Um turismo diferente: conhecemos o maior criatório de jacarés do Pantanal
Frigorífico vende 1.200 peles e 2,5 toneladas de carne/mês, mas para ver de perto, animais têm boca amarrada

Aparentemente dóceis, os jacarés-do-Pantanal (Caiman yacare) criados em cativeiro na fazenda da Caimasul, maior frigorífico da carne exótica do mundo, encantam adultos e crianças. Nas baias e nas maternidades (incubadoras), segurar um filhote ou um ovo colhido nos ninhos espalhados pela propriedade e no bioma é uma experiência que os visitantes adoram. Mas para entreter humanos, o bicho precisa ser imobilizado, com a boca amarrada, por questões de segurança, o que contrasta com o conceito de ecoturismo.
RESUMO
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Criatório de jacarés no Pantanal atrai turistas com experiência única. Localizado a 35 km de Corumbá, o frigorífico Caimasul, maior do mundo em carne exótica, abriu as portas para visitação, oferecendo um novo tipo de turismo. O passeio, com duração máxima de uma hora e meia, percorre as etapas da criação de jacarés-do-Pantanal (Caiman yacare), espécie que quase foi extinta na década de 1980. Visitantes têm a oportunidade de interagir com filhotes, ovos e até mesmo com Bianca, uma jacaré albina, mascote da fazenda. O guia, um veterinário, explica sobre o processo de incubação, a alimentação balanceada e o manejo sustentável dos animais. A Caimasul, licenciada pelo Imasul e Ibama, demonstra seu know-how em criação de jacarés em cativeiro, exportando peles e carne para diversos países. O tour pode ser agendado de segunda a sábado, com preços variando de acordo com o número de pessoas. Crianças até dez anos têm entrada gratuita.
Sucesso de venda de peles e carne para os mercados interno e externo, o empreendimento situado na BR-262, a 35 km de Corumbá, decidiu abrir suas instalações para promover um turismo diferenciado - e tem atraído público de todas as regiões do país. A visita por agendamento dura, no máximo, uma hora e meia, passando por todas as etapas da fazenda - coleta do ovo, manejo e produção.
Acompanhados dos pais, os pequenos Theo (10 anos), Sofia (8) e Gabriel (6) estavam ansiosos para ver de perto uma espécie que foi ameaçada de extinção nos anos de 1980, com a caça indiscriminada exercida pelos “coureiros”, e hoje se tornou um dos símbolos da maior planície alagável do planeta. A garotada, inicialmente apreensiva no ambiente, se divertiu com os bichos.

“Gostei de segurar o bebezinho (filhote recém-nascido), ele é muito fofinho”, comenta Sofia. “O mais legal foi ver os jacarés pequenos, pegar os ovos e segurar o jacaré albino. Gostei muito do passeio, aprendi muitas coisas”, conta Theo.
Um laboratório - O passeio tornou-se um dos principais atrativos da Capital do Pantanal, para todas as idades. O visitante realmente é absorvido por tanta informação repassada pelo guia Eduardo José da Silva Borges, 38, veterinário, o “tratador” dos jacarés. “Estamos diante de um laboratório a céu aberto, o trabalho na fazenda me fascina”, define ele, há 11 anos na empresa.
A abertura dos portões para o público externo surgiu diante do interesse e curiosidade do corumbaense e dos turistas em conhecer a estrutura e o processamento da criação em cativeiro, licenciada pelo Imasul e pelo Ibama, até a produção em grande escala da carne e pele. Hoje, a fazenda recebe também universidades, escolas e os vizinhos bolivianos.
Em visita à sua irmã Renata, que mora há cinco anos em Corumbá, a servidora pública Sandra Gomes, 40 anos, não pensou duas vezes ao comprar o pacote. Ao lado do marido Alexandre, também servidor, dos filhos Sofia e Gabriel e da mãe Maria Barbosa, passaram uma manhã na fazenda com a irmã e sua família, o esposo Eduardo e o filho Theo.
“O passeio foi surpreendente, achei que seria uma coisa bem restrita. É tudo feito de forma sustentável. O guia, que é muito engajado, explica tudo”, diz Sandra. Ela e a família moram em Sorocaba (SP). Renata, 42, de São Carlos (SP), fixou residência em Corumbá com a transferência do marido, que é professor de Computação no campus da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
“Me chamou a atenção o cuidado especial que é dado aos jacarés, num ambiente de muito verde. O passeio estimula as crianças a aprenderem a cuidar dos bichos”, observou Renata, técnica de enfermagem.
A mascote Bianca - A visita guiada começa pela maternidade, onde são armazenados mais de 40 mil ovos por ano – em média, 20 mil colhidos nos ninhos em 16 fazendas autorizadas pelo Ibama e 20 mil produzidos por 3.500 matrizes e machos que ocupam os tanques (“farming”) da fazenda. No Pantanal, os fazendeiros e os ribeirinhos (que fazem a coleta) recebem R$ 5,00 por ovo.
Quando o guia Eduardo mostra um filhote de jacaré, com quatro meses de vida, Theo, Sofia e Gabriel percebem que não há razão de ter medo. A rigidez do animal não é a mesma do que se vê na natureza, começando pela pele, mais suave, delicada, sem a calcificação da natureza. O segredo, conta Eduardo, está na alimentação: ração à base de carne processada (miúdos bovinos, suínos e aves).
Agora o grupo é direcionado para as baias onde os jacarés ficam confinados até o abate, que ocorre a partir de dois anos, de 6 a 8 quilos. São 127 estruturas ovais teladas que concentram hoje 58 mil animais. Com segurança, os visitantes podem segurar animais de um ano, que são amordaçados. A mordida do jacaré é uma das mais fortes (pressão de 900 kg).
É chegado o momento mais esperado: conhecer e acariciar Bianca, uma fêmea albina, espécie rara que pode custar até US$ 15 mil no mercado, segundo a National Geographic. Bianca nasceu em Cáceres (MT), tem 12 anos, 20 kg e não irá ao abate; tornou-se mascote e principal atração da visita. Theo, Sofia e Gabriel sentam-se num tronco de madeira para conseguir segurá-la. “É linda!”, diz a garotinha.
Mercador promissor - O passeio termina com a visita aos tanques, no meio da natureza, onde o turista se surpreende não apenas pela proximidade com milhares de jacarés adultos em processo de cortejo e acasalamento para a fecundação que ocorre entre dezembro e março. É também uma oportunidade para observação de aves, como tuiuiús, curicacas, garças, papagaios, gaviões, tucanos e muitos outros pássaros.
Conhecer a jacarelândia da Caimasul e seu know-how no sistema de criação em cativeiro, inovação e tecnologia dá a dimensão do projeto sustentável, que se tornou uma referência mundial. Instalado há dez anos, o empreendimento produz 2,5 toneladas/mês de carne para o mercado interno (75% para o Sul) e exporta 1.200 peles/mês para a Alemanha, Itália, México e Estados Unidos.
As peles são certificadas pelo CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Silvestres Ameaçadas de Extinção), mas ainda há resistência do mercado de fora ao produto do Pantanal – motivado pelo impacto e repercussão causados pela caça ao Caiman yacare na década de 1980. “Estamos ampliando esse mercado”, garante o gerente, Carlos Murilo Pierazzoli.
Como visitar – O tour, uma caminhada leve de 700m, pode ser agendado de segunda-feira a sábado, no horário das 8h às 10h30. Uma pessoa paga R$ 112,50; para grupo de quatro pessoas, o preço individual cai para R$ 45,00, e de seis, R$ 63,00. Crianças até dez anos tem acesso free. O transfer pode ser combinado, mas não está incluso no tarifário. Mais informações: 67 99890-0572 (WhatsApp).
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