Campanha arrecada R$ 9,6 mil para tratar câncer que não existia
Para membros de igreja, rapaz chegou a falar de cirurgia e que doença estava em metástase

O administrador Matheus Paulo Rodrigues Ajala, de 24 anos, precisou se explicar, na tarde desta quarta-feira (30), após familiares e amigos descobrirem mentira envolvendo campanha para arrecadar dinheiro para tratamento de doença, que começou pedindo R$ 4 mil e chegou a coletar perto de R$ 10 mil. Matheus, há cerca de um mês, afirmava ter descoberto câncer no pâncreas e fígado, e chegou a fazer publicações sobre internação e a simular, inclusive com fotos, a realização de cirurgia a amigos e familiares.
Porém, do dia 26 para cá, pessoas ligadas ao rapaz descobriram que tudo não passou de mentira. Com as doações, Ajala conseguiu arrecadar cerca de R$ 9,6 mil.
A mobilização foi grande na igreja católica frequenta por ele, a ponto de o padre responsável, Ricardo Pereira da Silva, da Paróquia São João Batista, divulgar nota orientando vítimas da invenção a denunciar o caso à polícia.
Se alguém se sentiu lesado diante deste fato, recomendo vivamente a noticiar as autoridades policiais, dando os devidos encaminhamentos", orienta o religioso.
O padre cita que familiares chegaram à conclusão do "possível estelionato ocorrido, utilizando-se de enfermidade para surrupiar pessoas de boa vontade e caridosas".
Ainda de acordo com a nota, houve reunião de família na qual "o mal realizado" foi confessado.
Enganados - “Fizemos um acampamento na mesma comunidade, na época ele estava com alguns problemas e muita gente se comoveu por isso. Ele ficou doente, teve diabetes, um monte de coisa, e pediu dinheiro para ajudar ele nesse período, só que não tanto como agora”, afirmou uma conhecida de Matheus, que pediu para não ser identificada.
Ela, inclusive, contou que por saber da primeira doença, acabou se compadecendo com os pedidos que vinham sendo feitos pelo rapaz, pelas redes sociais. “Ele falou que deu câncer e que precisava de dinheiro, que tinha 90% de chances, fez uma campanha e ficamos comovidos. Todo mundo começou a doar e pedir doação”, relata.
Boa parte das pessoas acompanhavam a rotina, e o período no qual o jovem afirmou estar em tratamento, por meio de publicações no Facebook. Foi em seu perfil na rede social que ele chegou a fazer postagens indicando período de internação.
“Amigos e amigas, estou indo para o centro cirúrgico fazer uma cirurgia de emergência, ainda preciso que continuem me ajudando com as doações, mande para hm amigo, para família, nos grupos de Whats, conto com vocês, até aqui o senhor me sustentou!”, disse Matheus, em publicação com foto indicando que o jovem esta hospitalizando, tomando soro.
Mais tarde, em outra publicação no perfil oficial do jovem, mensagem indicava que o suposto médico do então paciente comunicava aos amigos e familiares o início dos procedimentos para realização da cirurgia. “Sou o Drº Alex, oncologista, o paciente se encontra estável, esta sendo sedado pela equipe de anestesiologista, se tudo o correr bem a mesma pode ter duração de 1hora e 1h30min” (sic), dizia a postagem.
Desconfiados, familiares e amigos percorreram hospitais da cidade em busca de informações sobre o paciente, que teria sido internado na última segunda-feira (28), afirmam pessoas próximas. Porém, nenhum registro de internação foi encontrado.
Após ser localizado, Matheus foi orientado a desmentir as informações. Hoje, em novas publicações, o rapaz se desculpou com seguidores. “Olá pessoal, estou aqui para tratar de um assunto delicado com vocês, referente as doações que me foram feitas sobre um “câncer” que eu havia publicado, venho por meio desta nota pública informar que eu não fiz nenhuma cirurgia e que não tenho câncer”, assumiu o jovem.
Esse dinheiro tinha sim um intuito de arcar com novos exames e medicamentos que provavelmente eu terei que fazer referente a Polineuropatia periférica aguda dolora, então aqui peço publicamente desculpa pelo meu erro”, escreveu.
Na publicação, o jovem ainda afirmou estar “a procura de um Padre pra fazer minha confissão”, como diz o ditado mentira tem perna curta”. Sobre o valor arrecadado, R$ 9,6 mil, o rapaz afirmou ter recebido a ideia de doar para uma instituição ou ressarcir pessoas que fizeram a doação.
Resposta – A reportagem entrou em contato com Matheus Ajala, por telefone. Na ligação, ele confessou ter inventado a doença e até mesmo o médico citado em uma de suas publicações. Afirmou ainda, que o intuito do dinheiro arrecado era arcar com valores de medicamentos e tratamento de outra doença.
“Tenho essa doença degenerativa, não tem cura, ficou sim esse mal entendido, mas já entramos em contato com todas as pessoas que fizeram a doação e estamos devolvendo o dinheiro, doaram achando que era para um câncer, mas não era”, cita.
Em outro trecho, o jovem revela fazer tratamento por polineuropatia há pouco mais de 1 ano, que chegou a ser atendido no Hospital Regional, em Campo Grande, mas que teve o tratamento paralisado devido à pandemia de covid-19. O hospital é público.
“Estou pedindo desculpas para todas as pessoas que se sentiram lesadas”, comentou. “Foi um equívoco ter colocado como câncer”. “Eu sabia que não era um câncer, de certa forma foi sim uma mentira, fiz uma publicação no Facebook pedindo desculpas. Realmente não era para um tratamento de câncer, mas sim para o tratamento da neuropatia”, afirmou.
Sobre as fotos indicando internação, o jovem diz que as imagens eram “ilustrativas”. “Postei várias fotos, uma era de hospital, outra que eu estava no retiro da igreja, em nenhum momento eu citei que estava em tal local”, relatou. O jovem ainda afirmou sofrer de depressão e fazer tratamento.