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Capital

"Cifrão de sangue": a briga milionária que acabou na execução com fuzil AK-47

Promotor Douglas Oldegardo explicou a briga envolvendo Jamil Name Filho pela posse de fazenda

Silvia Frias | 19/07/2023 12:22
No telão, o advogado Antônio Augusto de Souza Coelho, em depoimento à Justiça (Foto: Henrique Kawaminami)
No telão, o advogado Antônio Augusto de Souza Coelho, em depoimento à Justiça (Foto: Henrique Kawaminami)

O plano de execução destinado ao ex-policial militar Paulo Roberto Teixeira Xavier começou a se desenhar após desentendimento milionário entre Jamil Name Filho, o “Jamilzinho”, e o advogado Antônio Augusto Souza Coelho. “É cifrão com cheiro de sangue; o sangue de Matheus começou a ser derramado aqui”, disse o promotor Douglas Oldegardo.

Coube a Oldegardo explicar o burocrático problema que começou entre Jamilzinho e Coelho, a partir da negociação da Fazenda Figueira, localizada em Jardim, e que inicialmente pertenceu à Associação das Famílias para Unificação e Paz Mundial.

Promotor Douglas Oldegardo inicia explanação no Tribunal do Júri (Foto: Henrique Kawaminami)
Promotor Douglas Oldegardo inicia explanação no Tribunal do Júri (Foto: Henrique Kawaminami)

Entre 2008 e 2009, o advogado recebeu procuração da associação para negociar a fazenda. O promotor explica que Coelho agiu em causa própria: como representante da entidade, fechou negócio com empresa que pertencia a ele. “Foi negociação dele para ele próprio”.

Posteriormente, Jamilzinho demonstrou interesse em comprar a fazenda, o que é feito por meio da empresa da família, a Trianon. O promotor desenha a situação: como a fazenda tem vários imbróglios, como multa por problemas ambientais, dívida de impostos com Receita Federal e penhoras, o acerto foi que Jamilzinho deveria assumir essa conta e, a medida que os valores eram pagos, as cotas da propriedade eram repassadas a ele.

Jamil Name, Vladenilson Olmedo e Marcelo Rios durante julgamento (Foto: Henrique Kawaminami)
Jamil Name, Vladenilson Olmedo e Marcelo Rios durante julgamento (Foto: Henrique Kawaminami)

O problema começou quando houve mudança na diretoria da associação, que questionou a negociação inicial, feita por Coelho, como procurador, com empresa de propriedade dele. No efeito cascata, também travou a compra feita por Jamilzinho.

A discussão foi parar em Câmara de Arbitragem, que é meio privado para resolver conflitos, como forma alternativa à Justiça pública. Oldegardo explicou que foram duas negociações, sendo que somente na segunda chegou-se a acordo, em 2018. A compra inicial, feita por Coelho, foi considerada legal e, com isso, a posterior venda a Jamilzinho.

Neste trecho da explicação, o promotor exibe no telão um vídeo do depoimento de Antônio Augusto Souza Coelho, nome falado desde o primeiro dia do júri. No interrogatório, o advogado afirma que ainda havia um saldo a ser pago para associação. Essa conta, afirmou Coelho, deveria ter sido assumida pela empresa Trianon.

O valor da conta não fica claro. Oldegardo disse que, durante investigação, especulou-se que seria de R$ 30 milhões; nos interrogatórios, Jamilzinho falou quantia menor e, ontem, não quis responder à pergunta, feita pela assistente de acusação, Cristiane de Almeida Coutinho.

Oldegardo chegou à conclusão: “Cifrão com cheiro de sangue; o sangue começou a se derramar aqui, o sangue de Matheus começou a ser derramado aqui”.

Briga – Segundo a promotoria, a relação entre Antônio Augusto e Jamil Name Filho azedou de vez em um jantar na casa de Jamil Name, patriarca da família.

Oldegardo mostra vídeo com o depoimento do então desembargador Joenildo Barbosa Chaves, que estava presente no jantar. Ele diz que foi chamado para ajudar na negociação entre os dois. “Tinha facilidade a conciliação”. No menu, bacalhau e vinho.

Chaves diz que a conversa começou amena, passou por política até chegar ao ponto crucial: a dívida envolvendo a fazenda. O debate se 'acalorou' e terminou sem acordo. “Houve alteração dos dois lados”.

O promotor interrompe o vídeo e fala que, no relato de PX, que também estava lá, Jamilzinho estaria armado e tentado apontar a arma para o advogado. No relato do desembargador, não fica claro que ele estava armado ou não, mas ele se coloca na frente de Coelho e fica atrás de uma das pilastras. Depois disso, o advogado é levado para hotel e parte para São Paulo, onde se interna, com problemas de saúde.

Em outro trecho do depoimento de Antônio Augusto Souza Coelho, ele conta que ficou acertado que um advogado seria contratado para assumir a negociação entre eles, já que não havia mais qualquer relação de amizade. Também diz que Jamilzinho estava armado na ocasião e que só não apontou a arma por conta da intervenção de familiares.

Coelho afirma que já viu Jamilzinho fora de si em outros momentos, citando até uma vez que teria apontado a arma para o irmão, em 2014. Quem o dominou, na ocasião, foi PX, que ainda trabalhava para os Name. Conforme a denúncia, o fato de PX ter passado a trabalhar para Antonio Augusto teria sido considerada a traição que assinou a sentença de morte.

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