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Capital

Agressões física e verbal já são parte da rotina de profissionais da saúde

Audiência pública abordou a violência sofrida por profissionais que trabalham nas unidades municipais de saúde da Capital

Richelieu de Carlo | 22/03/2017 13:21
Vítima de agressão faz depoimento na plenário da Câmara. (Foto: Izaias Medeiros/Câmara)
Vítima de agressão faz depoimento na plenário da Câmara. (Foto: Izaias Medeiros/Câmara)

“Fui vítima de agressão física e verbal por um paciente no mês passado. Dias depois, ele e familiares dele foram atrás de mim no posto de saúde”, relata um enfermeiro de 34 anos, que pediu para não ser identificado, pois o agressor possui passagem pela polícia. “O negócio é grave, não é brincadeira não”.

O depoimento foi dado durante debate sobre violências sofridas por profissionais que trabalham em UPA'S (Unidades de Pronto Atendimento), CRS's (Centros Regionais de Saúde) e UBS's (Unidades da Atenção Básica), em audiência pública na Câmara Municipal de Campo Grande, na manhã desta quarta-feira (22).

“Estamos vivendo uma verdadeira epidemia de violência”, alega o enfermeiro e vereador Hederson Fritz (PSD), que presidiu a sessão. Através de relatórios de enfermeiros realizados após os expedientes, Fritz alegou que acontece um caso por semana, pelo menos, de agressão física a profissionais do setor e, diariamente, é registrado no mínimo um caso de outras formas de violência.

Fritz afirma que a principal dificuldade para combater o problema é que não há um levantamento de quantos casos ocorrem nas unidades de saúde, porque os profissionais não registram as agressões. “Não temos a dimensão de quanto de violência ocorre no serviço público”.

A depender dos depoimentos de servidores presentes, a situação é crítica. “Agressões são parte do cotidiano já”, diz o agente de saúde Wilson Lima da Silva, 42 anos, que trabalha na função há quatro anos. “O mais comum no nosso caso (agentes) são os xingamentos. A gente vai na casa das pessoas, que não querem nos atender ou nossa presença. Nos empurram.”

“Tem caso de colegas que já foram ameaçadas com cabo de vassoura, quando foi atender uma pessoa com problemas mentais”, prossegue Wilson. O momento de maior irritação, segundo ele, ocorre quando pede para alguém ir à unidade de saúde. “Elas ficam irritadas só em ter que ir, a maioria nem vai, fala que não vale à pena, que só vão ficar esperando horas no posto”.

"Vivemos epidemia de violência", afirma o enfermeiro e vereador Hederson Fritz. (Foto: Richelieu de Carlo)
"Vivemos epidemia de violência", afirma o enfermeiro e vereador Hederson Fritz. (Foto: Richelieu de Carlo)

Horas de espera, falta de medicamentos e materiais para exames, além de mau atendimento são as principais causas de irritação em pacientes, que acabam ficando predispostos a agir de forma violenta, segundo relatos apresentados durante a audiência.

Edinalda dos Reis, moradora do bairro Estrela Dalva, depôs como representante dos usuários de postos de saúde. Como coordenadora dos moradores do bairro, ela disse ter sido informada de diversos casos de agressões que aconteceram na unidade da região. Ela defende que a culpa da violência não é do paciente nem dos profissionais, mas sim dos governos federal, estadual e municipal que não investem de forma suficiente na Saúde.

“Se houvesse investimento correto, não haveria esses problemas. Dinheiro não é só para remédio, precisam investir na estrutura. Os pacientes já vão para os postos estressados, pois sabem que vão ter que esperar e ser mal atendidos”, relatou Edinalda.

As agressões acabam levando a outro problema, o afastamento de trabalhadores do setor de saúde por causa de problemas físicos e psicológicos, como aconteceu com o enfermeiro cujo relato abriu esta matéria. “Hoje estou afastado com problema no ombro por causa das agressões e passo por tratamento psiquiátrico. Agora tenho ansiedade e tenho problemas para dormir”, lamenta. Foi a primeira vez que ele foi agredido fisicamente em três anos como servidor da saúde.

Para tentar enfrentar essa situação o secretário municipal de Saúde, Marcelo Vilela, declarou que a pasta está fazendo levantamento para melhor “acolher” pacientes, porém, é incisivo: “nada justifica agredir o servidor”.

Já o secretário de Segurança da Capital, Valério Azambuja, prometeu que, a partir de 1º de abril, as unidades de saúde que funcionam 24 horas terão proteção de dois guardas municipais diariamente e, as demais, contarão com um guarda, mesmo aquelas que não contam com nenhuma proteção atualmente.

Audiência pública na manhã desta quarta-feira, na Câmara Municipal. (Foto: Izaias Medeiros/Câmara)
Audiência pública na manhã desta quarta-feira, na Câmara Municipal. (Foto: Izaias Medeiros/Câmara)
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