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Capital

Abraço da mãe e casa erguida pelo pai esperam família presa por 22 anos

Aline dos Santos | 03/01/2014 15:24
Juntos há quase 50 anos, casal teve nove filhos. Um foi levado pela morte, outra pelo "monstro".(Foto: Marcos Ermínio)
Juntos há quase 50 anos, casal teve nove filhos. Um foi levado pela morte, outra pelo "monstro".(Foto: Marcos Ermínio)

O abraço da mãe e uma casa erguida pelo esforço do pai vão aguardar Cira da Silva, 44 anos, quando, junto com os quatro filhos, deixar o abrigo para qual foi levada depois de ser vítima de um crime assombroso: foi mantida em cárcere privado por 22 anos pelo marido.

Tudo se passou no bairro Aero Rancho, em Campo Grande. As agressões e humilhações só tiveram fim em 18 de dezembro, quando o servente de pedreiro Ângelo da Guarda Borges, 58, foi preso.

Agora, do outro lado da cidade, no bairro São Francisco, o casal Adão Sabino da Silva, 75, e Antônia Gina da Silva, 67, esperam pelo retorno da filha. Juntos há quase meio século, perderam dois dos nove filhos. Um foi levado pela morte em acidente de trânsito. O segundo foi Cira, levada por um homem a quem não se cansam de chamar de monstro. “Nós moramos aqui desde 1982. Ela trabalhava aqui perto, mas ele levou minha filha”, conta Adão.

Nas últimas décadas, os contatos foram ficando raros. A mãe diz que até tentava ver a filha, mas era, literalmente, posta para correr da casa. Com medo, Cira pedia que Antônia não entrasse. “Quero encontrar com ela, se Deus quiser”, diz a mãe. Por problemas de saúde, ela não pôde ir à Delegacia da Mulher e, depois, Cira foi levada para um abrigo, um tempo para cuidar dos quebrantos do corpo e da alma. Ao saber da situação, ela conta que chorou muito, “de todo o coração”.

O drama, exposto na imprensa, resultou em doações para a construção de um imóvel de três peças e banheiro. A casa será erguida em frente à do pai. “A gente depende de um caminhão para ir buscar os materiais de construção”, diz Adão. “Também serve uma caminhonete F-4000, a gente faz duas, três viagens”, completa.

Cira também recebeu o convite para morar com a enteada. A filha mais velha de Ângelo denunciou que foi vítima de cárcere e de violência sexual por parte do pai. Mas Adão e Antônia querem Cira por perto.

No abrigo, os meninos ganharam brinquedos. A família conversa por telefone. “A voz dela está bem mais ‘mió’, animada. Mas os meninos estão muito revoltados com o pai. Não querem nem saber. Foi muita judiação”, relata Adão. Os filhos têm 15, 13, 11 e cinco anos.

Segundo relatos, ele espancava a família todos os dias e dava apenas arroz para as crianças comerem, apesar de renda de R$ 4 mil. Dos quatro meninos, dois, de 13 e 11 anos, estudavam. O mais velho e o mais novo não saiam de casa.

A família, que vivia em situação desumana, não tinha água encanada, fazia as necessidades fisiológicas em um buraco no chão e tomava banho no quintal. Fora dos muros altos da casa, as crianças se mostraram admiradas com coisas triviais, como pirulito, bala e biscoito recheado.

Ângelo nega as acusações e fez declarações de amor à esposa. Ele disse que ela se machucou ao limpar a causa e sofrer ataques epiléticos. No dia em que o servente de pedreiro foi preso, Cira tinha grandes marcas roxas nas nádegas. Ele segue atrás das grades.

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