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Capital

Aos 82, Cândido sobreviveu a 24 horas no mato: “o pior foi a sede”

Ele até tentou dormir durante a noite, mas o medo, dor no corpo e frio fez com que as horas passassem mais devagar

Bruna Kaspary | 18/07/2018 11:26
Cândido ficou 24 horas esperando por socorro (Foto: Saul Schramm)
Cândido ficou 24 horas esperando por socorro (Foto: Saul Schramm)

"Passou 24 horas e eu não senti fome nenhuma, mas a sede foi o mais difícil, ficar esse tempo todo sem água e com sol na cara era demais". Assim o militar aposentado Cândido Pereira, de 82 anos, traduz o tempo que ficou em área de mata em Campo Grande, à espera de socorro. O idoso tropeçou em um galho de árvore e não conseguia mais caminhar, na manhã de segunda-feira (16). Ele só foi socorrido na manhã de ontem, pelo Corpo de Bombeiros.

Diabético, Cândido não pode ficar muitas horas seguidas sem ingerir algo, e a preocupação da família, durante as buscas, era justamente que ele pudesse ter passado mal e ficado desorientado.

Em casa, o idoso contou ao Campo Grande News que resolveu sair de casa naquele dia porque não tinha o que fazer, e, para cuidar de suas plantas, foi pegar um pouco de argila. Para ele, não adiantaria muito algum dos filhos ter o acompanhado. "Se é para acontecer, não adianta", comenta.

"No primeiro trecho que entrava para o mato eu entrei. Não cheguei a ir lá no meio, quando eu tropecei e bati o rosto no chão", relembra Cândido. Ele fala que logo tentou levantar, mas não conseguiu e preferiu ficar sentado pedindo ajuda.

"Eu gritava, gritava por ajuda, mas ninguém aparecia, foi quando eu comecei a me arrastar para tentar chegar mais próximo à rua. Tinham duas rampas, a primeira eu consegui passar ainda de dia", lembra.

Para evitar sentir mais dores, o idoso fica com as pernas para cima, apoiada em uma cadeira (Foto: Saul Schramm)
Para evitar sentir mais dores, o idoso fica com as pernas para cima, apoiada em uma cadeira (Foto: Saul Schramm)

Durante a noite, ele resolveu tentar dormir, mas o medo de não ser socorrido, as dores que sentia pelo corpo e o frio durante a madrugada não permitiram. "Eu fui me arrastando até perceber que as luzes estavam acendendo, quando escureceu de vez eu coloquei umas pedras na cabeça, no começo foi confortável, mas depois começou a doer".

Sem conseguir dormir, seu Cândido voltou a tentar superar a segunda rampa quando o dia clareou. "Eu consegui passar da metade dela, mas perdi as forças e comecei a gritar de novo por ajuda, o que me salvou foi que aquele rapaz passou por mim mais atento", relembra.

O idoso foi encontrado por um catador de recicláveis, que, segundo ele, tentou pedir ajuda de diversos carros que passaram pela rua, mas não atenderam a súplica dele.

Quando o primeiro carro parou, para a surpresa do idoso, era a dona do restaurante onde ele costumava pegar almoço. "Tudo o que eu pedia para ela é que me deixasse fazer um telefonema para a minha filha. Eu precisava ir para casa", se recorda.

Cândido foi socorrido em seguida pelo Corpo de Bombeiros, que estava fazendo buscas por ele em uma região próxima, onde possivelmente ele iria buscar a argila para suas plantas.

No hospital ele fez diversos exames para saber se havia alguma fratura ou lesão grave e depois de seis horas que tinha sido socorrido já estava em casa novamente com os filhos, que também não conseguiram dormir naquela noite.

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