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Cidades

Alunos aliam teoria e prática e mudam ambiente de escola pública da Capital

Aliny Mary Dias | 18/10/2014 10:14
Alunos são bolsistas de projeto e com auxílio de professores e colegas mudaram "a cara" de escola (Foto: Marcos Ermínio)
Alunos são bolsistas de projeto e com auxílio de professores e colegas mudaram "a cara" de escola (Foto: Marcos Ermínio)

Engana-se quem pensa que termos como: pesquisa, ciência, embasamento teórico, tecnologia e inovação são exclusivos do ensino superior e da pós-graduação, em Mato Grosso do Sul, uma iniciativa de incentivo à pesquisa muda a vida de centenas de adolescentes e jovens de escolas públicas todos os anos. Da melhora no desempenho em sala de aula à formação de cidadãos responsáveis, o PibicJr (Programa de Iniciação Científica Júnior) planta sementes e colhe frutos há mais de uma década.

Um dos exemplos de projetos que deram certo está na Escola Estadual Severino de Queiroz, no Bairro Monte Castelo, em Campo Grande. Um trabalho criado no ano passado em conjunto entre professores dos 7º e 8º anos do ensino fundamental hoje é o objeto da pesquisa de quatro alunos que desde maio desse ano conquistaram bolsas no programa e agora se preparam para mais um desafio.

A iniciativa surgiu no ano passado e partiu dos professores de Biologia, Carina Cerutti e Júlio Gonçalves. Os educadores criaram, como extensão da teoria ensinada em sala de aula, uma horta vertical e um jardim suspenso, tudo desenvolvido pelos próprios alunos dentro do prédio da escola.

A experiência deu tão certo que os professores decidiram unir a ideia, recrutar alunos interessados e inscrever o proposta no programa coordenado pela Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul), que seleciona anualmente 130 alunos que integram o PibicJr e ainda recebem uma bolsa incentivo no valor de R$ 100 por mês.

Professor de Biologia é um dos orientadores do projeto (Foto: Marcos Ermínio)
Professor de Biologia é um dos orientadores do projeto (Foto: Marcos Ermínio)

“Nós tínhamos um bom espaço na escola que não era usado, os alunos colocavam as bicicletas lá e nós vimos que aquele lugar poderia ser um espaço multiuso bem interessante se fosse revitalizado. Foi aí que conseguimos ter o projeto aprovado e começamos a trabalhar”, conta uma das orientadoras dos alunos, a professora Carina.

Como todo início de uma pesquisa, os quatro alunos que hoje cursam o 8º ano e têm 13 anos tiveram que recorrer à teoria. Livros sobre botânica e tudo o que pudesse oferecer o embasamento teórico ao projeto foram usados pelos adolescentes. Desde maio desse ano, os alunos se dedicam à pesquisa e hoje falta pouco para que o espaço multiuso fique totalmente pronto.

Os muros sem vida deram lugar aos pneus coloridos, que são também vasos de plantas. Palets, estruturas de madeiras descartadas por muitas empresas, também foram suspensas e se transformaram em um belo jardim de flores. Plantas medicinais foram colocadas no espaço e agora só faltam bancos, que serão construídos com os palets, para que o lugar seja inaugurado.

“Tudo isso foi desenvolvido pelos alunos na teoria e depois colocamos em prática. Com esse contato, eles aprenderam mais sobre a responsabilidade ambiental, ainda mais porque tudo que temos aqui foi doado e reciclado. Queremos que os alunos usem esse lugar, que leiam aqui e que continuem cuidando”, diz o professor Julio.

Pneus coloridos deram outra vida ao muro do espaço (Foto: Marcos Ermínio)
Pneus coloridos deram outra vida ao muro do espaço (Foto: Marcos Ermínio)
Palets foram usados como estruturas para plantas e bancos (Foto: Marcos Ermínio)
Palets foram usados como estruturas para plantas e bancos (Foto: Marcos Ermínio)

Reconhecer o resultado do projeto, mais do que na melhora do comportamento e das notas dos alunos, é fácil. Os adolescentes se sentem orgulhosos pela mudança proporcionada ao espaço e o brilho nos olhos de quem aos 13 anos já tem uma iniciação à pesquisa científica no currículo é notável.

“A gente amadureceu muito, é muito legal participar desse projeto e ver que somos capazes de ter uma responsabilidade dessas”, conta Gabriel Franco, um dos integrantes do grupo. Outra que hoje não se vê longe do projeto é Cecília Martins. “Eu adoro plantar e poder fazer isso na escola é uma experiência diferente e gratificante”.

Polyana de Oliveira e Isabella Borges também fazem parte do projeto e são colegas de turma. Para elas, revitalizar um espaço esquecido e aprender mais sobre o meio ambiente é uma realidade que nunca será esquecida.

“Eu pretendo continuar fazendo projetos assim daqui pra frente”, diz Isabella. “Tenho certeza que hoje sou mais responsável e também melhorei muito como aluna e como cidadã”, conta Polyana.

Alunos como Diego, do 1º ano, se inspiraram em projetos e hoje desenvolvem pesquisa (Foto: Marcos Ermínio)
Alunos como Diego, do 1º ano, se inspiraram em projetos e hoje desenvolvem pesquisa (Foto: Marcos Ermínio)

Transformação - Com o trabalho praticamente pronto, os quatro alunos se preparam agora para apresentar o projeto na 4ª edição da Fetec (Feira de Tecnologias, Engenharias e Ciências de Mato Grosso do Sul), que será realizada na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) entre os dias 28 de outubro e 1º de novembro.

Desde o ano passado, foi criada a Fetec Júnior, que inclui na feira a participação de projetos desenvolvidos por adolescentes e jovens do ensino fundamental e médio. Muitos dos trabalhos são de participantes do PibicJr.

Coordenador da Fetec e experiente no contato com alunos bolsistas desde a criação do PibicJr, em 2002, o professor da UFMS, Ivo Leite, afirma que a transformação na mente de participantes do projeto faz com que novos talentos sejam descobertos.

“De todos os alunos que já passaram pelo PibicJr, posso afirmar com certeza que pelo menos 95% deles estão dentro da universidade ou já se formaram. Estudantes envolvidos com temáticas ligadas à pesquisa chegam no ensino superior com outra cabeça".

Diego propõe que exame mais eficaz seja disponibilizado pelo SUS (Foto: Arquivo Pessoal)
Diego propõe que exame mais eficaz seja disponibilizado pelo SUS (Foto: Arquivo Pessoal)

Um dos frutos do projeto e que hoje enfrenta novos desafios fora do Estado é Gabriel Galdino, 18 anos. O jovem ingressou no PibicJr ainda no ensino fundamental e ganhou reconhecimento e até prêmios em feiras internacionais com um projeto sobre o uso da castanha de caju no combate ao mosquito Aedes Aegypti, transmissor da dengue.

A trajetória de Gabriel deu tão certo que depois de continuar com a pesquisa no Ensino Médio, hoje ele cursa Química na USP (Universidade de São Paulo). A história de Gabriel e de tantos outros que saíram da escola com passaporte carimbado para a universidade inspira jovens como Diego Guimarães Pinheiro, 15 anos.

Ele cursa o 1º ano do Ensino Médio na Escola Severino Queiroz e já desenvolve um projeto na área de Medicina Nuclear e pretende inscrevê-lo em iniciativas como o PibicJr.

“Meu trabalho se resume em mostrar ao público leigo como funciona e os benefícios que o PET SCAN traz. O PET difere de outros exames por apresentar a função metabólica de cada tecido e eu quero mostrar à população que o SUS – Sistema Único de Saúde – oferecer essa tecnologia aos pacientes, principalmente os que fazem tratamento contra o câncer”.

O projeto – Responsável por coordenar no Estado o programa criado pelo Governo Federal e comandado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científica e Tecnológico), o diretor-presidente da Fundect, Marcelo Turine, explica que além de incentivar à pesquisa, o PibicJr tem um papel social importante.

Diretor-presidente da Fundect afirma que anualmente 130 bolsas do projeto são disponibilizadas (Foto: Divulgação/Fundect)
Diretor-presidente da Fundect afirma que anualmente 130 bolsas do projeto são disponibilizadas (Foto: Divulgação/Fundect)

“Não queremos criar novos cientistas, queremos despertar novos talentos nas crianças e nos jovens e que de alguma forma consigam mudar o futuro deles e da sociedade, mediante o incentivo de cooperação entre eles e a pesquisa. Muitos pensam que a universidade, pode exemplo, é um futuro inalcançável”.

Segundo o diretor-presidente, na última seleção feita de bolsistas para o programa, que foi lançada em 2012 e teve o início dos trabalhos no ano passado, 220 bolsas foram ofertadas. Ao todo, 186 alunos continuam desenvolvendo projetos e durante todo o ano passado foi pago R$ 186,8 mil em bolsas para alunos de escolas públicas do Estado.

Um novo convênio com o Governo Federal deve ser fechado nos próximos dias e garante a continuidade do projeto até 2021. Para participar do programa é necessário ser aluno do ensino fundamental, médio ou profissionalizante em instituições públicas e anualmente são concedidas 130 bolsas.

O projeto se estende por um ano e o aluno, que precisa ter disponibilidade para desenvolver 8 horas semanais de atividades relacionadas à pesquisa, recebe uma bolsa mensal no valor de R$ 100. Mais detalhes podem ser obtidos na página da Fundect neste link.

Confira mais detalhes do programa no infográfico abaixo:

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