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Capital

Acadêmico de Medicina de MS compara trânsito a estupro e causa revolta nas redes

Lucas Muller fez paródia sobre texto que trata da violência sofrida pela mulher, sempre tendo homem como algoz

Silvia Frias | 12/07/2022 16:21
Postagem que fez paródia de texto sobre estupro causou polêmica. (Foto/Reprodução)
Postagem que fez paródia de texto sobre estupro causou polêmica. (Foto/Reprodução)

Paródia feita por um acadêmico de Medicina da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) causou revolta nas redes sociais e nota de repúdio da atlética do curso. Lucas Muller Mendonça, aluno do 5º semestre, resolveu "brincar" com texto sobre o estupro cometido pelo anestesista Giovani Quintella Bezerra, em São João do Meriti (RJ), fazendo paralelo sobre como as mulheres "sempre" são responsáveis por imprudências no trânsito.

O acadêmico fez a sátira no post da fotógrafa e artista brasileira Tracy Figg, radicada em Toronto, no Canadá. Tracy faz velas, peças em gesso e quadros, muitos deles evocando a beleza e diversidade do corpo feminino. Em postagem ontem nas redes sociais, a artista, que tem 27 mil seguidores, falou de como a mulher é alvo da violência em diferentes fases da vida, tendo como algoz um homem. Ela finaliza dizendo “nem todo homem, mas sempre um homem”.

Postagem da artista e fotógrafa Tracy Figgs nas redes sociais. (Foto/Reprodução)
Postagem da artista e fotógrafa Tracy Figgs nas redes sociais. (Foto/Reprodução)

A postagem rendeu 12,2 mil comentários e um deles causou revolta e chamou atenção em Mato Grosso do Sul. O acadêmico resolveu usar o texto de Tracy como base para dizer que a mulher é sempre a protagonista de imprudências e acidentes de trânsito. “No sinal vermelho, na pista molhada, loiras, morenas, na curva acentuada (...)”. Lucas termina de forma semelhante ao texto da fotógrafa. “Nem toda mulher, mas sempre uma mulher”.

Nota de repúdio publicado pela atlética. (Foto/Reprodução)
Nota de repúdio publicado pela atlética. (Foto/Reprodução)

No próprio comentário, muita gente se revoltou com a comparação e teve quem concordasse, dizendo que não se poderia generalizar. A postagem foi denunciada por outros internautas e chegou até a Atlética Medicina UFMS, que publicou nota de repúdio. “Tais declarações ferem nossa política, que busca sempre por igualdade e se opõe a qualquer tipo de misoginia”, foi a publicação da associação acadêmica, sem citar nome do rapaz. Porém, nos comentários, teve quem denunciasse o rapaz e pedisse providências mais enérgicas.

A reportagem entrou em contato com o acadêmico, que disse repudiar o caso de estupro ocorrido no Rio de Janeiro e que “aquilo não é um ser humano, muito menos um médico”.
Lucas lembrou ter visto a publicação no Instagram da fotógrafa, que também lamentava o ocorrido, mas que “tomou outro rumo”, segundo sua avaliação.

“Diante da conclusão estapafúrdia do poema original, que imputa somente ao homem o crime de estupro, fiz um poema satírico e tão ridículo quanto a conclusão do primeiro. Nele, fiz uma sátira me referindo a infrações de trânsito e ironizei como se só as mulheres cometessem, o que é claramente não é verdade”, respondeu ao Campo Grande News.

Ainda na nota, diz que não comparou crime de estupro e infrações de trânsito. “É óbvio que há homens que cometem infração de trânsito, assim como há, também, mulheres que estupram. E é isso que o meu texto satírico quis expor: o ridículo da conclusão do texto original. Nas redes sociais, também se pronunciou e respondeu a quem o criticou, dizendo que fez texto satírico.

Justificativa dada após publicação. (Foto/Reprodução)
Justificativa dada após publicação. (Foto/Reprodução)

A reportagem entrou em contato com Tracy Figgs, que não quis comentar a paródia. A artista preferiu citar ter recebido vários relatos de mulheres que foram vítimas de abuso e de como é importante falar sobre o assunto.

A reportagem também entrou em contato com a UFMS para saber posicionamento sobre o caso e aguarda retorno para atualização do texto.

O estupro – O médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra, 32 anos, foi preso em flagrante na segunda-feira (11), depois de estuprar paciente enquanto ela estava dopada e fazia cesariana no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João do Meriti, município da Baixada Fluminense.

Funcionários do hospital filmaram o anestesista colocando o pênis na boca de uma paciente quando Giovanni Bezerra participava do parto dela.

Lucas está cursando o 5º semestre de Medicina da UFMS. (Foto/Reprodução)
Lucas está cursando o 5º semestre de Medicina da UFMS. (Foto/Reprodução)


*Matéria atualizada às 16h57 para inclusão da nota enviada pelo acadêmico à reportagem.

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