedalando por ali mesmo, o que é bem mais perigoso.”

Nos últimos 13 anos, Campo Grande implantou só 24 quilômetros de ciclovias
Everton Patrick dos Santos relata dificuldade em encontrar ciclovias fora das avenidas principais (Fotos: Osmar Veiga)

Natural de Sidrolândia e morando há pouco tempo em Campo Grande, Everton usa o Google Maps, modernidade que não chega à estrutura viária. “Aqui eu sinto que pensam menos nos ciclistas. A maioria dos lugares que vou não tem bicicletário, por exemplo. Ciclovia só tem nas avenidas principais, e não em todas. Então acabo andando a pé. As ciclovias que existem são boas, o problema é a falta delas.”

Natural de Sidrolândia e morando há pouco tempo em Campo Grande, Everton usa o Google Maps, modernidade que não chega à estrutura viária. “Aqui eu sinto que pensam menos nos ciclistas. A maioria dos lugares que vou não tem bicicletário, por exemplo. Ciclovia só tem nas avenidas principais, e não em todas. Então acabo andando a pé. As ciclovias que existem são boas, o problema é a falta delas.”

Nos últimos 13 anos, Campo Grande implantou só 24 quilômetros de ciclovias
Everton Patrick dos Santos no fim da ciclovia no cruzamento da Avenida Manoel da Costa Lima com a Avenida Eduardo Elias Zahran (Foto: Osmar Veiga)

Plano existe, mas na prática... - Segundo o Plano Diretor de Mobilidade Urbana, em revisão desde 2023, Campo Grande deveria contar com uma malha cicloviária interligada, com pontos de travessia segura, bicicletários e integração com os terminais de ônibus. Na prática, porém, o que se vê são trechos isolados, mal conservados e sem manutenção.

Instituído em 2015, o Plano de Mobilidade deu força ao interesse na rede cicloviária integrada, com cruzamentos seguros, bicicletários e conexão com o transporte coletivo. Mas desde então, a cidade só ganhou cerca de 24 km de ciclovias.

Para a arquiteta e urbanista Olivia Bento, a falta de continuidade nas ciclovias desestimula a população, gera insegurança e torna os trajetos mais longos, o que afeta diretamente quem depende da bicicleta para se locomover. “Você não tem funcionalidade porque ela não se conecta. É um deslocamento irreal”, analisa.

Ela defende que o diagnóstico da mobilidade urbana seja feito em conjunto com a população, dentro do Plano Diretor. O objetivo, segundo ela, deve ser o de reconhecer a bicicleta como um meio de transporte legítimo. “É preciso fazer as ciclovias funcionarem, criando conexões entre elas. Além disso, construir infraestrutura protegida, e não apenas pintar faixas. É necessário que a sociedade participe e ocupe esses espaços.”

A reportagem procurou a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) para saber quais são os projetos de expansão e interligação das ciclovias e o cronograma para colocar em prática o discurso da mobilidade ativa. Até a publicação desta matéria, não houve resposta.

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