Após chegadas e partidas, estações são retrato do abandono
"Era a nossa última relíquia, acabaram com tudo”, lamenta vizinha de estação ferroviária
É o fim da linha para a estação ferroviária de Indubrasil. Se em 2009, a estrutura no distrito a 20 quilômetros de Campo Grande ganhou cores novas e injeção de R$ 1,6 milhão para renascer com o Trem do Pantanal, julho de 2017 reserva um cenário de abandono, com diversos tons de cinza do último incêndio embotando a visão, enquanto o vento forte faz estalar a precária estrutura metálica.
Na entrada, portão aberto e esqueleto de uma guarita, de onde foram furtadas tomadas e lâmpadas. O chão é forrado com certificados em branco e de material de divulgação com o título “Viajando nos trilhos da nossa história”.
Na recepção da estação, ornada por uma reprodução do Trem do Pantanal, as pichações se espalham por todo o ambiente. O piso é tomado por cacos de vidro. Na plataforma dos viajantes, apenas dois jovens, que logo se afastam ao avistarem a reportagem.
Do outro lado do que foi a nova estrutura, o imóvel carbonizado no incêndio da última sexta-feira (dia 30) ainda traz uma placa que o identifica como patrimônio da rede ferroviária. Mas, no entorno, tudo virou fuligem e destroços.
A estação é uma claro retrato de perda do dinheiro, mas, para Idalina Benites Rafael, 54 anos, o abandono também mata um pouco de sua história. “Na sexta-feira, tocaram fogo nela. Era a nossa última reliquia, acabaram com tudo”, lamenta a dona de casa sobre a sorte do local que é seu vizinho por toda uma vida.
Das lembranças, saltam as viagens com a mãe, a farofa de galinha especialmente preparada para o passeio nos trilhos e a imagem da Maria Fumaça. “Podiam fazer um museu. Nem tive coragem de ir lá olhar depois do incêndio”, conta. Ainda com tristeza, relata que a estação virou ponto da malandragem.
O Trem do Pantanal voltou aos trilhos em 9 maio de 2008. O trajeto inicial de Indubrasil a Miranda, com pretensão de chegar a Corumbá.


Já em 2012, a estação de Indubrasil seria excluída do percurso, sendo o transporte dos passageiros feito pela rodovia até Aquidauana. Com uma reviravolta, o trecho foi mantido, mas apenas por mais dois anos. O sonho acabou em 2015, quando o Trem do Pantanal saiu, em definitivo, dos trilhos.
Esquecida – Um prédio esquecido no Centro de Campo Grande: eis a inalterada condição do que foi chamado durante muito tempo de antiga rodoviária.
Depois de abrigar o terminal de ônibus, que testemunhou por 37 anos as partidas e chegadas, o Centro Comercial Condomínio Terminal Oeste permanece à espera de um destino que seja indutor de crescimento.
Desde 2010, quando a rodoviária foi desativada, já lhe desejaram restaurante popular, incubadora de projetos, duas universidades, local de atendimento do Tribunal de Justiça, Câmara Municipal, terminal, Camelódromo, polo de confecção e shopping. Contudo, apenas poucas lojas resistem abertas.
“Aqui é esquecido pelo poder público. É como trocar de roupa, parece que mudou, mas não mudou nada”, afirma Sandoval Miguel Souza, dono de loja no local há 22 anos. A prefeitura tem 6,6 mil dos 25 mil metros quadrados do local.
Vídeo mostra abandono de estação ferroviária:
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