ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 19º

Capital

Após 2ª morte por racismo, família pede condenação exemplar de assassino

Julgamento do policial militar suspeito de assassinar o homem de 30 anos é realizado nesta quarta-feira

Liniker Ribeiro e Mirian Machado | 17/04/2019 14:34
João Nereu Nobre, policial militar aposentado suspeito de crime (Foto: Henrique Kawaminami)
João Nereu Nobre, policial militar aposentado suspeito de crime (Foto: Henrique Kawaminami)

Mãe de seis, Cleonice Rocha da Silva enfrenta pela segunda vez a dor de lutar por Justiça após dois filhos serem assassinados por questões que envolvem racismo. Depois da morte do primeiro, em 2008, a dona de casa enfrentou o assassinato do segundo filho em 2016. Três anos após o crime, o desejo dela é de que a pena para o suspeito de assassinar Isaías da Silva Farias, de 30 anos, seja maior do que a aplicada pela Justiça no primeiro caso.

O julgamento do segundo caso é realizado nesta quarta-feira (17). Policial aposentado, João Nereu Nobre, de 59 anos, responde pela morte de Isaías após ser atingido por dois disparos de arma de fogo. Além de homicídio qualificado por motivo torpe, o réu também é julgado por injúria racial e por duas tentativas de homicídios, contra outros dois filhos de Cleonice.

Na noite do crime, dia 23 de abril de 2014, Isaías e dois irmãos haviam saído do serviço e foram até uma feira próxima ao bairro onde moravam. Logo em seguida, resolveram parar em um bar na mesma rua, onde tudo aconteceu.

Em depoimento, a dona do estabelecimento comercial revelou que o réu chegou em uma motocicleta, já sob efeito de álcool, e estacionou em cima da calçada, criando confisão. Depois, ao usar o banheiro, o homem ainda teria voltado reclamando das instalações e perguntado aos irmãos o que eles achavam. “Os meninos discordaram e ele ainda falou: pra vocês que são pretos e não tem inteligência, qualquer coisa serve”, revelou a mulher hoje durante o julgamento em Campo Grande.

Mesmo após a agressão verbal, os três homens teriam tentado afastar o suspeito e evitar qualquer tipo de briga. Nereu então continuou xingando e falando alto frases de injúria racial, sempre com ironia, revelou a proprietária, momento em que a vítima se levantou e teria dado um empurrão do PM aposentado.

Os outros dois irmãos então ajudaram acalmar Isaias, enquanto o suspeito pagou a conta e deixou o local de moto. Minutos depois, as três vítimas também decidiram ir embora, mas quando tentavam deixar o local, foram abordados pelo suspeito que voltou armado.

De acordo com a acusação, Nereu chegou ao local sacando a arma e foi atirando. Isaias teria tentado desarmar o PM, mas logo foi atingido por dois tiros. Em seguida, tiros também foram disparados contra os irmãos.

Diferente do que sustenta a defesa, de que toda a ação seria por legítima defesa, a acusação chegou a apresentar, durante o julgamento, a gravação da ligação que o filho do suspeito fez para a polícia, logo que o pai chegou em casa para pegar o revólver. De acordo com a promotora, Nereu chegou a dizer ao filho “eu vou fazer uma besteira”, o que indicaria a intenção em cometer o crime.

“Ele falou que meu filho deu um tapa nele e os outros meninos também bateram. Mas na época o delegado pediu para fazer exame de corpo de delito e ele mesmo não quis. A condenação dele é o mínimo. Meu advogado é Deus e estou sentindo a dor do racismo. Tiraram a vida dos meu filhos e um pedacinho de mim”, afirmou Cleonice.

Ainda segundo a mãe, os filhos permaneceram calmos justamente porque sabiam do que aconteceu com o irmão em anos anteriores. “O Isaias fazia tudo pela família. Amadureceu rápido, vivia na minha casa e ajuda todo mundo da comunidade”, revelou.

De volta a 2007 - Há 11 anos, Cleonice perdeu outro filho, na avaliação dela, também por racismo.

O comerciante Geraldo Francisco Lessa foi condenado a 15 anos de prisão em 2011 pela morte de Anderson da Silva Faria, de 20 anos.  Durante o julgamento, a namorada do rapaz, e sobrinha do assassino, disse ter certeza de que o tio matou Anderson por racismo, pela forma como atacava pessoas negras e pelas ofensas recorrentes contra o namorado.

Durante o depoimento, a jovem contou que não tinha dúvidas sobre o motivo do crime. "Pelo que conheço dele e pelo que ele demonstrava. Sempre que algum negro entrava, ele fazia comentários sobre o cheiro ou a cor."

O assassinato ocorreu no bairro Parque do Sol, Anderson passada de moto em frente à padaria de Geraldo, foi ofendido e ao voltar para tirar satisfações foi atingido por tiros.

Nos siga no Google Notícias