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Capital

Advogado de réu por morte de criança bate boca com juiz e é expulso de plenário

Por causa de um copo d’água servido a testemunha, Willer Almeida discutiu com Carlos Alberto Garcete

Anahi Zurutuza e Ana Beatriz Rodrigues | 19/05/2023 15:33
Momento que advogado é retirado do plenário por policiais militares da segurança do Fórum. (Foto: Paulo Francis)
Momento que advogado é retirado do plenário por policiais militares da segurança do Fórum. (Foto: Paulo Francis)

Advogado do padrasto acusado de estuprar e matar a enteada de 2 anos, Willer Almeida foi retirado sob escolta de plenário do Tribunal do Júri, no Fórum de Campo Grande, após bate-boca com o juiz Carlos Alberto Garcete, que presidia nesta sexta-feira (19) mais uma tarde de audiências do caso que abalou a Capital. A discussão começou quando o defensor de Christian Campoçano Leitheim, 25, decidiu servir copo de água a testemunha que chorava muito durante depoimento.

Garcete já estava irritado com a defesa do padrasto. Antes da discussão, deu “chega para lá” em Pablo Gusmão, que fez interferências nas perguntas de Camila Garcia de Rezende, advogada de Stephanie de Jesus da Silva, 24, a mãe da criança, também acusada de assassinato. O juiz disse a Gusmão que sabia quando um advogado estava sendo tendencioso e que faria as interrupções necessárias.

Logo depois, quando uma amiga de Stephanie passou a depor, aconteceu a briga. Em determinado momento, a moça se emocionou e retirou o microfone da frente do rosto para chorar. Willer Almeida levantou-se e colocou um copo de água na frente da jovem. Mas, Garcete se irritou. Disse que não havia autorizado o “consolo”. “Pode retirar, não autorizei o senhor. Não está aqui para servir água para as pessoas, aqui o senhor é advogado”.

Juiz Carlos Alberto Garcete durante discussão. (Foto: Paulo Francis)
Juiz Carlos Alberto Garcete durante discussão. (Foto: Paulo Francis)

O advogado, contudo, não obedeceu a ordem e justificou que a moça estava num momento de emoção. Foi aí que começou o bate-boca: 

— O que eu vou fazer, se eu vou fazer trabalho de advogado, se eu vou fazer trabalho de serviçal ou se eu vou limpar o chão, não diz respeito ao senhor — disse Almeida.

— O senhor está completamente enganado. Aqui dentro, o senhor só faz serviço de advogado. Do contrário, o senhor é retirado daqui — respondeu o juiz.

— O senhor pode retirar, pode fazer o que o senhor quiser — retrucou o advogado.

— Por favor, retire esse advogado! — ordenou o magistrado para a segurança.

Veja o vídeo:

Pablo Gusmão acionou a Comissão de Defesa das Prerrogativas da OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil) para defender o colega e considerou a atitude do juiz como abuso de autoridade. Já Garcete suspendeu a tarde de oitivas.

Nesta sexta-feira (19), seriam inquiridas testemunhas de acusação, de defesa e se houvesse tempo, os réus seriam interrogados em juízo.

Frente a frente – Stephanie, presa desde 26 de janeiro, ficou frente a frente, pela primeira vez desde a morte da criança, com familiares e outras testemunhas no dia 17 de abril. Como da primeira vez, nesta sexta-feira (19), a jovem deixou presídio do interior escoltada e entrou no Fórum por acesso restrito.

Christian também foi levado para o Fórum, mas, como no dia 17, não chegou a encarar as testemunhas convocadas. Está sentado para ouvir tudo em sala reservada, atrás da parede onde o juiz se posiciona.

O crime – No dia 26 de janeiro deste ano, a menina de 2 anos e 7 meses deu entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Coronel Antonino, no norte de Campo Grande, já sem vida. Inicialmente, a mãe, que foi até lá sozinha com a garota nos braços, sustentou versão de que ela havia passado mal, mas investigação médica apontou lesões pelo corpo, além de constatar que a morte havia ocorrido cerca de quatro horas antes de chegar ao local.

O atestado de óbito apontou que a menininha sofreu lesão na coluna cervical. Exame necroscópico também mostrou que a criança sofria agressões há algum tempo e tinha ruptura cicatrizada do hímen – sinal de que também sofria violência sexual.

O padrasto responde pelo homicídio com as três qualificadoras e pelo estupro, já a mãe da menina pelo homicídio, como o Christian, mesmo que não tenha agredido a filha, mas porque no entendimento do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), responsável pela acusação, ela se omitiu pelo dever de cuidar.

A morte jogou luz sob processo lento e longo que a menina protagonizou com idas frequentes à unidade de saúde – mais de 30 em 2 anos –, tentativa do pai em obter a guarda após suspeita de que a criança era vítima de agressão e provocou série de audiências públicas, protestos e mobilização para criação da Casa da Criança, bem como soluções ao falho sistema de proteção à criança e ao adolescente em todo o Brasil.

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