Rodovia recém-inaugurada revela retrato de risco para a fauna e desgaste precoce
Na Estrada do 21, caminho para Bonito, animais mortos dividem cenário com queimadas e buracos no asfalto
Uma viagem curta, de apenas 123 quilômetros, foi suficiente para mostrar que a MS-345, conhecida como Estrada do 21 ou Rodovia do Turismo, ainda está longe de entregar o que prometia no papel. Entre Anastácio e Bonito, região reconhecida pela beleza natural e pelo potencial turístico, a pista recém-inaugurada se transforma em vitrine de problemas: animais silvestres mortos, queimadas à beira da estrada e buracos no asfalto, este último já em reparo menos de um ano após a entrega.
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A MS-345, Rodovia do Turismo, entre Anastácio e Bonito, apresenta problemas graves menos de um ano após sua inauguração. Animais silvestres mortos na pista, incêndios florestais e buracos no asfalto recém-remendado são alguns dos registros feitos ao longo dos 123 km da estrada. A situação contrasta com o projeto inicial, que previa passagens de fauna, sonorizadores e outras medidas de segurança para proteger os animais. Apesar do investimento de R$ 441,6 milhões e da promessa de impulsionar o ecoturismo, a rodovia expõe falhas na execução e fiscalização da obra. A Agesul, responsável pela gestão do projeto, foi questionada sobre os problemas e a ausência das estruturas de proteção da fauna, mas ainda não se manifestou. Em janeiro, o Campo Grande News já havia noticiado a presença de crateras na pista, que, mesmo após reparos, continua apresentando deterioração.
Logo no km 122, um tatu atropelado abre a lista de vítimas da travessia pela rodovia. Poucos metros depois, um incêndio florestal consome a vegetação próxima à pista. No km 152, é uma seriema que jaz caída, reforçando que a promessa de segurança para a fauna não saiu do papel. E não são casos isolados: a cena de animais mortos se repete ao longo do trajeto, um lembrete constante de que a rota turística corta o habitat natural de diversas espécies.
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O mais irônico é que o próprio projeto da Estrada do 21 foi pensado para reduzir esse tipo de acidente. Lançada com discurso de sustentabilidade e integrada ao programa Estrada Viva, da Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos), a obra previa 45 passagens inferiores de fauna, sonorizadores, placas lúdicas e telas condutoras para guiar animais com segurança. No entanto, boa parte dessas medidas ainda não foi implantada.
A estrada foi inaugurada oficialmente no ano passado, após investimentos de R$ 441,6 milhões, com promessa de reduzir em até 40 km a distância entre Campo Grande e Bonito e de impulsionar o ecoturismo na Serra da Bodoquena. Mas, ao longo do caminho, o que deveria ser vitrine de preservação e acesso rápido ao paraíso natural também expõe a pressa da entrega e a falta de medidas efetivas para proteger quem vive e cruza por ali.
Os problemas não surgiram agora. Em janeiro deste ano, apenas seis meses após a inauguração, o Campo Grande News já havia registrado que a Estrada do 21 estava tomada por crateras. Na ocasião, a Seilog (Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística) informou que a rodovia MS-345 passava por reparos para garantir a segurança e a trafegabilidade dos motoristas. A secretaria também ressaltou que a obra ainda estava no período de garantia e que a empresa responsável havia sido acionada para realizar os ajustes necessários.
Desta vez, a Agesul foi novamente questionada sobre os problemas encontrados, incluindo a ausência das passagens de fauna previstas no projeto, e sobre os motivos para que o asfalto já apresente danos em tão pouco tempo de uso, mas, até o momento, não houve retorno. O espaço segue aberto.
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